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Uma escolha acertada

O processo de industrialização de um Estado carente de recursos de investimento, como o Ceará, requer a participação tanto da iniciativa particular como dos poderes públicos, de maneira a compatibilizar ações tendentes à superação das dificuldades, em uma convergência de esforços, não raro concretizada em personalidades com atuação na política e na administração concomitante à direção de empresas na área econômica.

A partir do decênio de 1961-1970, houve, naturalmente, relacionamento intenso das autoridades com os dirigentes das entidades representativas do empresariado, pois, se esse aplicava a sua criatividade, vocação ou capacidade de trabalho em aproveitar os recursos naturais e em produzir e fornecer bens, ou em prestar serviços, aquelas não podiam manter-se no poder à custa da demagogia, mistificando o povo, vendo-se obrigadas a tudo fazer para assegurar aos cearenses o emprego, a subsistência e a prosperidade real.

Aquele relacionamento estreitou-se, ainda mais, na presidência do Engenheiro Francisco José de Andrade Silveira na Federação das Indústrias do Estado do Ceará, prenunciando a sucessão dele pelo próprio Secretário da Indústria e do Comércio do Governo do Estado, dr. José Flávio Leite Costa lima.

Era, igualmente, um nome novo na entidade, cuja diretoria jamais integrara, precisamente por se dedicar mais à atividade política e administrativa, não obstante um empreendedor, na quarta geração de uma estirpe, cujas origens podem ser remontadas, no entanto, ao início da colonização do baixo Jaguaribe, onde os Gracismões, descendentes do comandante holandês Joris Garstman, foram dos primeiros sesmeiros, criadores e proprietários das celebradas oficinas de carne do Ceará, beneficiadores exportadores também do couro.

A família Costa Lima é um dos ramos dos Gracismões, descendentes, por outra parte, de João de Lustau, chamado o Navarro, por ser dessa nacionalidade, e estabelecido no Rio Grande do Norte nos albores do Século XVII por volta, mesmo, de 1600, transferindo-se muitos de sua descendência para o Jaguaribe, que povoaram e desenvolveram, sendo natural que, na segunda metade do Século XIX, Alexandre Reinaldo da Costa Lima fosse um dos aracatienses de mais posses. Finda a guerra contra o ditador Solano López, do Paraguai, e prevendo ele um futuro promissor para a economia brasileira e, em particular, para a cearense, Constituiu, e registrou no Tribunal do Comércio sediado na Cidade do Recife, a firma Costa lima & Irmãos, cujas atividades se desenvolveram ao longo de um século.

O comércio exterior acenava com uma larga perspectiva aos Empreendedores, com lucros consideráveis, pelo que, de início, a nova organização restringiu-se a comprar algodão, cera de carnaúba, couros e peles e outros efeitos da terra (como então se dizia) e a exportá-los, pelos portos de Aracati e de Fortaleza, fazendo o inverso com tecidos e mais gêneros de importação, comercializados em quase toda a zona jaguaribana.

Em poucos anos, a firma, na qual Alexandre Reinaldo fora sucedido pelos filhos Alexandrino e Pompeu Costa Lima, se tornara uma das mais bem sucedidas do Ceará (não obstante as secas periódicas, tendo sido alterada, com o falecimento do primeiro, em 1910, a razão social, com a admissão de Myrtil Meyer como novo sócio, para Costa Lima & Myrtil, e, em seguida, fundada uma filial em Fortaleza, a fim de fortalecer as atividades respectivas por ocasião de nova seca (1915).

De Alexandrino Costa Lima foi filho Alexandre Matos Costa Lima, destinado à vida sacerdota, mas que abandonou o Seminário da Prainha, em Fortaleza, adquirida uma sólida formação, com a qual influenciaria a sua prole, da qual faria parte o dr. José Flávio Costa Lima, cuja biografia, nesse tocante, repete a do engenheiro Francisco José de Andrade Silveira, cujo pai freqüentara por conseguinte, ministrando um ensino de qualidade superior, e desautorizando, frontalmente, conclusões apressadas de quem conceituou os dirigentes das entidades empresariais do Ceará de nível intelectual deficiente.

Pela parte materna, descende o Dr. José Flávio Costa Lima de outra família aracatiense igualmente empreendedora, da qual foi expoente o médico e industrial dr. José Leite Barbosa, que, no final do século XIX adquirira do dr. Antônio Saboia de Sá Leitão a fábrica de tecidos por esse instalada na referida cidade jaguaribana, com o nome de "Popular Aracatiense".

Vê-se que, à semelhança do engenheiro Thomás Pompeu Netto, está ligado o dr. José Flávio Costa lima, em linha direta de descendência, a um dos pioneiros da indústria de fiação e tecelagem do Ceará, por conseguinte aos princípios do processo de industrialização deste Estado, e é herdeiro de uma tradição, da qual pareceu afastar-se, na sua formação e na primeira atividade profissional.

Nascido no Aracati em 16 de julho de 1921, as condições da família permitiram que ele fosse estudar no longínquo Estado de São Paulo, a exemplo, mais uma vez, de seu antecessor na presidência da FIEC, com a diferença que, ao invés de cursar Engenharia, preferiu bacharelar-se em Direito, atraído pela fama da tradicional escola das Arcadas, na capital paulista, onde, aliás, se bacharelara o escritor José de Alencar. Atração maior, no entanto, foi a da política, por pretender continuar a atuação do avô Alexandrino e do pai Alexandre, que haviam sido prefeitos do Município de Aracati, considerando mais fácil atingir esse objetivo, e ter melhor desempenho na função pública, com o titula de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais, cujos portadores, multiplicados após a criação da Faculdade Livre de Direito do Ceará, dominavam, então, a política estadual.

Concluído o curso em 1944, retornara à terra natal, integrando-se na empresa familiar em Fortaleza, com projeção imediata na classe empresarial, pois, antes de findo aquele decênio, figurara, como 1º secretário, do Conselho Executivo da Associação Comercial do Ceará, uma das mais acatadas diretorias da veterana entidade em todos os tempos de sua existência, dela fazendo parte Fausto Augusto Borges Cabral (presidente), Raimundo Oliveira Filho, Edgar Sã, Expedito Machado da Ponte, Carlos Jereissati, Manuel Gentil Porto, Pedro Carlos Braga e José Carneiro da Silveira.

Participara, pois, ativamente, da movimentação das classes produtoras por volta de 1950 para unir políticos e empresários em um grande esforço para assegurar a continuidade do progresso do Ceará, uma vez que se fizeram sentir os efeitos negativos para o Estado em eferência da nova política do Governo Federal para o Nordeste, a partir de então denominado "Polígono das Secas" (com a inclusão da Bahia). Depois de haver presidido o Centro dos Exportadores, no biênio 1955-1956, decidira ingressa, na política, a fim de lutar por soluções para a problemática cearense, correspondendo o eleitorado a esse desejo, de modo a sair eleito para a Câmara Federal em dois pleitos sucessivos, em 1958 e em 1962, na legenda da União Democrática Nacional, de oposição ao Governo.

Na referida Casa do Congresso Nacional sobressaíra-se como um dos parlamentares mais dignos e bem informados sobre os assuntos econômicos em geral, valendo-lhe esse conceito a escolha para a importante Comissão de Economia, na qual teve oportunidade de relatar os projetos de implantação da indústria automobilística, de remessa de lucros e participação do capital estrangeiro nas empresas brasileiras, da Superintendência Nacional de Abastecimento e Preços - SUNAB da Comissão de Financiamento da Produção e vários outros visando ao desenvolvimento do País.

Dedicara atenção especial aos problemas do Ceará e da região nordestina, na presidência da Comissão do Polígono das Secas, tendo sido o relator, aliás, do 1º Plano Diretor submetido pela SUDENE à aprovação do Congresso Nacional, ao tramitar na Câmara dos Deputados esse documento elaborado pela equipe do economista Celso Monteiro Furtado, cujas impropriedades, comprovadas na execução, foi impossível evitar.

Além dos pareceres mencionados, ocupara a tribuna, freqüentemente, para discorrer sobre assuntos de interesse nacional, regional e estadual, notadamente em prol da reforma tributária e contra a discriminação orçamentária, a favor da eletrificação do Ceará pela Companhia Hidro-Elétrica do São Francisco-CHESF, da indenização das vítimas do arrombamento do açude Orós, do reaparelhamento dos portos de Fortaleza e de Aracati, da garantia de preços mínimos e financiamento aos produtores de algodão, cera de carnaúba e cereais, do apoio à indústria salineira, da ampliação e melhoria da instrução pública, etc.

Ademais, fora distinguido com a suplência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, sem chegar a sobressair-se, no entanto, na discussão da matéria de natureza constitucional e jurídica em geral, devido à sobrecarga de trabalho nas duas Comissões citadas, de que era um dos titulares, posicionando-se no plenário sempre firmemente em defesa da normalidade do funcionamento das instituições democráticas.

O seu pensamento está exposto em um manifesto divulgado no ano da reeleição para o legislativo Federal (1962), com a epigrafe O momento nacional, assim apresentado:

O principal problema político da nossa época, característica essencial da conjuntura nacional, é a formação de uma consciência coletiva em luta pelo desenvolvimento econômico.

Imbuído de sentimentos nacionalistas, sem os quais o desenvolvimento não será possível, o povo, pouco a pouco, liberta -se da apatia e das frustrações decorrentes da estagnação econômica e cultural em que se encontra.

Após afirmar que o brasileiro deixou de ser "...indiferente, omisso e neutro, como se existisse apenas por acidente..." e passou a exigir produção e a reclamar o progresso, tendo sido, no Ceará, derrotados, por insensíveis àquelas exigências e reclamações, os diversos governos que se sucederam, a partir de 1945, contém o manifesto esta interessante e oportuna previsão:

O "coronel" vive seus últimos dias. O demagogo perde seguidores. Firma-se, na compreensão geral, como papel do Estado e dever dos administradores, a adoção de uma política de desenvolvimento que, promovendo a criação da infra-estrutura de serviços básicos, proclame a decisão de aumentar as inversões industriais - que têm sido a técnica do desenvolvimento de outros povos - bem como de elevar o nível da produtividade do setor agro-pecuário.

Prossegue o documento em referência, sobre a conjuntura cearense, caracterizada como "... a de uma economia primária... ", acusando o poder público estadual de se omitir, ao ponto do Estado apresentar inexpressivo índice de renda per capita da região, somente superior ao do Piauí, e argumentando com a impossibilidade da obtenção de investimentos federais se não houvesse uma participação local de, pelo menos, 30% dos recursos necessários, para enfatizar, em continuação, no subtítulo Mentalidade Progressista:

O desenvolvimento do Ceará não será, tampouco, fruto dessa política distributiva que os nossos representantes federais tomam pública, ao fim de cada ano financeiro, à custa de inflação de despesas no orçamento da República, com o que recebem aplausos de néscios e aproveitadores.

Ele resultará da nossa determinação de introduzir mudanças fundamentais nessa mentalidade, ao par das mudanças fundamentais que se impõem na estrutura político-econômica do Ceará, através de um planejamento governamental, no qual se proclame a decisão de aumentar o montante das inversões destinadas a elevar a produção industrial e agro-pecuária do Estado.

Defendera o Deputado José Flávio, no manifesto em apreço, que os recursos do Fundo de Incremento da Produção, instituído pelo Governo do Estado, fossem aplicados por uma sociedade de economia mista, com a participação governamental e das classes empresariais em sua administração, e denominada Companhia de Desenvolvimento Econômico do Ceará-CODEC, passando aqueles a constituir o Fundo de Desenvolvimento Econômico, de financiamento de projetos industriais aprovados pelo BNB e SUDENE, como, igualmente, de novas empresas agro-pecuárias.

Nesse sentido, encaminhara à consideração das classes produtoras um ante-projeto, que publicou, juntamente com o manifesto, no opúsculo epigrafado O Problema Cearense - Disciplina de Trabalho - Fortaleza, 1962, com um prefácio, onde se lê: As liberdades democráticas somente terão validade em função do bem estar coletivo (grifado no original).

Referida publicação justifica considerar-se o então parlamentar cearense como o inspirador da criação do órgão de apoio financeiro à industrialização do Estado, que o Governador Virgílio Távora concretizou, com aquela denominação, alterada, no governo seguinte, do dr. Plácido Aderaldo Castelo, para Banco de Desenvolvimento do Estado do Ceará-BANDECE, no Dia da Indústria (25 de maio) de 1970.

Concluído o segundo mandato na Câmara Federal, afastou- se temporariamente da política, preferindo voltar à iniciativa privada, com a implantação da Companhia Brasileira de Rações - CBR, por ele administrada e mediante a qual muito concorreu para tornar-se o Ceará um dos Estados de maior potencial na avicultura, atividade até então praticada de forma rudimentar e, por conseguinte, sem condições de concorrer no comércio nacional.

Em 1975, o Governador Adauto Bezerra confiou-lhe a Secretaria de Indústria e Comércio, cuja consolidação lhe é devida, pela descontinuidade administrativa no quatriênio inicial de existência dessa repartição, tendo ordenado e incentivado o desempenho não só dos Departamentos de Indústria e Comércio e de Artesanato e Turismo, como dos órgãos vinculados, ou subordinados: Companhia de Desenvolvimento Industrial do Ceará, Núcleo de Tecnologia Industrial, Sistema Estadual de Emprego (SINE-CE), Convênio de Treinamento de Mão-de-Obra e Programa de Consolidação do 1º Plano-Piloto do Artesanato Cearense.

À frente da Secretaria, estabeleceu relacionamento constante com as agências de desenvolvimento e as entidades representativas das classes econômicas, notadamente com a Federação das Indústrias do Estado do Ceará, da qual foi eleito presidente antes mesmo de transmitir o cargo de Secretário de Estado ao escolhido pelo novo Governador, quando, então, passou a dedicar- se principalmente à defesa dos interesses da indústria cearense e, também, na direção do Departamento Regional do SESI, dos operários e familiares destes.

Uma de suas primeiras preocupações à frente da FIEC foi a de reorganizar a entidade, a fim de dar-lhe maior funcionalidade, para a intensificação de atividades, como se fazia necessário devido ao surgimento de novos sindicatos patronais da indústria, relacionamento mais estreito com a C.N.I., articulação com os órgãos da administração pública atuantes no processo de industrialização, etc. Um regimento interno, que faz referência ao Sistema Federação das Indústrias do Estado do Ceará, com o respectivo Organograma, foi elaborado, e aprovado pela Diretoria em sessão de 18 de outubro de 1978, disciplinando o funcionamento dos setores administrativo, jurídico e de economia e estatística, bem como do Centro de Assistência à Média e à Pequena Indústria - CAMPI, no mesmo nível de subordinação, e as atividades de promoção sindical, informações industriais, estudos e pesquisas, assistência direta à indústria e treinamento, que deixaram de ser institucionalizadas por falta de condições financeiras para providenciar, em prazo previsível, as instalações respectivas.

Em relação com a importância de Fortaleza como centro de estudos superiores, com três Universidades, vinha crescendo a procura de informações, na FIEC, por parte de professores e alunos de cursos de pós-graduação, pelo que se impôs o redimensionamento e aparelhamento da biblioteca já existente, para atender igualmente aos serviços internos, de documentação e intercâmbio. Pronunciamentos do presidente da entidade, sobre os assuntos de natureza econômica, passaram a ser procurados cada vez mais pelos jornalistas, na medida em que se agravaram os problemas econômicos do País e, em conseqüência, multiplicaram-se as contestações a respeito das providências adotadas ou não, de modo a ressaltar a importância de dados atualizados e diversificados e o acompanhamento sistemático da divulgação a respeito.

Este período correspondeu, na quase totalidade, à maior crise já vivida pelos cearenses, pois, além da gravidade da situação nacional, ocorreu a grande seca de cinco anos (1979-1983), cujas conseqüências perduraram, aliás, nos anos seguintes, ao contrário do acontecido de vezes anteriores quando se verificava uma recuperação quase imediata da economia do Estado, por não existirem outros fatores conjunturais adversos, nem, muito menos, instabilidade generalizada, como a do decênio atual (1981-1990), prestes a findar.

A situação da indústria cearense, em decorrência não somente das condições mencionadas como das dificuldades enfrentadas pelos órgãos financiadores - B.N.B. e SUDENE principalmente, com o antigo sistema de incentivos fiscais alterado para atendimento a outras atividades (turismo, reflorestamento) e regiões, exigiu as atenções constantes da FIEC, devendo-se-lhe uma tentativa de revitalizar aquela Superintendência, com a representação empresarial e trabalhista no respectivo Conselho Deliberativo, proposta acolhida favoravelmente pelo Presidente da República através de Decreto de 15 de agosto de 1985. Cabendo a indicação do empresário à Confederação Nacional da Indústria, foi escolhido representante, como seria natural pela autoria da proposta, o presidente da FIEC, empossado no dia 27 do mês seguinte, a que implicou em acréscimo na sua atividade já muito intensa, não só na presidência da FIEC como na diretoria da entidade nacional, cuja Comissão de Política Industrial vinha integrando, porém sua experiência se tornava cada vez mais valiosa, com prova nova escolha, em fins de outubro do dito ano, para a Comissão Especial incumbida de estudar a conveniência do pacto social e definir a posição do patronato da indústria brasileira sobre essa proposta do Presidente da República.

Com relação à economia do Nordeste e, particularmente, do Ceará, numerosas sugestões foram apresentadas, neste período, catorze delas encaminhadas ao então Ministro da Indústria e do Comércio Roberto Gusmão, na oportunidade do encontro dele com os industriais nordestinos, em 4 de outubro de 1985, na capital pernambucana, salientando-se a reformulação do FINOR, o estabelecimento de um pólo de informática, o sistema de segurança para as pequenas e médias empresas e a viabilização do uso do gás natural. Para encaminhar as soluções, a FIEC organizou grupos de trabalho que se desincumbiram satisfatoriamente, a exemplo da comissão incumbida de proceder aos estudos sobre a proposta citada por último, a qual, tendo na presidência o industrial Adalberto Benevides Magalhães Filho, presidente da Associação da Indústria Metal-mecânica do Nordeste, formulou as reivindicações do empresariado cearense concernentes à imediata construção, pela PETROBRÁS, de um gasoduto ligando a bacia petrolífera de Paracuru ao Mucuripe.

Como Diretor Regional do SESI, deu ao Departamento nova estrutura organizacional, aprovada em junho de 1978, acelerou as obras em andamento, em especial as do Centro Integrado SESI- SENAI no local do antigo convento da Porciúncula, e inaugurou a cozinha industrial, para fornecimento de refeições às fábricas a fim de atender ao programa de assistência alimentar aos operários, nas comemorações do Dia da Indústria do ano de 1983.

Além dos discursos proferidos ao empossar-se na presidência para os três mandatos sucessivos em que a exerceu, muitos outros, incluindo conferências pronunciadas na Universidade Federal do Ceará, expressam o seu pensamento em relação aos problemas econômicos e sociais, devendo ser reunidos em livro, como importante contribuição ao estudo da ideologia da classe empresarial cearense.

Encerrado o terceiro mandato, com nove anos de exercício da presidência da FIEC e dos Conselhos Regionais do SESI-SENAI, e da direção do SESI no Ceará, foram considerados indispensáveis os seus serviços e reeleito, mais uma vez, para as funções de delegado representante efetivo junto à Confederação Nacional da Indústria, a fim de prevalecer a integração nessa entidade superior, da soma dos interesses legítimos da classe empresarial cearense em sintonia com os nacionais ou quando se faz necessária a convergência de todos os esforços para a superação, afinal, da prolongada crise, que ameaça desestabilizar por completo o País, perigosamente.

 

Conquistas e realizações

O período correspondente à presidência do Dr. José Flávio Costa Lima na FIEC compreendeu situações diversas devido à instabilidade a bem dizer efetiva da economia brasileira, cuja evolução pode ser acompanhada recorrendo-se à matéria publicada em Conjuntura, órgão especializado no assunto, da Fundação Getúlio Vargas, vol. 39, no. 4, de 15 de abril de 1985, dedicado ao balanço das empresas na crise 79/83 e trazendo na capa a expressão acima transcrita, por consentânea quanto à realidade então vivida pelo povo brasileiro, notadamente por autoridades e empresários.

Apoiando-se em providências governamentais de política econômica, o analista estabeleceu períodos coincidentes, em parte, com aquele da presidência da FIEC, pois iniciado em julho de 1976, quando passou a vigorar significativa alteração com vistas a atualizar a correção da moeda conforme ato oficial de dois meses antes (maio); o objetivo, de conter o surto inflacionário, teve desfecho contrário ao previsto, dando origem à fase crítica de 1979 a 1983, referida na capa da Conjuntura.

Por conseguinte, assumindo a presidência da FIEC em setembro de 1977, o Dr. José Flávio Costa Lima esteve à mercê de uma tentativa governamental de controlar a inflação durante os dois primeiros anos de sua administração, para enfrentar, a seguir, de agosto de 1979 a dezembro do ano seguinte, limitação de oportunidades pela nova medida, fixando os juros e a correção monetária e cambial como instrumentos de estabilização, forçado o governo, porém, a alterar o percentual fixado, de 45% para 50%, no tocante aos valores da moeda e do câmbio; nova mudança ocorreu em janeiro de 1981 tendo em vista as dificuldades no setor externo, notadamente quanto à captação de recursos de fora, com prazo de vigência até 10 de março de 1983; novas resoluções oficiais, dessa última data e de 28 de junho seguinte foram baixadas a respeito, a segunda observada até abril de 1985, quando acordo com o Fundo Monetário Internacional-FMI foi ajustado como solução para o caso, sem, com isto, por fim à expectativa de continuidade da crise, justificada pelo impacto por ela provocado não somente nos poderes públicos; a repercussão também se fizera sentir nas empresas privadas, movimentando as entidades representativas, particularmente na FIEC, para a colaboração com o governo, quando menos na intenção de evitar sofresse um descrédito maior, expondo ao perigo a continuidade da recém iniciada nova fase política e administrativa.

As realizações mencionadas selaram, de algum modo, a identidade lógica da parceria do poder público, através da Secretaria de Indústria e Comércio do Governo do Estado, no cumprimento do PLANDECE-Plano de Desenvolvimento do Estado do Ceará, adotado e cumprido pelo Governador Adauto Bezerra, com vistas a consolidar o processo de industrialização no qual se empenhava, também, a FIEC, naquele momento confiado, precisamente, a pessoal ideal para conciliar a atividade comum das duas entidades, com o objetivo em apreço, apresentado como Fortalecimento do Setor Industrial e Comercial, Artesanato e Turismo.

Para cumprimento satisfatório daquela programação, o poder público cearense, agindo em função das necessidades mais prementes, criara o Sistema Estadual de Emprego-SINE/CE, para êxito do qual executava a qualificação do pessoal necessário, com o apoio financeiro e técnico da SUDENE, Programa Intensivo de Preparação de Mão de Obra-PIPMO e a SEPLAN-Secretaria de Planejamento do Governo do Estado, a secundar a utilização dos recursos próprios; como resultado imediato, 50% dos inscritos e treinados em um curso ministrado na empresa Esmaltação do Nordeste S/A., foram por esta admitidos como profissionais; no entanto, o treinamento em unidades de confecções e têxteis surtiu efeito ainda maior, garantindo ocupação remunerada a 80% dos participantes.

Com vista mais ampla, a Secretaria dirigida pelo Dr. José Flávio Costa Lima, mediante convênio com o Ministério da Indústria e Comércio e o apoio da Universidade Federal do Ceará e da Universidade de Fortaleza-UNIFOR, um Núcleo de Tecnologia Industrial, voltou-se para a organização de um setor de Ciência e Tecnologia, estadual, cujas primeiras etapas já estavam cumpridas naquele trimestre final do ano de 1977, levando ao apressamento do Plano Diretor de Tecnologia do Ceará, prevista a transformação desse Instituto especializado na problemática da superação do atraso, no tocante a técnicas e processos industriais no Ceará, como em quase todos os Estados brasileiros.

Todas as preocupações da SIC convergiam, por conseguinte, para o desenvolvimento das práticas fundamentais para o desenvolvimento do Ceará e conquistas como a do setor de confecções, cuja expansão converteu Fortaleza no segundo polo da moda do País, atrás somente de São Paulo, implicando em uma perspectiva de intensificação das atividades do Sistema FIEC, em geral, por conseguinte da valorização do operário cearense.

Com a advertência de não ser praticável mencionar todas as atividades da FIEC, ou pertinentes ao desenvolvimento industrial do Ceará no período de 9 anos da presidência do Dr. José Flávio Costa Lima à frente da entidade, até mesmo por constituir a essência deste estudo as condições nas quais esse processo evoluiu, conforme as políticas, para a área econômica, do Governo Federal e de participação de órgãos estaduais e municipais, do apoio, ou não, de comentaristas especializados de jornais e emissoras radiofônicas e televisivas, influentes na opinião pública, formada a partir deles, os fatos somente ficarão devidamente esclarecidos se explanados os fundamentos das decisões adotadas.

Evitando expressões técnicas, de escassa aceitação popular, e limitando a análise a um resumo de assimilação fácil, divisa-se, como pecado original do desenvolvimento para o Nordeste como um fato consumado, imposto por uma situação pré-existente, de uma política arbitrária, assim considerada pela influência de missões estrangeiras, das quais se aceitou a industrialização, no âmbito nacional, como um sub-produto do parque fabril do Estado de São Paulo, seguindo-se projetos como o da Companhia do Vale do Rio Doce, da Hidrelétrica de Paulo Afonso e a do Vale do São Francisco, assim como a instituição da PETROBRÁS.

O Nordeste propriamente dito, cujas vicissitudes os governantes republicanos, com exceção de Nilo Peçanha e Epitácio Pessoa, ignoraram, ou fingiram ignorar, sofreram as conseqüências de tão impatriótico descuido, notadamente o Ceará e o Rio Grande do Norte, os mais afetados pelas secas periódicas, até mesmo dissipados no progresso por eles obtido, pois, no período entre as duas Grandes Guerras, a economia cearense, principalmente, caracterizou-se por um considerável dinamismo, baseado no aproveitamento de ceríferas e oleíferas, cuja expansão teria sido maior não fosse a inexistência de um porto com capacidade suficiente para atender ao movimento da carga, em grande parte procedente do interior, onde proliferaram as usinas em municípios situados à margem da estrada de ferro, também decadentes na segunda metade do Século XX, por uma política de conseqüência injustificável, condenando ao atraso cidades outrora importantes, como referências de atividades produtivas, tais como as do Cariri cearense, as de Iguatu e Senador Pompeu, no centro-sul, Quixadá, Baturité e Camocim, esta servida por um importante porto, pelo qual mantinha relações comerciais com o Extremo-Norte (Amazônia).

Sem incorrer no historicismo, admitindo o processo histórico expressão de leis imutáveis de uma ciência infalível, e negar a essência da história em uma relação própria de causas e conseqüências sucessivas, por conseguinte de momentos caracterizados por esforços de adaptação a uma realidade de transição, independente da linha do progresso, ou evolução cultural; esta não corresponde à desigualdade alusiva a faculdades pessoais dos agentes e à diferenciação do ambiente no qual eles convivem sujeitos a desafios, dos quais nem todos têm a devida percepção.

O processo histórico esboça-se nas oportunidades, pela predisposição das pessoas de tirar proveito delas, sem essa circunstância indicar sejam todas oportunistas, ou carreiristas, considerando-se as vocações despertadas e a legitimidade quanto a dar-lhes expansão, com a satisfação de um aperfeiçoamento progressivo e recomendável do ponto de vista da projeção na sociedade; múltiplas, tais oportunidades, com suas conseqüências, podem conceituar santos, como proclamava a Igreja Medieval, ou heróis, segundo admitia Carlyle, em qualquer caso celebridades, ou, em oposição, tiranos sanguinários e criminosos comuns.

O processo histórico firma-se a partir desse apoio nas oportunidades, oferecidas pela evolução cultural com a garantia de um direito natural e de uma legislação igualitária no sentido e na prática, de maneira a incentivar os habilitados a aproveitá-las, pelo mérito da vocação revelada e comprovada; assim sendo, o historiador dispõe de referências para análises institucionais, como a objetivada neste estudo referente à Federação das Indústrias do Estado do Ceará, cuja contribuição ao desenvolvimento situou-se, desde o início de suas atividades, inquestionável.

Em sua primeira fase (1951-1975), os presidentes seguiram uma orientação nitidamente técnico-profissional, além de administrativa, não constituindo exceção o recurso da reativação do Centro Industrial do Ceará, em circunstâncias ditadas por uma crise política de repercussão negativa em todos os setores, principalmente no fabril, abalado por greves constantes, forçada a entidade, por força da legislação sindical, a fingir ignorar os acontecimentos, cujo desfecho, de março para abril de 1964, decorreria da indisciplina fomentada nas classes militares em meio à cumplicidade ostensiva dos dirigentes nacionais e alguns estaduais, com "ligas camponesas" e movimentos estudantis, universitários e secundaristas, desafiadores da ordem e da segurança públicas.

Com essa concepção intimista, exteriorizadora de sentimentos e desejos positivos, o Dr. José Flávio consubstanciou, nas primeiras semanas de exercício da presidência da FIEC e da Diretoria Regional do SESI, providências relativas a esse órgão assistencial "...em função de uma política de melhoria dos serviços..., pela seleção mais cuidadosa dos objetos a adquirir quer pela substituição dos que se encontravam em condições insatisfatórias de uso", - Assim consta do Boletim Interno no. 159, do mês de janeiro de 1978, cuja primeira página, sob o título O SESI e as Artes, esclarece, sobre reações de pessoas, contrariadas em seus interesses, "...contra providências forçosamente adotadas pela Direção Regional... no sentido de harmonizar a realidade financeira... do órgão e a programação especial cumprida no Centro Social Thomás Pompeu de Souza Brasil".

Pela expressividade vão aqui transcritos mais alguns parágrafos:

"De antemão, consideram os dirigentes do SESI do Ceará que as artes constituem um poderoso instrumento de promoção do homem, independentemente da escala social, pois as vocações existem nas pessoas à espera de condições para se manifestar (em). Jamais se recusarão a incluir as atividades artísticas na faixa de realizações deste órgão e demonstraram-no dando apoio ao surgimento de um novo Grupo Folclórico, organizado junto ao Centro de Atividade de Fortaleza - Agência no. 2, e cuja estréia ocorreu no dia 23 último, no ensejo do encerramento do ano letivo naquela Dependência do Regional.

O incentivo à manifestação das vocações artísticas dos industriários cearenses não faltará de parte da atual direção do SESI, embora lamentavelmente não lhe seja possível retribuir a competência e o esforço do pessoal técnico pagando-lhe salários compatíveis".

Por último lê-se:

"Mesmo essa restrição, no entanto, poderá ser superada em função do desenvolvimento industrial do Ceará, que assegurará a este Departamento um maior volume de recursos, para um programa de grande amplitude com vistas à promoção do homem".

Estes parágrafos comprovam por inteiro a concepção progressista do objetivo essencial do plano a cuja execução o novo presidente da FIEC pretendia prestar a sua contribuição aos serviços proporcionados aos beneficiários, diretos e indiretos, em um processo cumulativo, de multiplicação, infelizmente impossível de contemplar-se a curto prazo, pelos muitos obstáculos a vencer e as dificuldades na superação deles pela falta de solidariedade, ou de compreensão, da qual os pessimistas e derrotistas fingiram, por isso mesmo, como vítimas, tanto quanto culpados, por resistirem, teimosamente, a modificar o seu comportamento, nem sempre justificável pela ignorância, pois existem aqueles a quem a consolação das desgraças está em compartilhá-las com outros, infelizmente em número expressivo.

O fato em referência no Boletim Interno não teve desdobramentos devido à compreensão e ao idealismo dos servidores do Departamento Regional, sempre atentos às finalidades do SESI e à importância da FIEC como instrumento de progresso para o povo brasileiro e o cearense, porém foi seguido a curto intervalo por um outro, de maior conseqüência, no qual se envolveram ocupantes das funções delegadas pelo Diretor do Departamento Regional, por conseguinte de admissão recente, os quais, insatisfeitos com o Superintendente, também até então alheio ao quadro do órgão, passaram a fazer a esse acusações de tomar decisões sem os consultar enquanto acatava interferências de pessoas estranhas; este é o testemunho de quem ora escreve a respeito lamentando o desfecho do caso, com a dispensa do Dr. José Dírcio Chaves Lucena, a quem a única restrição a fazer consistia a um extremado anseio de desempenhar bem a Superintendência, fazendo-o com apreciável competência, como atestam as providências postas em prática em sua administração.

Certamente a providência adotada pelo Presidente da FIEC e Diretor Regional do SESI foi acertada, por ter atalhado uma situação perturbadora e, talvez, persistente, do ambiente funcional do Departamento, assegurando, por conseguinte, um desempenho efetivo do corpo de executores das decisões da presidência e dos servidores em geral; demonstrando sua habilidade, o Dr. José Flávio Costa Lima assegurou, em três mandatos sucessivos, o respeito de seus subordinados, tanto mais pela preocupação de valorizá-los mediante cursos, estágios e outras oportunidades de aperfeiçoamento profissional específico.

Ao mesmo tempo atendia às responsabilidades com todo o Sistema, precipuamente com a entidade presidida, cuja importância lhe era de fácil compreensão, pelo interesse, desde quando estudante de Ciências Jurídicas e Sociais da antiga Academia de Direito de São Paulo, então Faculdade, relativamente ao desenvolvimento econômico do Brasil, objetivo a depender da correção do preocupante desnível entre as Grandes Regiões do País e, até mesmo, no interior delas; tratava-se de uma questão cuja delicadeza induzia os propugnadores da elaboração de uma nova Constituinte a uma atitude reservada, enquanto as autoridades federais recorriam a uma política fiscal e tributária centralizadora, consolidando o núcleo do poder fincado em Brasília.

Evitando a repetição dos fatos constantes das atividades do Sistema FIEC/SESI/SENAI/IEL, tanto por estarem ao dispor de pesquisadores, estudiosos e outros interessados, em mais de 2.000 pastas contendo materiais e informações divulgadas pela mídia escrita, organizados sistematicamente pelo Departamento de Documentação e Informação Industrial-DEDIN sob a responsabilidade da Dra. Maria de Lourdes Lima, possível, ainda, a consulta às coleções existentes nas próprias empresas jornalísticas; como por, mesmo resumidos, consistir a importância maior deles precisamente em relação aos fins e objetivos sistema em causa, e aos resultados obtidos, específicos e gerais, isto é, administrativos e culturais.

O juízo conclusivo, de êxito ou não, envolve a diretoria, cujo comportamento solidário assegura eficiência, porém, sobretudo, o presidente, tendo-se em vista a natureza da entidade, onde o profissionalismo não significa emprego remunerado nem hierarquia compulsória, mas a convergência de ideais de servir ao bem comum do povo, em uma espécie de sacerdócio devotado a harmonizar interesses específicos com os gerais.

Sem desmerecer os demais presidentes da FIEC, no primeiro meio século de sua existência, transição para um novo milênio conforme o calendário Cristão, as opiniões coincidem em ter sido o Dr. José Flávio Costa Lima administrador de grande mérito, atento a todas as peculiaridades estruturais e funcionais do Sistema por ele presidido, ampliando e aperfeiçoando todos os serviços à disposição dos industriários, trabalhadores assemelhados e famílias respectivas, como iniciativas do porte da construção do Centro Integrado SESI-SENAI e da Casa da Indústria, projetada em sua presidência e concluída, esta última, por seu sucessor imediato.

No entanto, a realização principal do período 1977-1986, na FIEC, considerando-se a amplitude das conseqüências, admite-se, nos setores mais autorizados na análise das atividades econômicas, a posição firme no tocante aos problemas contrários à marcha do desenvolvimento, quer do Brasil, do Nordeste ou do Ceará, onde contou, para gerar uma nova mentalidade, com a jovem geração de empresários, reunida no Centro Industrial do Ceará, um impulso para um futuro assentado na aspiração geral de progresso, com diretriz no desenvolvimento industrial, por conseguinte na consciência da responsabilidade pessoal, visada pela FIEC.

A presidência do Dr. José Flávio Costa Lima prolongar-se-ia por nove anos, em conseqüência de duas reeleições sucessivas, e descrevê-la como um relatório de atividades implicaria em um estudo de mais de mil páginas, impondo-se, consequentemente, limitá-lo ao essencial, isto é, a contribuição ao desenvolvimento do Ceará, com as alusões indispensáveis às dificuldades opostas a realizações dependentes dos planos e programas dos poderes públicos e das circunstâncias da situação do País e da internacional e da repercussão local; diante delas tanto o empresariado cearense como o brasileiro em geral sofreu interferência excessiva dos poderes públicos na atividade privada, em detrimento das liberdades individuais, de logo formando no denso grupo de reformistas, de interesses outros muito diversificados e antagônicos.

Limitando-se esta análise ao Ceará, aspecto a salientar era a divisão interna do próprio empresariado local, observadas, pelos dirigentes da FIEC e dos Sindicatos a ela filiados, as normas constantes da legislação respectiva, repetindo a posição adotada no período de 1963-1964, apoiada no Centro Industrial do Ceará, cuja restauração o presidente da entidade estadual promovera com a finalidade precípua de estudar, debater, votar e observar preposições com vistas a uma política econômica em concordância com o desenvolvimento, aspiração comum dos brasileiros.

O presidente eleito em 1977 desde os seus primeiros atos revelou uma orientação definida, segundo a qual o desenvolvimento devia ter uma convergência do propriamente econômico, ou produtivo, com o social, de maneira a permitir de logo a participação, na renda gerada pelo trabalho, do operário e de toda a população de baixa renda; por outras palavras, o desenvolvimento revestir-se-ia do modelo efetivamente progressista, indo além do pragmatismo ao determinar mudanças culturais na base da sociedade, via exclusiva para eliminar os focos de tensão identificados como reação contra a classe privilegiada; admitia o presidente da FIEC estar em curso essa imposição de justiça, ordem e progresso no conjunto das atividades do SENAI e do SESI, como tornava evidente o funcionamento desses serviços dignificando o trabalhador ao convertê-lo em um profissional especializado e valorizar, em amplitude maior, a dignidade pessoal de quem se vê excluído inevitavelmente da sociedade culta por falta de oportunidades para manifestar vocações valorizadoras de uma personalidade semelhante à de qualquer outro ser humano.

Um outro aspecto a considerar, concernente à defesa dos interesses do Estado natal pelos cearenses, é o da inibição diante do excessivo centralismo do Governo Federal, deveras constrangedor, e para o qual foi ensaiada uma reforma, com o Ministério denominado, muito significativamente, da Desburocratização, exercido por pessoas competentes e sérias como Hélio Beltrão e o cearense Paulo Lustosa da Costa, porém não passando de uma experiência do tipo faz-de-conta; na verdade, como a representação cearense no Congresso Nacional, apesar de notáveis expressões parlamentares desde o tempo do Império até ao da República atual, não é representativa de uma tradição de poder político, os pleitos do Ceará sofrem delongas no atendimento, quando esse ocorre, pois até mesmo dispositivos constitucionais são descumpridos, sob a pressão daqueles mais prestigiosos quanto ao acatamento por parte do poder central.

Como os Estados preteridos, na situação mencionada, não dispõem, por seus próprios governantes e representantes congressistas, do prestígio indispensável ao atendimento de suas necessidades, por alguns pedintes de pires na mão, torna-se imprescindível recorrer à sociedade organizada, como acontece no Ceará, onde a FIEC, em consonância com outras entidades de classe, adquiriu consistência bastante para fazer valer os interesses da coletividade cearense, não só os econômicos, como alguns, pouco informados, ou por outros motivos, podem presumir; não se trata de um poder paralelo mas do cumprimento de uma ordenação oficial, possibilitando a negociação para a cooperação de órgãos governamentais, da estrutura do próprio poder da Federação.

Esta realidade nacional tem, no Ceará, uma das expressões mais positivas, percebida pela capacidade intelectual do presidente José Flavo Costa Lima,, da FIEC, e por ele aproveitada, no exercício de três mandatos sucessivos, para projetar a entidade nacionalmente, reconhecendo-se-lhe, no Nordeste, um acatamento a idéias e iniciativas de interesse regional, de modo a repercutir positivamente nas Federações congêneres de outras regiões; não se tratou de uma imposição forçada mas de coincidência de idéias adequadas à abertura de um caminho mais seguro cujo percurso certamente significaria a colimação do desenvolvimento industrial do Brasil, livre das diferenciações de origem geográfica ou cultural, deveras compatível com o dístico da Bandeira de todos os brasileiros Ordem e Progresso, próprio de homens livres com responsabilidade social.

Coincidindo com um período acentuadamente político, transição de governos militares para a restauração do poder civil, orientado com vistas a superar problemas daquela natureza como propugnavam dirigentes oposicionistas, à presença do Dr. José Flávio Costa Lima à testa da diretoria da FIEC, decorreu de uma decisão acertada por parte dos sindicatos patronais filiados; embora discreto, em concordância com dotes morais de um cavalheiro bem conceituado socialmente, desempenhara mandato parlamentar e mostrara-se competente administrador no exercício de titular da Secretaria de Indústria e Comércio estadual, correspondendo à confiança nele depositada.

Este era um perfil ideal para o momento de nova Assembléia Nacional Constituinte, tanto mais por imprescindirem as reformas dos fundamentos econômicos de qualquer projeto da espécie, isto é, de assegurar uma ordem social tanto quanto possível igualitária, porém ao mesmo tempo adequada à natural divisão dos campos de competência dos poderes públicos e da iniciativa privada; de antemão previa-se um entrechoque de idéias e de interesses na apreciação de quase todos os itens em discussão, a exigir um posicionamento decidido, se possível decisivo com vistas a votações da nova Carta Magna para o povo brasileiro.

Os interesses não eram classistas, unicamente, pois em grande parte referiam-se aos desníveis regionais, quando não aos contraditórios das unidades federadas das Grandes Regiões, como acontecia em relação à do Nordeste, notadamente nas condições características do Polígono das Secas e de áreas privilegiadas não tanto pela natureza mas por decisões governamentais de acordo com programas selecionados de cooperação financeira e técnica de entidades estrangeiras, realidade à qual estava bem familiarizado o novo presidente da FIEC, após acompanhar, na mencionada comissão de Secretário da Indústria e do Comércio, os planos, os programas e os projetos adotados pelos Ministérios e executados pelas agências de desenvolvimento, sobretudo pela SUDENE e pelo BNB, cujos dirigentes e técnicos foram constantes na interação com as entidades representativas do empresariado e com as repartições da área econômica da administração estadual, do Ceará como dos demais Estados beneficiários de verbas do orçamento federal e dos investimentos oriundos do exterior, como do Banco Interamericano de Desenvolvimento-BID, e outros estabelecimentos da espécie.

O anúncio oficial sobre a confirmação do potencial de Itataia tornou-se, por conseguinte, mais uma promessa do Governo Federal, para aproveitamento em data incerta, a exemplo de várias outras, em uma situação à qual o povo cearense já se acostumara; as esperanças dele concentraram-se em outras medidas governamentais, considerado de grande importância o apoio à lavoura e ao comércio algodoeiro, sustentáculo por muitos anos da economia do Estado, cujas finanças dependiam da exportação daquele produto; seu peso sentia-se na regularização do pagamento ao funcionalismo, após atraso nos meses anteriores; atendendo a solicitações das entidades empresariais, com apoio na representação cearense no Congresso Nacional e nos meios de comunicação impresa, radiofônica e televisiva, a Comissão de Financiamento da Produção autorizou a equiparação dos preços dos estoques da safra de 1976-1977 aos da seguinte, conforme o Diretor Regional do Banco do Brasil no Nordeste Dr. José Danilo Rubens Pereira tornou público em reunião da FACIC-Federação das Associações do Comércio, Indústria e Agropecuária do Ceará, em outubro de 1977.

Boa repercussão teve, também, a declaração do Diretor Supervisor do Desenvolvimento Urbano do Banco Nacional de Habitação, Economista Albert Klumb, em Seminário sobre a área de sua competência profissional e funcional, realizado na capital cearense naquele mês de outubro de 1977, por admitir-se a construção civil como um dos suportes mais valiosos tanto para o problema de moradia como para o de emprego e geração de outras atividades; o dito evento realizou-se em Fortaleza, com participação de grande número de interessados, além de empresários, autoridades, técnicos, inclusive investidores do ramo industrial respectivo, cabendo ressaltar o testemunho do representante do BNH, reconhecendo a capital cearense como das mais avançadas do País, a par de São Paulo, no tocante à implantação de uma efetiva política de desenvolvimento no setor de saneamento básico; na verdade, ela deu o impulso a uma atividade pela qual a cidade passou a contar, em poucos anos com numerosos conjuntos residenciais no entanto principalmente com a proliferação de edifícios de apartamentos em zonas privilegiadas, da Avenida Beira Mar em direção à Nova Aldeota e à Praia do Futuro, transformando-se em um centro de atração turística mais intensa a cada ano, conquanto tolhida por algumas dificuldades decorrentes da marcha acelerada dessa transformação.

Outros fatos auspiciosos ocorridos no mês da posse da diretoria da FIEC presidida pelo Dr. José Flávio Costa Lima foram o financiamento no valor de Cr$ 95.000.000,00 (noventa e cinco milhões de cruzeiros), pelo BNB, à Fiação Nordeste do Brasil-FINOBRÀS sediada em Fortaleza, e o de Cr$ 17.500.000,00 (dezessete milhões e quinhentos mil cruzeiros), pelo mesmo estabelecimento, à Cerâmica NORGUAÇU, do município de Crato, no Cariri, seguidos pelo de Cr$ 31.000.000,00 (trinta e hum milhões de cruzeiros) à TAPELENE, fábrica de tapetes localizada no Distrito Industrial da capital do Estado, e o de Cr$ 6.800.000,00 (seis milhões e oitocentos mil cruzeiros) à Companhia de Alimentos do Nordeste-CIALNE, estes dois também pelo BNB.

Concorriam para a euforia do empresariado e da população, conquanto existissem derrotistas e resistentes passivos em alguns setores, outros fatos significativos como o noticiário sobre identificação de ocorrências de ouro em alguns pontos do interior do Estado; a intensificação do comércio exportador relativa à lagosta superando o valor então correspondente ao caju e subprodutos e abrindo perspectivas para o desenvolvimento da indústria naval, representada pela INACE e capacitada a atender a encomendas do País, notadamente da Marinha, e do exterior, pelos processos técnicos de construção similares aos de estaleiros modernos; a existência de um projeto do Centro Técnico Têxtil, para a formação e aperfeiçoamento de pessoal especializado, em atendimento a reivindicação do Sindicato de Fiação e Tecelagem em Geral do Estado do Ceará, cuja diretoria, aliás como a da FIEC, fora renovada no mês em referência, eleito presidente o empresário Carlos Leite Barbosa.

No meio industrial de Fortaleza teve maior repercussão, aliás, a confirmação, pelo Ministro Shigeaki Ueki, das Minas e Energia, da existência, no Ceará, em Itataia, município de Santa Quitéria, da maior jazida de urânio do País, com a qual se vislumbrava, embora a médio prazo, a solução para as deficiências já existentes, e a agravarem-se, de suprimento energético proporcional ao desenvolvimento econômico e social; de logo justificariam as autoridades do setor não haver possibilidade de uma exploração simultânea de duas zonas uraníferas, ficando a do Ceará relegada a um futuro difícil de prever, até mesmo no tocante à matéria prima, associada àquele minério e própria para fertilizante da agricultura, um benefício a mais com o qual não pode contar o Ceará, mais uma vez prejudicado pela concorrência de outros Estados e de influência política preponderante, como já acontecera no tocante a numerosos produtos sob o efeito de restrições de órgãos governamentais.

Compreendendo ser precioso o tempo requerido para a promoção do desenvolvimento do Ceará diante da necessidade imposta por uma economia ainda em vultosa desigualdade em relação às de outros Estados, até mesmo nordestinos, como Pernambuco e Bahia vantajosamente colocados, o Dr. José Flávio Costa Lima, tão logo tomou posse na presidência da FIEC não deixou para o dia seguinte as tarefas até então a cargo de seus antecessores; o momento apresentava-se auspicioso, assinalado por fatos como a inauguração da IBACIP-Indústria Barbalhense de Cimento Portland S/A. , dando início à produção por uma primeira unidade, presentes o Ministro do Interior Maurício Rangel Reis, o Governador Adauto Bezerra, o Superintendente da SUDENE José Lins de Albuquerque, o Diretor da Eletrobrás e Ex-governador César Cals de Oliveira Filho, outras autoridades estaduais e municipais, empresários caririrenses, representações diversas, em um convívio deveras festivo; ao referido setor pioneiro foi dada denominação homenageando o Engenheiro Pàulo Maurício Castelo Branco Sampaio, vítima ainda jovem, de um desastre automobilístico.

O Coronel Engenheiro César Cals Filho encontrava-se então no Ceará para outra solenidade oficial, esta de instalação de um Núcleo de Pesquisa e Especialização em Fontes não Convencionais de Energia, no Campus do Pici (Fortaleza), mediante convênio da empresa, da qual era diretor executivo, com a Universidade Federal do Ceará, presentes o Reitor Pedro Teixeira Barroso e o Pró-Reitor de Pesquisa e Extensão Paulo Elpídio de Menezes Neto, além de autoridades, empresários, especialistas e professores e estudantes universitários; o acontecimento abria a perspectiva de uma contribuição apreciável de aumento da disponibilidade de geração energética essencial à ampliação do parque fabril e de outras necessidades da espécie.

Ainda mais, naquele mês de setembro de 1977, em reunião no Palácio da Abolição, sede do Executivo cearense, o Governador Adauto Bezerra e o Engenheiro César Cals Filho apreciaram alguns projetos, elaborados por equipes técnicas de vários serviços do setor da energia com o objetivo de produzir álcool extraído da mandioca; para acompanhamento desse trabalho, identificado como Projeto Plantando Energia, o Governo do Estado contratou, logo a seguir, a Brasconsult Engenharia de Projetos, envolvendo recursos no montante de Cr$ 2.800.000,00 (dois milhões e oitocentos mil cruzeiros), a fim de atender a demanda crescente de combustíveis em geral.