O PERFIL ATUAL
DA INDÚSTRIA CEARENSE E PERSPECTIVAS FIITURAS
Falar do perfil atual da indústria
cearense nos proporciona dois sentimentos quase que conflitantes:
alegria e preocupação.
O sentimento de alegria reflete
o fato de estar a indústria cearense vencendo com galhardia o espectro
da recessão porquanto tem apresentado nos últimos quatro anos taxas
de cresci mento bastante satisfatórias, mormente se comparadas as
taxas de crescimento verificadas para as suas co-irmãs do Nordeste
e do Brasil.
O sentimento de preocupação
advém do fato de estar-mos atravessando uma fase bastante delicada
da história política brasileira, cujos reflexos são imprevisíveis.
E como o Ceará não poderá ser uma ilha de prosperidade face
a catástrofes brasileiras, também. a indústria não poderá ser um
setor em crescimento quando todo o sistema econômico nacional se
vê na iminência de um “débâde”.
Assim, a indústria cearense
vai bem obrigado, mas... até quando?
Analisemos, agora, alguns
indicadores, que nos permitem gozar desta momentânea sensação de
alegria.
Infelizmente, os dados estatísticos
disponíveis para uma análise da situação do setor industrial cearense
são bastante defasados e esparsos, mas com uma certa dose de boa
vontade pode remos tirar algumas ilações das estatísticas conhecidas.
Entretanto,
necessário se faz que situemos o setor industrial dentro do contexto
maior da economia cearense e até do contexto nordestino para
compreendermos melhor o porquê do atual perfil deste setor
econômico.
Para tanto apresentamos a Tabela 1 onde estão alinhadas as informações disponíveis
sobre a indústria cearense.
De principio, chama a atenção
o desempenho da indústria de transformação. Para todas as variáveis
listadas (VTI, mão de-obra, potência instalada, consumo de energia
elétrica e número de estabelecimentos) o desempenho do setor cearense
foi superior àquele verificado para o setor nordestino.
Trabalhando
entretanto, com valores absolutos , verificamos que a indústria
de transformação cearense é ainda bastante diminuta face à indústria
de transformação do Nordeste e do Brasil. De fato, o valor da transformação
industrial no Ceará só representava, em 1985 (último ano de informação
disponível) , 11,37% e 0,9% do VTI’ do Nordeste e do Brasil, respectivamente.
Em 1980, esses percentuais eram 11,59% e 0,9%, respectivamente.
Isto significa dizer que uma indústria de transformação praticamente não mudou
sua posição no primeiro lustro da “década perdida”, vis-à-vis suas
congêneres do Nordeste e do Brasil.
Entretanto, quando analisarmos
as informações sobre número de estabelecimentos industriais sediados
no Estado, verificamos que tanto no contexto regional quanto no
contexto nacional, o Ceará melhorou sua posição, fazendo de um percentual
de 13,3% para 15,1% dentro da Região. Quando comparado com o Brasil
como um todo a variação foi de 2,72% para 2,98%.
Assim, a quantidade de indústrias
sofria uma diminuição tanto no Nordeste quanto no Brasil, na primeira
metade da década passada. No Ceará, essa quantidade aumentou, não
só em termos absolutos como em termos relativos.
Olhando
agora para a indústria cearense como um todo, constatamos que em
termos de geração de IPI, e para os dois primeiros anos desta década,
a nossa indústria apresentou comportamento ascendente, passando
de uma participação no IPI total nordestino de 10,06%, em 1990,
para 11,50%, em 1991. Comparada com a performance brasileira, a
geração de IPI no Ceará cresceu de 0,76% para 0,87%.
Entretanto, há de se notar
que a indústria cearense parece ter diminuído sua capacidade de
empregar mão-de-obra, haja vista a considerável redução no numero
de pessoas ocupadas: de um emprego de 598.637 trabalhadores, em
1981, este segmento econômico empregou, apenas, 454.521 pessoas,
apresentando uma redução de 24% em sua capacidade empregadora.
Que
conclusões podemos tirar dessas informações? De princípios parece
inconteste que a indústria cearense durante a chamada “década perdida”
mostrou uma vitalidade que não se verificou quer no Nordeste, quer
no Brasil. E essa vitalidade, quando analisada dentro da própria
indústria, parece ter sido obtida por uma maior relação capital/trabalho
(já que o numero de pessoas ocupa das apresentou uma sensível diminuição)
e por uma, talvez, maior diversificação dos ramos industriais explorados
(tendo em vista que o numero de estabelecimentos aumentou).
A par deste ajuste interno
não podemos deixar de reconhecer que uma série de fatores benéficos
contribuíram para esta performance da indústria cearense: a seriedade
das ações do governo estadual a partir de meados da década passada
e o arrefecimento nas catástrofes climáticas a partir de 1987.
É sintomática a magnitude
da taxa acumulada de crescimento da economia cearense, ocorrida
no quinquénio 1987/91: 18,46% contra 8,24% para o Nordeste. Isto
significa uma taxa anual, média, 2,81%, quando no período 1960/87,
esta taxa foi de, apenas, 1,2%.
Todo esse conjunto de fatores:
adaptação da indústria à crise, a emergência de governos sérios
e a benevolência de Deus só poderia resultar no que estamos vendo.
Os dados da Tabela 2 refletem melhor os nossos argumentos.
Mas é gratificante vermos
o crescimento da indústria e da economia cearenses não pelo seu
crescimento em si, mas pelas consequências sociais de tal crescimento.
E aqui temos dois indicadores que refletem a melhoria do bem—estar
da população cearense: o crescimento do produto per capita(ver Tabela
2) e a diminuição continuada da taxa de mortalidade infantil, fato
reconheci do até internacionalmente.
Os
três fatores convergentes a que nos referimos podem ser melhor compreendidos
após a apresentação dos dados contidos na Tabela 3. Embora centrado
nos dados de 1990/91, não resta a menor dúvida que a melhor (embora
diminuta) na agudeza das estiagens muito contribuiu para a boa
performance do setor agrícola no ano de 1991, por exemplo. -
- - - . -
Do lado da indústria o desempenho
neste último ano foi expressivo, principalmente se tomarmos em consideração
a estai nação do setor a nível nacional(0,0%) e seu declínio na
Região Nordeste (—1,4%). No ano de 1991 a indústria cearense cresceu
L6%, crescimento este quase duas vezes superior ao verificado em
1990 (2,9%) . E este crescimento foi devido quase que exclusivamente
a indústria de transformação (especialmente os ramos de metalurgia,
mecânica, material elétrico, material de transporte, refino de petróleo,
têxtil, produtos alimentares e bebidas — que cresceram cada um a
uma taxa média de 6,7%) , tendo em vista que, infelizmente,
um outro importante ramo industrial, a construção civil, apresentou
um crescimento bastante modesto(0,9%)
Finalmente, a emergência de
governos sérios e volta dos para o bem—administrar da coisa pública
teve como consequência, após quase um quinquénio de persistente
e continuo ajuste fiscal, a manutenção em ordem das finanças estaduais,
resgatando a capacidade de poupança do setor público no Estado.
Para termos uma ideia de tal capacidade, é bastante conhecermos
que em 1991 o volume de investimentos do Governo Estadual cresceu,
em relação a 1990, 26,2% reais, consolidando um patamar de US$ 17
milhões/mês na rubricadas despesas de capital.
É este o perfil da indústria
cearense: pequena, mas aguerrida; diminuta, mas crescente; acuada,
mas inovadora.
E para 1992, quais as perspectivas?
Levando-se em consideração
os indícios já levantados pelos órgãos de pesquisas estaduais, as
perspectivas são de expansão da economia e da indústria cearenses
acima das taxas espera das para o Nordeste e para o País. De fato,
levando-se em consideração as taxas de incremento
real dos investimentos do Governo Estadual e da Prefeitura de Fortaleza,
as indicações técnicas da possível ocorrência de condições climáticas
favoráveis, e o continuado crescimento das exportações do Ceará,
não pode ser outra senão a perspectiva de repetência de taxas de
crescimento superiores aquelas a serem obtidas pelo Nordeste e pelo
Brasil.
Mas, atualmente, tudo depende
de termos estabilidade política para trabalharmos e produzir.
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