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Discurso proferido pelo Dr. Luiz Esteves Neto, presidente da FIEC, quando da visita do Deputado Paes de Andrade, Presidente da Câmara Federal e Presidente da República em Exercício.
Fortaleza, 24 de fevereiro de 1989



Não diremos da honra e alegria de que somos possuídos no momento em que recebemos a visita de vossa excelência.

Não diremos do orgulho que, como cearense, sentimos por ter um nosso conterrâneo como o mais alto mandatário da nação.

Nem sequer diremos da esperança que nos invade no momento em que um alencarino, da melhor cepa, ocupa os cargos de presidente da câmara de deputados e de presidente da república.

Esses sentimentos vossa excelência não pode ver em nossas mentes, mas pode perceber em nossas fisionomias. Nem que queiramos, poderemos ocultá-los. assim, desnecessário se faz proclamá-los.

Inspirados por eles, senhor presidente, queremos hoje homenagear o homem público que ao longo de tantos anos de atividade política tem sido um exemplo de combatitividade e dedicação à causa pública e à terra cearense.

Não queremos cantar loas ao cidadão Paes de Andrade, mas mostrar a nossa admiração pelo homem que, saindo do nordeste, de Mombaça, confins do sertão central do ceará, galga, por méritos próprios, o mais alto posto da hierarquia pública nacional.

A atuação do deputado Paes de Andrade começa, em 1950, quando da primeira vez se elege deputado estadual,           daí participando, ininterruptamente, de todas as lutas políticas que se travaram neste pais. algumas de caráter restrito, local, cearense; outras, de caráter nacional. umas parecendo diminutas; outras, soberbas.

Mas em todas, estuando a coragem, a fibra, a pertinácia e - mais que tudo a lealdade e o cavalheirismo, servindo sempre à política, e nunca à politicagem.

Nestes muitos embates de sua vida pública, Paes de Andrade colheu muitas vitórias e algumas, porém, poucas derrotas. E foi justamente nas derrotas que soube afirmar-se como o político de escol, transformando-as em ensinamentos. com humildade aceitou-as e incorporou-as ao conhecimento da ciência política, para mais tarde transfigura-las em vitórias.

Quais delas teriam sido as mais relevantes? para o político, as vitórias nas urnas talvez tenham sido as mais significativas; para o deputado federal, a escolha pelos seus pares para presidi-los, a mais dignificante; mas, para o cidadão Paes de Andrade, temos certeza que a vitória mais festejada, foi sua contribuição para reinstalar a democracia no lugar da ditadura, a vitória do estado de direito sobre o estado de exceção.

A esse feito, dedicou vinte anos de sua existência, justamente no período da vida em que o homem adquire a plena naturidade. o melhor de sua existência foi dessa forma, posta a serviço da democracia, com o esquecimento dos próprios interesses e até com a imposição de sacrifícios à sua família, para lutar pelo ideal de restituir a liberdade aos brasileiros.

Esta é a saga do atual Presidente da Câmara Federal. O hoje presidente da República. e ao entoá-la não estamos fazendo um elogio gracioso. testemunhamos a verdade.

Senhor presidente, sabemos que o ideário político de vossa excelência baseia-se no tripé: homem livre, democracia, nação forte.

Não há, porém, homem livre se não há economia livre, florescente, onde o bem estar social de todos os cidadãos não seja o status quo; não haverá democracia onde proliferem multidões de desnutridos, desempregados, analfabetos. e não haverá nação forte enquanto esta permitir em seu seio grandes bolsões de miséria absoluta.

Dissemos no começo desta fala que não íamos dizer de nossas esperanças, mas temos o dever de proclamar as nossas certezas:

Estamos certos, de principio, que toda classe empresarial cearense apoiará incondicionalmente, a luta para cumprir a etapa, que também sempre esteve no rol de suas preocupações, qual seja a de tirar o nordestino, da atual condição de aparvalhamento social e económico.

O primeiro passo dessa batalha é sustar a luta geopolítica que os estados nordestinos têm travado entre si, o que os obriga sempre a receber as migalhas dos cofres da república.

Sem a integração industrial dos parques manufatureiros do norte e nordeste, através de uma conjugação de esforços .em busca do equilíbrio econômico, jamais essas unidades federativas superarão o subdesenvolvimento.

Pedimos, por isso, ao presidente da câmara, para que lute com denodo, e com todo seu prestigio para que aquela casa do povo não desvirtue, através de leis complementares, o espírito revolucionário da nossa nova carta magna, voltada para a assistência aos estados carentes.

Constrange-nos, senhor presidente, constatar que dispositivos constitucionais estejam sendo descumpridos, e em detrimento, exatamente, das regiões pobres do brasil.

Temos certeza de que vossa excelência propugnará pela imediata transferência dos recursos destinados as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste e que não tem sido cumprida, subtraindo delas montante hoje superior a cem milhões de cruzados novos, infelizmente ainda acrescidos dos malefícios advindos do desrespeito à regionalização orçamentária também consagrada pela constituição.

Queremos, presidente Paes de Andrade, queridos pais, seja o porta dor do apelo ao deputado presidente da câmara para que se empenhe pela disciplinação correta dos depósitos dos recursos relativos a programas e projetos regionais, bem como de que seja deflagrada uma vigilância constante e incisiva para que os incentivos fiscais regionais não continuem sendo solapados, minguando, inexplicavelmente, a cada ano.

Finalmente, senhor presidente, estamos certos na crença de que o nordeste não é só o “maior bolsão de pobreza absoluta do ocidente”, mas é também uma região economicamente viável, capaz de contribuir para a unidade e o engrandecimento da nação brasileira.

Para isso, repetimos, é fundamental a eliminação da diferença econômica em que está afundado o estado do Ceará carente muitos anos de um empreendimento de grande porte, cuja exequibilidade só será possível com recursos federais. Uma vista para fora de nossas fronteiras mostra claramente essa realidade: enquanto a prosperidade se alça nos territórios de nossos estados irmãos nordestinos, clamamos inutilmente pela ajuda que nos falta.

Não se argua contra o cearense, incompetência ou acomodação.

A liderança e o sucesso que ele sempre conquista quando tenta a sorte noutras terras bem confirmam a assertiva.

Na verdade carecemos de apoio para lutar junto com o atual governo do ceará, na sua determinação e ação para colocar nosso estado em condições de conquistar um lugar ao sol no progresso e desenvolvimento.

A prova disso é a instalação recentemente acertada da indústria automobilística em nosso estado e o esforço para conquistar outros empreendimentos industriais exclusivamente com recursos cearenses, quer públicos ou privados.

Não nos basta participar, coletivamente, do projeto das ZPES já aprovado. Necessitamos de um quinhão próprio que se cristalizará na vinda para o Ceará da refinaria de petróleo do nordeste, aspiração que já tem toda força da decisão técnica a nosso favor.

A essa decisão falta se agregar o fator político e por ele é que pugnamos, na certeza de que o bom senso, a necessidade de implantar o equilíbrio social no nordeste brasileiro e o patriotismo guiarão nossos dirigentes para a solução em favor do ceará.

Nessa peleja vossa excelência pode ser nosso valoroso guia e aliado.

Quem se empenhou numa luta de 20 anos pela conquista de uma democracia que era apenas uma ténue esperança aparente mente inatingível, sabe certamente como batalhar pela redenção econômica do seu povo.

Povo que não se chama cearense, que não se chama nordestino, nortista ou sulista, mas povo brasileiro que deseja ver resgatada a figura do político nacional, íntegro, expungido de todas as mazelas herdadas de adversas circunstâncias históricas, defensor da moral, da ética da prosperidade e do bem-estar da nação brasileira.

Nós sabemos que Paes de Andrade empenhado nos exemplos de políticos da envergadura e dinamismo dos cearenses José Martins Rodrigues e Virgílio Távora, nós sabemos, repetimos, que Paes de Andrade é mais do que presidente da república é mais que o presidente da câmara, é a imagem desse novo político pelo qual esperam todos brasileiros e a quem o empresariado cearense saúda e aplaude.