Falar
sobre administração para uma plateia de administradores não é tarefa
das mais fáceis, mormente quando a matéria é de tão vasto horizonte
e tão antiga quanto a própria humanidade.
Na realidade, acredito que
o homem já nasceu administrando. talvez esta primazia de ser a primeira
ciência do homem, a administração só perca para a economia, a crer
em uma piada do professor Milton Friedman, “papa” dos economistas
ortodoxos. de acordo com aquele mestre, estavam a conversar um engenheiro,
um administrador e um economista, cada um defendendo a ciência de
sua especialidade. o engenheiro, buscando reforçar sua posição foi
taxativo: a engenharia e a primeira ciência por que deus quando
quis criar o homem, construiu primeiro o universo. quem constrói
e o engenheiro! de chofre, o administrador rebateu a argumentação
do engenheiro lembrando que deus primeiro fez um cronograma para
construir o mundo em cinco dias e ai estava o dedo do administrador.
bobagem, saltou de lá o economista. antes de deus construir o mundo,
o que havia?, perguntou este. o caos, responderam os outros dois.
pois bem, ai estava o economista!
A julgar pela situação do Brasil atual e bem possível que aquele economista
de Friedman estivesse com a razão!
Apesar do tom jogoso da anedota
ela tenta mostrar quão antiga e a arte de administrar. porque, no
mínimo, o homem começou administrando seu próprio tempo. assim,
ao pensamento cartesiano, “penso, logo existo” poder-se-ia acrescentar,
“... e sou administrador”.
Não infiram das minhas palavras
a ideia de que estou reduzindo a administração a uma atividade vegetativa.
Quero apenas lembrar que, da mesma forma que o homem é, essencialmente,
um ser gregário, religioso e político, ele é, também, administrador,
pois que, no mínimo, administra sua própria vida.
Temos, portanto, que há uma
intuição administrativa em todos nós. mas somente a intuição não
basta, quando se trata de administrar. É preciso evoluir-se para
o processo científico.
Há pouco falei propositadamente
da “arte de administrar”, e agora refiro-me ao processo cientifico.
Com isso quero trazer a cena a dicotomia que muitos vem na administração:
arte versus ciência.
Não sendo especialista no
assunto quero crer que a arte vem da intuição, mas só isso não foi
suficiente. Foi preciso a conjugação do melado cientifico para que
a administração acompanhasse e as vezes ate determinasse, a evolução
da raça humana.
A criação da própria atividade
empresarial reflete o somatório de conhecimento em administração
que a humanidade vinha acumulando ao longo do período pré-histórico,
antiguidade, ate os primórdios da idade media (sec. 12), era do
surgimento do mercantilismo e do surgimento da empresa formal, como
hoje a conhecemos.
De inicio surgiram as empresas
comerciais e as casas bancarias, para as quais se exigia um certo
grau de qualificação e determinado nível de conhecimento da arte
de administrar no mínimo era necessário o conhecimento dos mercados
consumidores e produtores, das rotas marítimas e terrestres, da
credibilidade da casa bancária, e do comerciante, de alguma noção
de contabilidade. neste estagio, o homem não administrava só o seu
próprio tempo, mas o tempo de outros homens, pois as tarefas já
eram muitas e dispersas.
Mas, a humanidade continuou
a evoluir e passou de um sistema eminentemente artesanal para a
era mecânica. chegamos a revolução industrial.
Se a qualificação administrativa
do empresário – artesão diminuiu em termos do fazer, a qualificação
no administrar a distribuição de bens e tarefas ampliou-se ao se
ter o empresário-administrador.
Nesse estágio de qualificação
administrativa, o meto do cientifico já começava a suplantar a intuição.
Não nos esqueçamos que, como
em qualquer área do conhecimento humano, a qualificação administrativa
e um fenômeno temporal, extremamente mutável, sendo função do estado
da tecnologia e do desenvolvimento social no qual o administrador
se insere.
Mas devemos agora fazer uma
reflexão. essa assertiva e uma verdade absoluta? ou seja, a qualificação
profissional e causa ou efeito dessa tecnologia e desenvolvimento
social? Achamos que ela pode ser causa ou efeito.
Se a qualificação do profissional esta na fronteira do
conhecimento da área, ela pode tornar-se causa. se a qualificação
está aquém dessa fronteira, temos um agente de um paradigma. E ai
tem-se o efeito.
Desta forma, temos que a qualificação é ordinável, temporal
e localizada ou setorial.
No campo da administração
temos o exemplo clássico da revolução provocada por Frederick W.
Taylor e Henri Fayol.
Talvez valesse a pena determo-nos
um pouco no processo escolástico utilizado por Frederick W. Taylor
para romper o paradigma da época: o seu sistema de tempos &
movimentos. Começando da observação empírica do tempo gasto em determinadas
tarefas e vendo os desperdícios ai embutidos e aceitando a hipótese
de que a racionalidade deve imperar em qualquer atividade humana,
Taylor desenvolveu várias experiências de processos produtivos na
Bethlehem Steel Works, até conseguir que 146 empregados fizessem
o trabalho de 600 operarias, com menos esforço físico, obedecendo
apenas a uma sucessão racional de tarefas.
Como podemos verificar, a
partir de uma concepção abstrata e utilizando-se do método empírico,
foi possível a Taylor estabelecer uma verdadeira revolução no campo
administrativo.
Vemos, então, que a qualificação
e fruto, lambem, da criatividade abstrata e do que o inglês chama
“Learning Bydoing”. o primeiro reflete o conhecimento, a tecnologia,
a ciência; o outro, a tenacidade, a constância, o labor.
Sendo fruto do próprio contexto
que a cerca, a empresa pode ver a qualificação administrativa sob
dois ângulos: o fazer bem e o pensar bem. o fazer bem e fruto da
tradição, do treinamento, da constância, enfim. e a qualificação
exigida para manter o paradigma. o pensar bem e antever o futuro,
e a criação, e a revolução, em suma. qual a empresa prefere ou investe
em?
Obviamente isso depende de vários fatores: creio que mais
importante e a pressão do mercado. seguem-se-lhe em importância:
o contexto tecnológico em que se situa a empresa; o discernimento
do empresário-administrador; a situação econômica, da empresa; o
apoio governamental.
Se o mercado e plenamente favorável, a qualificação exigida
pela empresa pode ser a mínima possível. ela pode se contentar em
ofertar o seu produto, as vezes sem sequer preocupar-se se o está
manufaturando da melhor maneira possível. Esta pode ser a situação
de um mercado monopolístico ou oligopolístico. Alguns setores da
indústria nacional são bons exemplos desse fenômeno. neste caso,
ate a qualificação empresarial pode ser baixíssima.
Se há um concorrente, mesmo
que pequeno, a qualificação exigida pela empresa já poderá ser bem
maior aquela da situação anterior.
Qualquer
que seja a situação de mercado na qual se insere a empresa, se ela
e exposta a um contexto tecnológico que a beneficia, haverá
a possibilidade de a empresa exigir um maior grau de qualificação
profissional de seu quadro de pessoal para a absorção dos benefícios
de tal exposição.
Mas, mesmo aqui e possível
que a situação econômico financeira da empresa não permita qualificar
melhor sua mão-de-obra. por isso e que, as vezes, o apoio governamental
se faz necessário.
No atual estágio da indústria nacional,
parece-nos que a qualificação profissional exigida está mais no
fazer bem, que no pensar bem.
É claro que tal estagio e
fruto de todo o processo de industrialização brasileira, baseado
fortemente na reserva de mercado, o que determina uma certa acomodação
do empresariado.
Também contribuiu para esse
estagio o aparente alheamento da universidade as dificuldades da
industria, tendo em contra-partida a resistência, hoje superada,
do industrial em conviver com o homem de pensamento, de gabinete
ou de laboratório. tudo isso coadjuvado pelo pouco apoio governamental
a pesquisa e desenvolvimento.
Mas a hora e chegada para a implementação
do pensar bem. o avanço tecnológico atual e de tamanha dinamicidade
que a empresa não se pode contentar com o fazer bem. e preciso o
concurso da inventividade criadora. assim, necessário se faz o estreito
relacionamento do saber com o fazer. da universidade com a indústria.
A hora é chegada para uma completa
reformulação do comportamento do empresário e do cientista, ambos
voltados para o entendimento mútuo, na busca de melhores padrões
de produtividade e de melhores condições de vida para a sociedade.
Urge que a universidade reformule
seus currículos acadêmicos para adaptá-los a realidade da industria.
e fundamental que a indústria abra suas portas ao saber. que os
empresários percam o acanhamento de sua ignorância científica e
aceite o apoio do acadêmico, e que o cientista saia de sua redoma
para sujar as mãos nas oficinas de produção.
Tendo em vista que ambos os
comportamentos, dos empresários e dos acadêmicos, estão arraigados
por anos de isolamento, necessário se fez a criação de uma entidade
que fosse, pouco a pouco, aparando as arestas no relacionamento
desses dois segmentos. Daí nasceu o instituto Euvaldo Lodi, órgão
ligado as federações de industrias, mas fortemente apoiado nas universidades.
No caso do ceará, deve-se
assinalar a contribuição do IEL e da FIEC para os avanços na busca
pelo perfeito entrosamento entre a universidade e a indústria.
Dessa conjugação de esforços, a industria já recebeu 421
estagiários, supervisionados por professores universitários, propiciando
à universidade e a industria uma troca de informações de grande
valia para ambos.
Ainda do esforço FIEC/UNIVERSIDADE,
estão sendo criados centros de estudos e de desenvolvimento tecnológico,
em inúmeros setores industriais, como por exemplo, o CEPEQ – Centro
de Pesquisa e Desenvolvimento da Indústria Química do Estado do
Ceará.
Vale notar que o esforço de
junção UNIVERSIDADE/INDÚSTRIA não se restringe, a universidade do
Ceará e a FIEC, haja vista o recente seminário “integração UNIVERSIDADE/INDÚSTRIA:
geração e transferência de tecnologia para o norte e nordeste”,
o qual contou com o decisivo apoio de todas as universidades e federações
de industria das duas regiões.
Resta-nos dizer que o caminho
ainda e muito longo. A qualificação profissional necessária a empresa,
é preciso que formemos tais profissionais, o que requer um esforço
continuado e de todos: empresários, acadêmicos, governo, e profissionais
liberais.
Muito obrigado.
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