A
Inquietação sempre marcou os grandes momentos da evolução social
humana.
O simples olhar sobre a História
quer dos povos, quer das comunidades, quer das entidades, mostra
o borbulhar da ansiedade e, a violência das paixões assinalando
com marcas indeléveis os maiores instantes do mundo.
É natural que assim seja.
O homem é o componente básico
das sociedades e ele mesmo e um feixe de sentimentos vergastado
ora pela necessidade, ora pelo desejo incontido de avançar no desconhecido,
nem sempre senhor do risco de ser, a qualquer tempo, tolhido e frustrado
pela sua própria pequenez.
Não ë temerário afirmar que
a sociedade brasileira vive, mais uma vez, esse momento.
Momento carregado de desejo
de enxergar novos caminhos ou de trilhar com outros passos as estradas
que já foram abertas.
A nossa Federação não ficou infensa a essa realidade.
Viveu e vive o momento brasileiro.
Mas o faz com a consciência
e a serenidade de quem sente aos pés o alicerce firme sobre o qual
foi plantada.
Alicerce construído com trabalho
e idealismo por todas as diretorias que a comandaram.
Cada uma delas cumprindo uma
parte da tarefa maior.
Muitas delas, enfrentando
o sacrifício de contenção de meios ou o guante da pressão estatal,
fruto da viciada e obsoleta legislação sindical que ainda nos rege.
Outras - como a que agora
substituímos - se traçando um rumo ditado pela percepção de que
somos - os subdesenvolvidos do nordeste - carentes de uma visão
exata e cientifica da nossa realidade social.
Esse foi, fundamentalmente,
o trabalho a que se dedicaram as diretorias presididas por José
Flávio Costa Lima. E por essa opção que foi a de pesquisar, a de
avaliar, a de investigar os fatos sociais nordestinos e cearenses
– só podemos aplaudir o ilustre presidente que marcou de forma ímpar
o cargo que ocupou com inteligência, sobraceria, altivez e honestidade.
É a uma diretoria de tal jaez
que estamos substituindo.
Encontramos um farto e valioso
apoio que aqui foi fixado e é chegado o momento de utilizarmos de
forma adequada e pratica o que nos foi deferido.
Pretendemos, a Diretoria que hoje se empossa, fazer com que esta Federação continue
sendo o fórum da indústria cearense, mas a queremos também uma fábrica
e um campo de bom combate.
Aqui continuaremos a debater os problemas cruciais do Ceara sem esquecer de
que somos uma peça do Nordeste e de que nossa força há de
se tornar maior na medida em que não nos divorciarmos da problemática
regional.
Por isso e com isso pretendemos e conseguiremos fabricar o progresso do Ceará,
na tarefa de reduzir não mais a diferença que sempre nos distanciou
do .desenvolvimento do centro-sul, mas o fosso que pouco a pouco
se aprofunda, em relação aos nossos próprios irmãos nordestinos,
pela nossa passividade e insistência em chorar ao invés de reivindicar,
de clamar, em lugar de exigir.
Tentaremos a precisão e a objetividade, elegendo e perseguindo como desde agora
o fazemos, objetivos principais: lutar para sediar a refinaria de
petróleo do Nordeste a qualquer tempo em que isso for decidido,
exigir a implantação do polo mineral de Itatiaia, não só pela exploração
do urânio, mas também pelo aproveitamento do seu fosfato necessário
ao projeto de irrigação do Nordeste, reivindicar a reformulação
e imediata execução da planta siderúrgica do Ceará e, por fim, dar
todo e mais amplo apoio às micro, pequenas e médias indústrias desde
que elas compõem 98,4% do universo industrial das 3.300 indústrias
do Ceará, segundo dados levantados pela Secretaria da Indústria
Comércio no ano de 1985.
Essa manifestação em favor das pequenas indi7istrias pode parecer um favorecimento.
E, na verdade, a pública declaração de que não ë verdadeira a acusação de elitismo
que vez por outra, aberta ou veladamente, é levantada contra esta
Entidade.
O empresário, e sobretudo o industrial, é afeito à análise prática e objetiva
dos fatos.
Não podemos, assim, desconhecer o peso das pequenas empresas e muito menos alimentar
qualquer intenção discriminativa como for ma de cercear o legitimo
direito à representação de qualquer setor industrial.
A presença na Presidência da Federação das Indústrias do Estado do Ceará de
um médio industrial cearense afirma de forma insofismável que a
democracia e a representação ampla imperam nesta casa.
A abertura sempre existiu e foi praticada na FIEC. Talvez tenha lhe faltado
divulgação e afirmação.
Sua proclamação, neste primeiro momento desta Diretoria, de alto e bom som quais
são os propósitos que nós assumimos.
A vivência da realidade cearense nos manda pedir e crer no desejo participante
do micro, do pequeno e do médio industrial.
O
conhecimento do industrial cearense nos autoriza afirma que esta
~ a forma onde a inventiva, a improvisação e a força de trabalho
do pequeno poderão beber a experiência dos grandes; onde os conflitos
de interesses ou de atividades podem e devem ser discutidos com
l sura e franqueza; onde, afinal, a economia se beneficiará pela
troca de serviços e produtos, de tecnologia e iniciativa que sempre
foram e, ai da são, a base de qualquer processo de desenvolvimento.
Não conhecemos, nem acreditamos em nenhum outro processo salvação da economia
cearense que não se arrime no trabalho e congraçamento.
Mais ainda, na soma de todas as forças sempre que estejam em jogo o futuro do
Estado.
Entendemos que é hora de abandonar o pires da mendicância para empunhar a reivindicação
racional e desassombrada para enfrentar com firmeza, o descaso dos
governos e autoridades às nossas necessidades.
Há algum tempo esta Federação estendeu, humilde e convicta a mão à comunidade
universitária do Ceará.
Dessa providência de iniciativa de José Flávio Costa Lima surgiu o Conselho
de Política Económica e Social da Indústria Cearense gerando o contato
íntimo e intenso entre a inteligência dos mestres universitários
com o pragmatismo dos industriais do Ceará.
O
fato mais palpável desta troca de conhecimento e apoio se traduz
hoje na luta pela refinaria que galvanizou ponderáveis e respeitáveis
setores da sociedade, a partir de corajoso alerta do professor Ariosto
Holanda, de pronto secundado pela nossa imprensa que nunca negou
seu apoio ou sua crítica justa as causas cearenses.
Não basta, porém, esse resultado, ou um só resultado.
Necessitamos de mais combatentes para uma luta que não ter trincheiras nem fronteiras,
porque urge avançar e conquistar o futuro do Ceará e a redenção
da sua indústria.
Somos conscientes do dever de participação também na vida socio-política de
nossa terra.
Cremos não poder fazer melhor
para o bom desempenho desse desiderato, do que concitar as forças
políticas que ora se degladiam para que formem um pacto de desarmamento
dos espíritos, de deposição das armas tão logo cessem as refregas
da campanha.
A indústria cearense tem plena
convicção de que seu anseio é de todos aqueles que desejam realmente
a vitória da terra comum, antes da conquista de cargos ou de interesses.
Só a junção franca e leal do trabalho, da experiência, do entusiasmo da juventude,
do conhecimento de todos os segmentos da sociedade, da administração
proba e isenta de paixões da coisa publica, serão capazes de nos
colocar no rumo de uma reação efetiva.
A nova Diretoria da Federação das Industrias já se encontra nessa senda, e sabe
que não está só.
Todas as outras entidades empresariais do Ceará, a quem saudamos efusivamente,
têm o mesmo propósito e junto seremos uma força que reivindica o
direito de ser auscultada quando está ou estiver em lide os interesses
do Ceará.
E a posição do industrial cearense nos insere na orientação geral que nos vem
da Confederação Nacional da Industria, onde sob o comando do Presidente
Albano Franco o industrial brasileiro reclama há tanto tempo o respeito
aos recursos públicos e a contenção de gastos do Estado, afim de
que o investimento privado não volte a ser derrotado pela especulação
argentária.
Essas premissas são indispensáveis
para que o capital continue sendo aplicado nas atividades geradoras
de lucros sadios que reinvestidos criarão novos empregos e a justa
distribuição da renda, desaguando por fim na paz social.
Excelentíssimas Autoridades:
Meus Senhores e minhas Senhoras:
Meus amigos empresários cearenses:
Meus companheiros industriais
cearenses:
Falei até aqui no plural.
Não por força do uso de uma
comum e polida figura gramatical mas para demonstrar que nossa ação
será sempre colegiada, dando atenção ao interesse comum antes do
o particular.
Permitam-me,
porém, agora, um momento pessoal de emoção e de vaidade:
Deus foi extremamente generoso
comigo quando me fez nascer num berço forrado pelo ouro das virtudes
de meu pai e de minha mãe;
Deus
foi extremamente generoso comigo quando me deu uma família
que tem por escopo o trabalho e por lema o respeito a dignidade
humana;
Deus foi extremamente generoso
comigo quando me deu amigos de tal bondade que enxergaram em mim
o direito de ocupar a primeira fila da Diretoria da FIEC ou que
se deram ao incómodo, quase ao sacrifício, de aqui chegarem para
abrilhantar esta solenidade.
Confesso-me, por isso, um
devedor e acreditando que a gratidão deve figurar em primeiro lugar
no rol das virtudes do homem, desejo praticá-la.
Não vejo outra forma de retribuir
tanto favor recebido senão com o compromisso formal de empenhar
todo o meu esforço e toda a capacidade que me foi dada, para honrar
o passado e o presente da nossa Federação. Assim, contribuirei com
minha pequena parcela para o trabalho brilhante que certamente será
desenvolvido pelos meu companheiros, eles sim, figuras centrais
desta comemoração, pois serão, tenho certeza, os artífices devotados
e coesos do grande e árduo trabalho a que nos propomos.
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