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Discurso do Presidente da FIEC, Dr. Luiz Esteves Neto, na solenidade comemorativa da Posse da nova Diretoria da entidade, eleita para o triênio 1986-1989.
Fortaleza, 03 de outubro de 1986


A Inquietação sempre marcou os grandes momentos da evolução social humana.

O simples olhar sobre a História quer dos povos, quer das comunidades, quer das entidades, mostra o borbulhar da ansiedade e, a violência das paixões assinalando com marcas indeléveis os maiores instantes do mundo.

É natural que assim seja.

O homem é o componente básico das sociedades e ele mesmo e um feixe de sentimentos vergastado ora pela necessidade, ora pelo desejo incontido de avançar no desconhecido, nem sempre senhor do risco de ser, a qualquer tempo, tolhido e frustrado pela sua própria pequenez.

Não ë temerário afirmar que a sociedade brasileira vive, mais uma vez, esse momento.

Momento carregado de desejo de enxergar novos caminhos ou de trilhar com outros passos as estradas que já foram abertas.

A nossa Federação não ficou infensa a essa realidade.

Viveu e vive o momento brasileiro.

Mas o faz com a consciência e a serenidade de quem sente aos pés o alicerce firme sobre o qual foi plantada.

Alicerce construído com trabalho e idealismo por todas as diretorias que a comandaram.

Cada uma delas cumprindo uma parte da tarefa maior.

Muitas delas, enfrentando o sacrifício de contenção de meios ou o guante da pressão estatal, fruto da viciada e obsoleta legislação sindical que ainda nos rege.

Outras - como a que agora substituímos - se traçando um rumo ditado pela percepção de que somos - os subdesenvolvidos do nordeste - carentes de uma visão exata e cientifica da nossa realidade social.

Esse foi, fundamentalmente, o trabalho a que se dedicaram as diretorias presididas por José Flávio Costa Lima. E por essa opção que foi a de pesquisar, a de avaliar, a de investigar os fatos sociais nordestinos e cearenses – só podemos aplaudir o ilustre presidente que marcou de forma ímpar o cargo que ocupou com inteligência, sobraceria, altivez e honestidade.

É a uma diretoria de tal jaez que estamos substituindo.

Encontramos um farto e valioso apoio que aqui foi fixado e é chegado o momento de utilizarmos de forma adequada e pratica o que nos foi deferido.

Pretendemos, a Diretoria que hoje se empossa, fazer com que esta Federação continue sendo o fórum da indústria cearense, mas a queremos também uma fábrica e um campo de bom combate.

Aqui continuaremos a debater os problemas cruciais do Ceara sem esquecer de que somos uma peça do Nordeste e de que nossa força há de se tornar maior na medida em que não nos divorciarmos da problemática regional.

Por isso e com isso pretendemos e conseguiremos fabricar o progresso do Ceará, na tarefa de reduzir não mais a diferença que sem­pre nos distanciou do .desenvolvimento do centro-sul, mas o fosso que pouco a pouco se aprofunda, em relação aos nossos próprios irmãos nordestinos, pela nossa passividade e insistência em chorar ao invés de reivindicar, de clamar, em lugar de exigir.

Tentaremos a precisão e a objetividade, elegendo e perseguindo como desde agora o fazemos, objetivos principais: lutar para sediar a refinaria de petróleo do Nordeste a qualquer tempo em que isso for decidido, exigir a implantação do polo mineral de Itatiaia, não só pela exploração do urânio, mas também pelo aproveitamento do seu fosfa­to necessário ao projeto de irrigação do Nordeste, reivindicar a reformulação e imediata execução da planta siderúrgica do Ceará e, por fim, dar todo e mais amplo apoio às micro, pequenas e médias indústrias desde que elas compõem 98,4% do universo industrial das 3.300 indústrias do Ceará, segundo dados levantados pela Secretaria da Indústria Comércio no ano de 1985.

Essa manifestação em favor das pequenas indi7istrias pode parecer um favorecimento.

E, na verdade, a pública declaração de que não ë verdadeira a acusação de elitismo que vez por outra, aberta ou veladamente, é le­vantada contra esta Entidade.

O empresário, e sobretudo o industrial, é afeito à análise prática e objetiva dos fatos.

Não podemos, assim, desconhecer o peso das pequenas empresas e muito menos alimentar qualquer intenção discriminativa como for ma de cercear o legitimo direito à representação de qualquer setor in­dustrial.

A presença na Presidência da Federação das Indústrias do Estado do Ceará de um médio industrial cearense afirma de forma insofismável que a democracia e a representação ampla imperam nesta casa.

A abertura sempre existiu e foi praticada na FIEC. Talvez tenha lhe faltado divulgação e afirmação.

Sua proclamação, neste primeiro momento desta Diretoria, de alto e bom som quais são os propósitos que nós assumimos.

A vivência da realidade cearense nos manda pedir e crer no desejo participante do micro, do pequeno e do médio industrial.

O conhecimento do industrial cearense nos autoriza afirma que esta ~ a forma onde a inventiva, a improvisação e a força de trabalho do pequeno poderão beber a experiência dos grandes; onde os conflitos de interesses ou de atividades podem e devem ser discutidos com l sura e franqueza; onde, afinal, a economia se beneficiará pela troca de serviços e produtos, de tecnologia e iniciativa que sempre foram e, ai da são, a base de qualquer processo de desenvolvimento.

Não conhecemos, nem acreditamos em nenhum outro processo salvação da economia cearense que não se arrime no trabalho e congraçamento.

Mais ainda, na soma de todas as forças sempre que estejam em jogo o futuro do Estado.

Entendemos que é hora de abandonar o pires da mendicância para empunhar a reivindicação racional e desassombrada para enfrentar com firmeza, o descaso dos governos e autoridades às nossas necessidades.

Há algum tempo esta Federação estendeu, humilde e convicta a mão à comunidade universitária do Ceará.

Dessa providência de iniciativa de José Flávio Costa Lima surgiu o Conselho de Política Económica e Social da Indústria Cearense gerando o contato íntimo e intenso entre a inteligência dos mestres universitários com o pragmatismo dos industriais do Ceará.

O fato mais palpável desta troca de conhecimento e apoio se traduz hoje na luta pela refinaria que galvanizou ponderáveis e respeitáveis setores da sociedade, a partir de corajoso alerta do professor Ariosto Holanda, de pronto secundado pela nossa imprensa que nunca negou seu apoio ou sua crítica justa as causas cearenses.

Não basta, porém, esse resultado, ou um só resultado.

Necessitamos de mais combatentes para uma luta que não ter trincheiras nem fronteiras, porque urge avançar e conquistar o futuro do Ceará e a redenção da sua indústria.

Somos conscientes do dever de participação também na vida socio-política de nossa terra.

Cremos não poder fazer melhor para o bom desempenho desse desiderato, do que concitar as forças políticas que ora se degladiam para que formem um pacto de desarmamento dos espíritos, de deposição das armas tão logo cessem as refregas da campanha.

A indústria cearense tem plena convicção de que seu anseio é de todos aqueles que desejam realmente a vitória da terra comum, antes da conquista de cargos ou de interesses.

Só a junção franca e leal do trabalho, da experiência, do entusiasmo da juventude, do conhecimento de todos os segmentos da sociedade, da administração proba e isenta de paixões da coisa publica, serão capazes de nos colocar no rumo de uma reação efetiva.

A nova Diretoria da Federação das Industrias já se encontra nessa senda, e sabe que não está só.

Todas as outras entidades empresariais do Ceará, a quem saudamos efusivamente, têm o mesmo propósito e junto seremos uma força que reivindica o direito de ser auscultada quando está ou estiver em lide os interesses do Ceará.

E a posição do industrial cearense nos insere na orientação geral que nos vem da Confederação Nacional da Industria, onde sob o comando do Presidente Albano Franco o industrial brasileiro reclama há tanto tempo o respeito aos recursos públicos e a contenção de gastos do Estado, afim de que o investimento privado não volte a ser derrotado pela especulação argentária.

Essas premissas são indispensáveis para que o capital continue sendo aplicado nas atividades geradoras de lucros sadios que reinvestidos criarão novos empregos e a justa distribuição da renda, desaguando por fim na paz social.

Excelentíssimas Autoridades:

Meus Senhores e minhas Senhoras:

Meus amigos empresários cearenses:

Meus companheiros industriais cearenses:

Falei até aqui no plural.

Não por força do uso de uma comum e polida figura gramatical mas para demonstrar que nossa ação será sempre colegiada, dando atenção ao interesse comum antes do o particular.

Permitam-me, porém, agora, um momento pessoal de emoção e de vaidade:

Deus foi extremamente generoso comigo quando me fez nascer num berço forrado pelo ouro das virtudes de meu pai e de minha mãe;

Deus foi extremamente generoso comigo quando me deu      uma família que tem por escopo o trabalho e por lema o respeito  a dignidade humana;

Deus foi extremamente generoso comigo quando me deu amigos de tal bondade que enxergaram em mim o direito de ocupar a primeira fila da Diretoria da FIEC ou que se deram ao incómodo, quase ao sacrifício, de aqui chegarem para abrilhantar esta solenidade.

Confesso-me, por isso, um devedor e acreditando que a gratidão deve figurar em primeiro lugar no rol das virtudes do homem, desejo praticá-la.

Não vejo outra forma de retribuir tanto favor recebido senão com o compromisso formal de empenhar todo o meu esforço e toda a capacidade que me foi dada, para honrar o passado e o presente da nossa Federação. Assim, contribuirei com minha pequena parcela para o trabalho brilhante que certamente será desenvolvido pelos meu companheiros, eles sim, figuras centrais desta comemoração, pois serão, tenho certeza, os artífices devotados e coesos do grande e árduo trabalho a que nos propomos.