Este
é um ato marcadamente democrático: o centro industrial do Ceará
renova aqui e agora sua Diretoria, a qual caberá a geração de suas
diretrizes ao longo dos próximos dois anos. Entidade de homogênea
linha de pensamento e atuação, o CIC não é um simples aglomerado
de pessoas em busca de cargos ou posições, mas um organismo aberto
e transparente, compromissado com a busca permanente da transformação
da sociedade brasileira.
Foi
a partir desse compromisso que nos firmamos com um dos mais legítimos
foros de debates do Nordeste.
Nossa
perfeita afinidade com as gestões anteriores não nos inibe, porém,
de buscar ações inovadoras, mesmo porque sabemos todos que o dinamismo
criativo é fator preponderante na vitalidade de qualquer instituição.
Entendemos, assim, que a renovação periódica dos nossos quadros
dirigentes é o exercício de uma prática saudável que permite o surgimento
e a formação de novas lideranças.
A
Diretoria por mim presidida tem uma intenção primordial – a de somar
mais forças, enriquecendo em número e qualidade o conjunto de nossos
associados. Pela participação responsável – que é obrigação de todos
ser consciente – desejamos influenciar positivamente os destinos
de nossas sociedade.
Este
evento registra-se em momento histórico de grave responsabilidade,
inserido num contexto de amplo e livre debate político proporcionado
pela redemocratização do país e pela implantação da nova república.
Longe de nos atemorizar, isso nos incentiva, posto que a própria
história recente do CIC está forte e publicamente ligada aos ideais
de democracia do povo brasileiro.
Participamos
de todos os movimentos suprapartidários que, vitoriosamente, defendem
o restabelecimento das eleições diretas. Fizemo-lo na convicção
inabalável de que o voto direto, secreto e universal é a própria
essência da democracia, pelo o que defendemos como a mais legítima
forma de expressão da vontade popular.
Sem
voto não há democracia, mas ditadura.
O
regime democrático é, entre as formas de estruturação social, o
que melhores condições de crescimento enseja ao homem, conferindo-lhe
ampla liberdade de pensamento, permitindo-lhe a plena organização
política e garantindo-lhe direta participação na composição de forças
do poder, criando mecanismos de luta contra as injustiças sociais.
É por isso que se costuma repetir que a pior democracia vale mais
do que a melhor ditadura.
O
restabelecimento da democracia traz como conseqüência reformulações
de nossas instituições e urgente aprimoramento de nosso comportamento
como ser social. Teremos de compatibilizar nosso discurso com ação
prática, sob pena de sermos expurgados do processo de transformação
da sociedade. Essa compatibilização discurso/ação, será nossa postura
e para a qual convidamos todos nossos políticos e dirigentes. De
nossa parte, sabemos que a harmonização dos discursos com a prática
exigirá, crescente conscientização das elites. Ou mudamos urgentemente
de comportamento ou estaremos sujeitos a inevitáveis retrocessos
político-institucionais. Não podemos deixar fugir o que tanto se
custou a conquistar.
As
aspirações e problemas nacionais são nossos também. É nosso dever
participar ativamente do movimento por uma nova constituição.
A
instalação de uma assembléia constituinte é de suma importância
a afirmação e aperfeiçoamento do sistema democrático, e lá deveremos
está convenientemente representados para que os interesses coletivos
sejam defendidos e inclusos na lei maior que regerá o país. A nova
constituição para ser duradoura e democrática tem que conter as
aspirações de todas as classes sociais, sob pena de ser promulgada
e mais uma lei ineficaz.
Defrontamo-nos,
presentemente, com o debate nacional sobre a reforma agrária, o
qual tem sido cercado de emocionalidade e radicalismo. Mas é preciso
que entendamos que a questão básica do debate refere-se ao futuro
de nossa ordem econômica. Entendemos a reestruturação fundiária
como o caminho correto pelo qual será possível - sem traumas –
multiplicar o número de proprietários rurais, ampliar o mercado
interno, crescer a produção de alimentos e fazer cessar as tensões
no campo, promovendo a justiça social.
Um
modelo econômico que somente atenda aos ideais de prosperidade de
poucos terá, certamente, curta duração. Neste caso, o direito maior
da busca de uma vida digna para todos se sobreporá. Pelo voto ou
pela força.
Devemos
estabelecer um firme compromisso com a nossa ainda incipiente democracia,
para o que, desde já, todos estão convidados. A nação exige de cada
um de nós a expressão clara de idéias e rejeita os dúbios, os indefinidos
e os omissos.
O
direcionamento que assumimos e desejamos para o processo de transformação
da sociedade brasileira apóia-se na livre iniciativa, que comprovadamente
é a única forma de organização econômica democrática e capaz de
manter o equilíbrio social e de gerar e distribuir a riqueza.
O
nosso atual modelo econômico sofreu, infelizmente, nas últimas duas
décadas desvios e distorções que nos causaram e ainda causam grandes
prejuízos, o estado abandonou sua básica função social para se dedicar
a tarefas econômicas que não lhe cabem. Em conseqüência, surgiram
dezenas de empresas estatais ineficientes que nada mais são do que
insaciáveis absorvedoras de dinheiros públicos. Não somos contra
a empresa estatal, mas somos radicalmente contrários à estatização.
Não
podemos omitir a opinião do CIC quanto às disparidades regionais.
Neste particular, alegram-nos as primeiras ações e intenções do
Governo do Presidente Sarney, que se esforça para cumprir sua promessa
de fazer desta região a mais importante prioridade nacional. A questão
nordestina, para cuja solução o Centro Industrial do Ceará mantém-se
empenhado é um desafio grave e inadiável que terá de ser enfrentado
agora.
São
animadoras as mudanças institucionais que o superintendente da SUDENE,
Dr. José Reinaldo Tavares, que muito nos honra com sua presença
neste ato, tem tomado para tornar aquela Autarquia um organismo
dinâmico, desburocratizado e novamente formulador do planejamento
regional. Compromissada, assim como o CIC, com o resgate da dívida
social que ao longo da história o Governo contraiu com o nordeste.
A SUDENE da nova república acena-nos com alguns programas essenciais,
como o que prevê a irrigação de um milhão de hectares, nos próximos
cinco anos, e o projeto nordeste, cujos os objetivos pretendem mudar
o quadro de miséria do meio rural, a partir da reestruturação fundiária
até a implantação de métodos eficazes de educação e saúde, que ponham
fim ao analfabetismo e às trágicas estatísticas de mortalidade infantil
que tornaram a região o maior bolsão de pobreza do mundo ocidental.
O
CIC reconhece – e sempre o disse em todos os auditórios – que o
nordeste é viável. Mas essa viabilidade não será jamais alcançada
enquanto os investimentos federais aqui não se fizerem na proporção
exata de sua grandeza demográfica.
Assumimos,
neste momento, a presidência do CIC. Fazemo-lo com a mesma humildade
com que reconhecemos as virtudes dos nossos antecessores – Beni
Veras, Amarílio Macedo, Tasso Jereissati e Sérgio Machado – as quais
serão bandeiras de estímulo para o trabalho que pretendemos desenvolver.
Por
fim e em meio a este momento de perplexidade, nós que temos fábricas
construídas em pedra e cimento, não podemos renunciar a nossa condição
de classe com grandes responsabilidades sociais, as quais, agora
mais do que nunca, devem ser assumidas. Assim, reafirmamos nossos
compromissos com a democracia, com a livre iniciativa e a disposição
de lutar contra a miséria, porque, é através desses caminhos que
construiremos uma nova sociedade brasileira, mais justa e mais humana.
Muito
Obrigado.
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