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Discurso do Presidente Dr. José Flávio Costa Lima, na posse da nova Diretoria do CIC.
Fortaleza, 18 de dezembro de 1985



Este é um ato marcadamente democrático: o centro industrial do Ceará renova aqui e agora sua Diretoria, a qual caberá a geração de suas diretrizes ao longo dos próximos dois anos. Entidade de homogênea linha de pensamento e atuação, o CIC não é um simples aglomerado de pessoas em busca de cargos ou posições, mas um organismo aberto e transparente, compromissado com a busca permanente da transformação da sociedade brasileira.

Foi a partir desse compromisso que nos firmamos com um dos mais legítimos foros de debates do Nordeste.

Nossa perfeita afinidade com as gestões anteriores não nos inibe, porém, de buscar ações inovadoras, mesmo porque sabemos todos que o dinamismo criativo é fator preponderante na vitalidade de qualquer instituição. Entendemos, assim, que a renovação periódica dos nossos quadros dirigentes é o exercício de uma prática saudável que permite o surgimento e a formação de novas lideranças.

A Diretoria por mim presidida tem uma intenção primordial – a de somar mais forças, enriquecendo em número e qualidade o conjunto de nossos associados. Pela participação responsável – que é obrigação de todos ser consciente – desejamos influenciar positivamente os destinos de nossas sociedade.

Este evento registra-se em momento histórico de grave responsabilidade, inserido num contexto de amplo e livre debate político proporcionado pela redemocratização do país e pela implantação da nova república. Longe de nos atemorizar, isso nos incentiva, posto que a própria história recente do CIC está forte e publicamente ligada aos ideais de democracia do povo brasileiro.

Participamos de todos os movimentos suprapartidários que, vitoriosamente, defendem o restabelecimento das eleições diretas. Fizemo-lo na convicção inabalável de que o voto direto, secreto e universal é a própria essência da democracia, pelo o que defendemos como a mais legítima forma de expressão da vontade popular.

Sem voto não há democracia, mas ditadura.

O regime democrático é, entre as formas de estruturação social, o que melhores condições de crescimento enseja ao homem, conferindo-lhe ampla liberdade de pensamento, permitindo-lhe a plena organização política e garantindo-lhe direta participação na composição de forças do poder, criando mecanismos de luta contra as injustiças sociais. É por isso que se costuma repetir que a pior democracia vale mais do que a melhor ditadura.

O restabelecimento da democracia traz como conseqüência reformulações de nossas instituições e urgente aprimoramento de nosso comportamento como ser social. Teremos de compatibilizar nosso discurso com ação prática, sob pena de sermos expurgados do processo de transformação da sociedade. Essa compatibilização discurso/ação, será nossa postura e para a qual convidamos todos nossos políticos e dirigentes. De nossa parte, sabemos que a harmonização dos discursos com a prática exigirá, crescente conscientização das elites. Ou mudamos urgentemente de comportamento ou estaremos sujeitos a inevitáveis retrocessos político-institucionais. Não podemos deixar fugir o que tanto se custou a conquistar.

As aspirações e problemas nacionais são nossos também. É nosso dever participar ativamente do movimento por uma nova constituição.

A instalação de uma assembléia constituinte é de suma importância a afirmação e aperfeiçoamento do sistema democrático, e lá deveremos está convenientemente representados para que os interesses coletivos sejam defendidos e inclusos na lei maior que regerá o país. A nova constituição para ser duradoura e democrática tem que conter as aspirações de todas as classes sociais, sob pena de ser promulgada e mais uma lei ineficaz.

Defrontamo-nos, presentemente, com o debate nacional sobre a reforma agrária, o qual tem sido cercado de emocionalidade e radicalismo. Mas é preciso que entendamos que a questão básica do debate refere-se ao futuro de nossa ordem econômica. Entendemos a reestruturação fundiária como o caminho correto pelo qual será possível  - sem traumas – multiplicar o número de proprietários rurais, ampliar o mercado interno, crescer a produção de alimentos e fazer cessar as tensões no campo, promovendo a justiça social.

Um modelo econômico que somente atenda aos ideais de prosperidade de poucos terá, certamente, curta duração. Neste caso, o direito maior da busca de uma vida digna para todos se sobreporá. Pelo voto ou pela força.

Devemos estabelecer um firme compromisso com a nossa ainda incipiente democracia, para o que, desde já, todos estão convidados. A nação exige de cada um de nós a expressão clara de idéias e rejeita os dúbios, os indefinidos e os omissos.

O direcionamento que assumimos e desejamos para o processo de transformação da sociedade brasileira apóia-se na livre iniciativa, que comprovadamente é a única forma de organização econômica democrática e capaz de manter o equilíbrio social e de gerar e distribuir a riqueza.

O nosso atual modelo econômico sofreu, infelizmente, nas últimas duas décadas desvios e distorções que nos causaram e ainda causam grandes prejuízos, o estado abandonou sua básica função social para se dedicar a tarefas econômicas que não lhe cabem. Em conseqüência, surgiram dezenas de empresas estatais ineficientes que nada mais são do que insaciáveis absorvedoras de dinheiros públicos. Não somos contra a empresa estatal, mas somos radicalmente contrários à estatização.

Não podemos omitir a opinião do CIC quanto às disparidades regionais. Neste particular, alegram-nos as primeiras ações e intenções do Governo do Presidente Sarney, que se esforça para cumprir sua promessa de fazer desta região a mais importante prioridade nacional. A questão nordestina, para cuja solução o Centro Industrial do Ceará mantém-se empenhado é um desafio grave e inadiável que terá de ser enfrentado agora.

São animadoras as mudanças institucionais que o superintendente da SUDENE, Dr. José Reinaldo Tavares, que muito nos honra com sua presença neste ato, tem tomado para tornar aquela Autarquia um organismo dinâmico, desburocratizado e novamente formulador do planejamento regional. Compromissada, assim como o CIC, com o resgate da dívida social que ao longo da história o Governo contraiu com o nordeste. A SUDENE da nova república acena-nos com alguns programas essenciais, como o que prevê a irrigação de um milhão de hectares, nos próximos cinco anos, e o projeto nordeste, cujos os objetivos pretendem mudar o quadro de miséria do meio rural, a partir da reestruturação fundiária até a implantação de métodos eficazes de educação e saúde, que ponham fim ao analfabetismo e às trágicas estatísticas de mortalidade infantil que tornaram a região o maior bolsão de pobreza do mundo ocidental.

O CIC reconhece – e sempre o disse em todos os auditórios – que o nordeste é viável. Mas essa viabilidade não será jamais alcançada enquanto os investimentos federais aqui não se fizerem na proporção exata de sua grandeza demográfica.

Assumimos, neste momento, a presidência do CIC. Fazemo-lo com a mesma humildade com que reconhecemos as virtudes dos nossos antecessores – Beni Veras, Amarílio Macedo, Tasso Jereissati e Sérgio Machado – as quais serão bandeiras de estímulo para o trabalho que pretendemos desenvolver.

Por fim e em meio a este momento de perplexidade, nós que temos fábricas construídas em pedra e cimento, não podemos renunciar a nossa condição de classe com grandes responsabilidades sociais, as quais, agora mais do que nunca, devem ser assumidas. Assim, reafirmamos nossos compromissos com a democracia, com a livre iniciativa e a disposição de lutar contra a miséria, porque, é através desses caminhos que construiremos uma nova sociedade brasileira, mais justa e mais humana.

Muito Obrigado.