De
tanto repetido e comprovado tornou-se cediço afirmar-se que um povo
reflete a personalidade dos cidadãos que o compõe.
Da
Antigüidade oriental Confúcio nos ensina outra lição de caráter
sociológico quando afirma que “o homem forma a família; a família
conforma a aldeia; a aldeia delineia a cidade...” e assim sucessivamente
passando pelas mesmas comunas, pelos cantões, pelas regiões e pelos
Estados para desaguar nos países e, por conseqüência, nas nações.
A
sabedoria popular manipula essas premissas ensinadas pela vida e
sintetiza toda essa perquirição político-filosófica concluindo de
forma definitiva que “o povo tem o governo que merece”.
Se
tudo isso é verdade nós os cidadãos brasileiros devemos rezar o
“mea culpa”.
Por
muitas e muitas vezes tivemos oportunidades de ordenar a Nação e
o estado brasileiros para a satisfação de nossas ansiedades e esperanças
urgentes.
E
em todas elas nos faltou personalidade, competência, persistência
e obstinação para conseguir o objetivo visado.
A
Nova República que herdamos de Tancredo Neves não é inédita.
Antes
dela muitas outras Velhas Repúblicas foram destronadas (e o paradoxo
é intencional) somente para nos permitir nova condução da “re publica”.
A
vez que agora se nos é oferecida surgiu pela ação de quase todos
os seguimentos da sociedade brasileira.
Para
seu levantamento, sobre um regime de exceção, contribuíram todos
os setores da comunidade, até mesmo aqueles que detendo o poder
da força, perceberam que o momento histórico exigia mudança e decisão.
Os
empresários industriais também contribuíram e basta lembrar a corajosa
edição do célebre documento dos 8 sem dúvida o primeiro documento
de oposição formal à República Velha e a primeira afirmação da necessidade
de rever a estrutura política de 1964.
E
não há o que admirar nessa posição do industrial brasileiro.
Ele
sempre foi um participante e um vigilante cidadão disposto a não
se deixar enquadrar unicamente entre as fronteiras de suas atividades
profissionais.
A
comemoração desta noite é bem um exemplo claro dessa verdade.
Aqui
estamos homenageando Hermano Franck o industrial. Mas não esqueçamos
o pioneiro do tempo em que o investimento maior era a coragem e
a interferência do Estado se limitava à cobrança do imposto sobre
o lucro, a ser teoricamente distribuído em benefício da sociedade.
Nessa paisagem de desestímulo e abandono é que Hermano plantou uma
das primeiras sementes da mineração do Ceará e o fez com tão longa
visão e determinado tirocínio que sua obra ainda hoje aí está lhe
honrando a memória e o nome de industrial trabalhador e honesto.
Aqui
também estamos louvando Adalberto Benevides Magalhães um jovem industrial
de 82 anos, altivo de corpo e de alma, pois a firmeza de seu comportamento
e a dedicação aos seus objetivos fizeram brotar para ele a fonte
da juventude. Juventude que não mal barata nas queixas ou nos lamentos,
antes o leva a enfrentar tropeços e insucessos com a têmpera dos
homens que sabem o que querem e nunca atingem seus objetivos pois
eles se renovam a cada nova conquista, realimentando sua sede de
fazer e de produzir para a sociedade.
Sua
obra aí está, ensinando, pelo exemplo dignificante, que o trabalho
e a paz é que são os instrumentos da prosperidade e do desenvolvimento
sadios.
E
fechando a generosa e rica lista dos nossos homenageados desta noite
citamos Moysés Pimentel também um bravo industrial. Desses bravos
industriais que não bebem somente o néctar das vitórias, mas amargam
também o fel do insucesso com a sobrançaria dos fortes e o aprumo
dos que são dignos. E quando, afinal, conquista a tranqüilidade,
não aceita o rótulo de “homem realizado” e parte em busca de outras
atividades. Assim o fez Moysés Pimentel: as atividades de industrial
não bastaram para sua aspiração de se dar e se extravasou na política,
sofrendo ferimentos em duras batalhas que antes de deformá-lo o
galhardeiam com cicatrizes que só ostentam os bons cidadãos.
Meus
senhores, minhas senhoras, companheiros empresários.
Os
três agraciados, cujos méritos apenas foram esboçados, compõem com
exatidão o perfil do industrial consciente, também um legítimo cidadão
brasileiro.
Sua
presença no momento político nacional está assinalada e essa afirmativa,
longe de ser um pedido de gratidão, louva minhas ou aplausos, é
uma declaração de compromisso.
A
indagação sobre o futuro do país faz parte de sua meditação do dia-a-dia.
Quando
a nação vivia o drama da agonia de Tancredo Neves, o presidente
da Federação das Indústrias do Estado do Ceará, José Flávio Costa
Lima, perguntava a seus pares: “Com quem contaremos no Day After?”
Era
a preocupação e o temor de que talvez a inexperiência e o êxtase
diante do uso da liberdade tão largamente sonhada e afinal conquistada,
levasse nossa sociedade a anulação, ou ao naufrágio da construção
política não da Nova República, mas do Novo Brasil.
Estamos
vivendo o dia depois.
E
não é pessimismo falar das apreensões que se alevantam no nossos
horizontes.
A
quebra súbita daquele desejo de pensarmos juntos, de procurarmos
entendimento e consenso, de sermos tolerantes e compreensivos, nos
levam a posições de confronto e de impertinência.
Recusamo-nos,
todos, a dar ao governo, que se instalou por nossa vontade, a carência
para que nos pague o empréstimo que lhe fizemos do nosso apoio e
da nossa solidariedade.
Durante
muitos anos, em nome do bem estar do país, aceitamos em silêncio
e quase sem protesto os erros que nos foram impostos e de cujos
efeitos ainda hoje somos herdeiros.
Hoje
temos nas mãos os instrumentos para corrigi-los e que são acima
de quaisquer outros o direito de criticar e de reivindicar.
O
governo que instalamos sabe disso.
Mas
é ao cidadão de qualquer atividade que cabe não esquecer as dolorosas
experiências já vividas e nunca permitir que sejamos conduzidos
para extremismos de qualquer cor ou feição.
Temos
uma tarefa nova a cumprir.
Sem
paciência para com aqueles que reivindicam; sem mostrar a quem reivindica
que o açodamento e o exagero nunca produzem bons frutos, ela não
será realizada.
Os
instrumentais cearenses, mais do que qualquer um, temos uma larga
e abnegada experiência para oferecer àqueles que se perdem nos caminhos
da insensatez e da impaciência.
Ninguém
no país recebeu menos cuidado e mais desatenção do que nós.
Ainda
agora nos angustiamos com uma possível extinção do FINOR e é certo
que pelo menos aquele incentivo fiscal sofrerá alterações na sua
estrutura.
Contra
isso já nos pomos em alerta e em posição de combate.
Mas
não será a defesa dos interesses da região nordestina que nos fará
esquecer nosso comprometimento maior com o futuro do país.
Sem economia organizada,
nascida da associação do capital convenientemente remunerado e do
trabalho pago com equidade, nenhuma sociedade terá solidez ou alcançará
desenvolvimento estável e justo.
Nossa
mensagem é a de administrar os conflitos com sapiência e em outro
rumo que não seja o da exacerbação.
Só
juntos, alcançaremos a paz para o trabalho fecundo e de tal modo
abundante que possa ser distribuído com toda a sociedade.
O
dia depois já não é o de Tancredo.
O
dia depois será de amanhã.
E
nós seremos os responsáveis pelas suas conseqüências boas ou más.
Os
industriais do Ceará as querem boas, e não conhecemos outro caminho
para buscá-las senão o do entendimento, senão o da tolerância, com
o mais amplo e integral respeito ao direito e a lei.
Sem
lei e sem direito está a nossa espera, de novo, o governo, que merecemos.
Para
que tal não aconteça os industriais cearenses reafirmam sua crença
e seu apoio à livre empresa e ao Estado democrático.
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