Senhores,
Vossa viagem de
estudos e o convite ao Presidente da Federação das Indústrias do Estado
do Ceará para esta palestra, evidenciam o papel que a ECEMAR e a
Federação cumprem como elite, na sociedade pluralista e democrática
que pretendemos ser.
O
conceito de elite seja entendido naquela acepção sociológica de
Pareto, que a via como uma camada social funcional, fundada na capacidade.
O
tema oferecido visa ao poder aeroespacial, condicionado pelo desenvolvimento
nacional e pela industrialização do nordeste, ao mesmo tempo que
os condiciona.
Certamente,
o esforço produtivo será, em qualquer planejamento, uma função dos
objetivos nacionais. Num país com as dimensões continentais do Brasil
e com os atuais efetivos demográficos, ainda em crescimento acelerado,
o poder aeroespacial, à disposição efetiva da nação, há de se incluir
prioritariamente naqueles objetivos.
Genericamente,
foi depois da Segunda Guerra mundial que o colonialismo em extinção
e o subjacente conflito ideológico suscitaram o amplo estudo sobre
as causas do subdesenvolvimento econômico.
Chegaria,
naturalmente, à América Latina e ao Brasil, encontrando-nos enquistados
nos padrões do 3º mundo como um todo. Ainda mais agravados pelas
disparidades regionais, que apresentavam sérios déficits estruturais.
A discussão mais efetiva da problemática nordestina e a busca de
suas soluções seria, a nosso ver, um reflexo do posicionamento brasileiro
frente a Aliança para o Progresso, lançado no final da Segunda administração
Eisenhawer, em 56/57.
Igualmente,
exibimos no corpo social da nação agravantes disparidades de renda
regional e gritantes desajustamentos sociais, com economia de extrema
dependência.
Assim,
o presidente Juscelino lançaria, em seguida ao seu plano de metas,
a Operação Nordeste, cujas propostas se dirigiam à região que englobava
35% da população nacional.
Nasceu
então a SUDENE, que pretendia uma programação definitiva de recuperação
da região, dentro dos fins ulteriores dos objetivos nacionais.
Planos
não tem faltado ao nordeste. Os últimos governos, a nível estadual
e federal, têm exibido, enfaticamente, o propósito desenvolvimentista
através de projetos custosamente elaborados. Mas, o que se depreende
do índice de crescimento de nossa economia é que o resultado não
tem correspondido à expectativa, que a ação não corresponde à declaração,
e que os meios não se compatibilizam com os fins...
Gunnar
Myrdal registra, como conseqüência do próprio subdesenvolvimento,
a distorção à que estão sujeitos os projetos, pelo desengajamento
dos escalões de execução da administração. Ainda mais, diz o autorizado
economista: “OUTROS DESVIOS SURGEM COM A PROMOÇÃO PESSOAL, QUE RESULTA
EM CHOCANTES DESPERDÍCIOS COM OBRAS DE FACHADAS E EM SUBSÍDIOS A
CUSTOSOS INVESTIMENTOS IMPRODUTIVOS”.
Bons
planos reclamam, para sua execução, bons governos, dizem os economistas.
É que a industrialização por si só não opera milagres.
Há
um conjunto de métodos e processos que exigem reformulação por parte
de todos, principalmente da pública administração.
Sabido
que o desenvolvimento econômico é uma resultante comportamental,
qualquer avaliação sobre ele, em última análise, resulta na crítica
da ação das diversas camadas sociais.
Reconhecemos
que a industrialização é o setor estratégico principal, qualquer
que seja a filosofia adotada.
Entretanto,
em “O DRAMA DA ÁSIA” Gunnar Myrdal nos ensina: “QUANDO SE DEVE COMEÇAR
DE BASE EXTREMAMENTE MODESTA, NEM MESMO UM GRANDE EMPURRÃO NO SURTO
INDUSTRIAL PODERÁ, NAS DÉCADAS FUTURAS, FORNECER DIRETAMENTE NOVOS
EMPREGOS, SENÃO A UMA FRAÇÃO MUITO DIMINUTA DA FORÇA DE TRABALHO.
É PRECISO FRISAR ESTE PONTO, E DESTARTE DESTACAR A EXPECTATIVA INTEIRAMENTE
IRREALISTA, AINDA MANTIDA POR TANTOS, DE QUE A RÁPIDA TRASNFORMAÇÃO
DA ESTRUTURA OCUPACIONAL OCORRERÁ TÃO LOGO SEJA LANÇADO O PROGRAMA
DE INDUSTRIALIZAÇÃO”.
Estamos
saindo de período de cinco anos de secas extremamente severas, período
que onerou gravosamente o orçamento federal, sem nenhuma contrapartida
benéfica para a região, conseqüentemente mais empobrecida.
De
plano, verifica-se que o comportamento nacional diante do problema
das secas continua empírico e que a maioria dos planos se esgotam
na retórica da postulação.
Centenas
de bilhões de cruzeiros foram gastos sem uma programação produtiva,
ao sabor de estratégias casuístas, que vão desde a simples e humilhante
doação de alimentos até à ofensiva abertura de bolsões de trabalho,
que nada produzem”.
“SOBRE
O CEARÁ PESA MALDIÇÃO MAIOR DO QUE AS SECAS. É A INÉRCIA E MÁ VONTADE
DOS HOMENS QUE DIRIGEM A NAÇÃO E A FALTA DE PATRIOTISMO DE NÓS CEARENSES.
NÃO AMAMOS A NOSSA TERRA COMO A DEVÍAMOS AMAR. SACRIFICAMOS O BEM
PÚBLICO AOS INTERESSES DA POLITICAGEM. ISSO VEM DE LONGE”.
A
afirmação é de Rodolfo Teófilo em seu livro A seca de 1915.
É
dramaticamente atual.
Mas
é certo que a região vem se preparando paulatinamente para romper
este círculo vicioso de pobreza.
Primeiro,
porque aprendeu com o BNB, a SUDENE e as Universidades que pode
desenvolver-se e, segundo, porque o quer.
São
os Sindicatos, as Entidades, as Federações que abandonaram a postura
meramente reivindicatória, casuísta, por aquela outra mais dinâmica,
participava, como a gente que somos do processo, na sua forma mais
ampla de atuação econômica, social e política.
Exigência
urgente dos problemas atuais – a participação, é decorrência da
cidadania consciente, nestes tempos críticos da história nacional.
Importa,
não nos desviarmos aqui para a complexidade sócio-política que o
desenvolvimento sugere.
O
tema é de economia, trata-se de avaliar o contexto econômico nordestino,
vis-a-vis do seu esforço de industrialização.
Sem
embargo dos problemas estruturais atrás apontados que repousam em
condicionalmente políticos, podemos dizer que a região também cresceu,
como inegavelmente cresceu o Brasil.
Sob o ângulo do
sistema produtivo, não se pode negar que a criação da SUDENE e do
BNB trouxe um novo vigor para a região, cujo setor industrial vem
alterando a sua estrutura produtiva. Se é bem verdade que a industrialização
do nordeste é hoje irreversível, o que atesta a capacidade da região
de responder positivamente aos estímulos governamentais, isto não
significa que já contamos com as condições básicas de “démarrage”.
Obstáculos exógenos e endógenos ao próprio subdesenvolvimento regional,
aliados a algumas distorções na estratégia da industrialização promovida
pela SUDENE, reduzem os efeitos multiplicadores, para frente e para
trás, dos recursos alocados que, aliás, cumpre, destacar, não são
muitos nem regulares.
Com
efeito, tem sido grande a evasão de recursos do FINOR, pois se em
1962 dispunha o fundo de 100% dos incentivos, agora estes estão
reduzidos a menos de 20% e, ainda, destinam-se a financiar empresas
estatais. Assim, apenas para tomarmos um exemplo, confrontando-se
as liberações do FINOR com a receita tributária da União, constata-se,
no período de 1972/83, que o índice ficou em 2,4 %, descendo no
final para 1,3%. Desse modo, se tivesse sido aplicado em 1983 o
índice de 1972, o FINOR teria tido Cr$ 272,0 bilhões, o que corresponderia
a quase o dobro (1,8 vezes) do efetivamente recebido neste último
ano.
É
por demais notória a insuficiência de recursos públicos na região,
quer sob a forma de investimentos sociais e de infra-estrutura,
quer sob a forma de incentivos fiscais e financeiros.
Entretanto,
a falta de apoio à região não se faz sentir apenas através da retração
de recursos mas, também, por conseqüência de políticas nacionais
que redundam danosas à região. Isto se verifica de maneira bastante
clara em algumas políticas fiscais, monetárias, e de comércio exterior.
No
que diz respeito à política fiscal, convém lembrar que a reforma
de 1965 provocou uma séria drenagem de recursos dos estados nordestinos.
As políticas de
comércio exterior quase sempre foram prejudiciais ao nordeste. Mormente
no que se refere à sobrevalorização do cruzeiro e à política tarifária.
Se a primeira prejudica aos exportadores da região, a Segunda diminui
drasticamente o poder de compra regional.
Nesse
sentido, trabalho elaborado por técnico especialista na área, mostra
que a sobrevalorização do cruzeiro e a política tarifária tem determinado
perda de recursos da ordem de US$ 220 milhões, anualmente.
Já
no que concerne à política monetária, há que destacar o fato ocorrido
no final dos anos 60, onde o processo e concentração bancária verificado
no país teve como conseqüência uma “desrregionalização” do setor
bancário nordestino. Na medida em que um número expressivo de instituições
creditícias, genuinamente regionais, foram à falência, ou açambarcadas
pelos grandes conglomerados financeiros do centro-sul, ocorreu a
oligopolização do setor financeiro nacional. Como conseqüência,
verificou-se a mudança dos “centros de decisão” para fora da região,
provocando um enfraquecimento do poder de barganha regional e, possivelmente,
ocasionando mais uma evasão de recursos do nordeste, para outras
regiões...
É
bem verdade que existem medidas nesta área que favorecem ao nordeste,
como por exemplo, taxas de juros diferenciadas e menores taxas de
recolhimento compulsório. Entretanto, estudo recente mostra que
essa diferenciação, embora benéfica, tem efeitos pouco expressivos,
mormente quando está em curso uma política de restrição monetária
baseada mais fortemente sobre o crescimento dos empréstimos do setor
bancário, setor este mais fundamental para a economia nordestina
que para a economia brasileira.
Face
ao exposto, quais possíveis medidas poderiam ser implementadas para
a solução de tão graves problemas?
Em
recente reunião do concelho de Política Econômica e Social da Indústria
Cearense, órgão do SFIEC, numa avaliação de Política Industrial
do Estado do Ceará chegou-se a um consenso de que, para se mudar
o perfil sócio-econômico de uma Região o setor secundário deverá
deter o comando mas, não é possível descurar do desenvolvimento
da Agricultura, mineração e serviços. Para o caso do Nordeste, também
será importante se adotar medidas que visem reduzir ou racinalizar
os fluxos migratórios do campo para as cidades, ampliando os mercados
de trabalho da zona rural.
Adicionalmente,
torna-se necessário o fortalecimento do setor Governo através das
várias instituições atuantes no Nordeste e da real adoção de instrumentos
de políticas econômicas diferenciadas para a Região.
Em
termos específicos, o que poderíamos advogar para o Nordeste?
Aqui
vamos defender uma posição que, para os senhores, poderá parecer
esdrúxula mas, para nós, parece bastante racional. Advogamos, por
exemplo, a transferência de grandes unidades militares, transferência
de institutos e unidades de pesquisas e de indústrias estatais,
como a de armamentos, para o interior nordestino.
Podemos
justificar essas medidas, pelo menos, em dois campos: o econômico
e o de segurança nacional. O econômico diz respeito á desconcentração
industrial, á criação de empregos e mercados no Nordeste, á criação
de riqueza, enfim. Isto porque a transferência dessas unidades permitirá
a fixação no campo de um grande contingente populacional já engajado
no processo produtivo. Tal fato se constituirá, sem dúvida, em estímulo,
á iniciativa privada a se expandir nos diversos setores da economia.
Simultaneamente, tal transferência induzirá, ainda, a investimentos
públicos em infra-estrutura física e social, contribuindo, sobremaneira,
para a melhoria das condições de vida do povo nordestino.
O
de segurança nacional diz respeito à diversificação locacional,
difícil acesso e distanciamento de grandes centros populacionais,
o que, com certeza, diminui os riscos provenientes de qualquer convulsão
social.
Tomemos
o exemplo do setor aeroespacial brasileiro. O seu desenvolvimento,
que tem trazido tantos benefícios para o Brasil, não só em termos
de divisas e de novos avanços tecnológicos, não poderia se direcionar
para a região nordeste?
Acreditamos
que a região já pode atender ao fornecimento de inúmeros equipamentos,
fardas e calçados, engenharia e construção de aeroportos, pesquisa
e ensino, Centro Nacional de Treinamento e, subsidiariamente, complementar
neste primeiro estágio, a eletrônica e telecomunicações do Sistema
Aeroespacial.
Nas
tarefas de mobilização nacional, o nordeste pode e deve estar presente,
através de criterioso planejamento que ao mesmo tempo induza o crescimento
programático dos superiores Objetivos Nacionais.
A
Federação das Indústrias do Estado do Ceará congrega 22 sindicatos
com suas respectivas categorias econômicas, e o universo da indústria
cearense engloba mais de 5.000 estabelecimentos.
Sua
força de trabalho é de 123.000 empregos diretos e com uma folha
de pagamento mensal da ordem de 14 bilhões de cruzeiros.
Nós,
os industriais brasileiros, consideramo-nos mobilizados para as
tarefas da construção do Brasil, democraticamente próspero e socialmente
justo.
Muito
obrigado.
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