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Pronunciamento do Presidente da FIEC, Dr. José Flávio Costa Lima, no transcurso do Dia da Indústria e entrega da Medalha do Mérito Industrial.
Fortaleza, 25 de maio de 1984


Senhores,

Em todo o Brasil, os industriais estão hoje reunidos , reiterando sua profissão de fé nas virtualidades da livre iniciativa, vale dizer, no projeto nacional que se quer democrático e socialmente justo.

É tradição nossa, neste dia, expressar nosso aplauso aos que tenham dado valiosa contribuição para o progresso do setor, agraciando-lhes com a medalha do Mérito Industrial.

Há, em toda comunidade dinâmica, uma natural solidariedade para com seus membros representativos, de tal forma que, os que hoje homenageados, já aqui chegam com o apoio maior da sociedade cearense, pois, em última análise, o progresso industrial do Ceará, por eles motivado, se insere no seu projeto social.

De fato, os nomes de Adauto Bezerra, Albanisa Sarasate e Ariosto Holanda, a quem hoje entregamos nossa medalha, já mereceram antes, muito antes, o aplauso da gente cearense.

Governador Adauto Bezerra,

Tendes dado o exemplo maior do cidadão que abraçou a vida pública sob as inspirações do bem comum. A política, no vosso caso, tem sido uma vocação cívica que somou com aquela outra do empresário. Desafiando as naturais dificuldades da nossa região, mostrastes como homem público e como capitão de indústria, que o trabalho produtivo resulta sempre em benefício geral para todos.

O Ceará, tanto quanto o Brasil, precisa de homens públicos e de empresários competentes. O político, em vós, se integra no empresário que administra, que dirige, que promove o progresso.

Espírito público, honestidade pessoal, lealdade, sinceridade, solidariedade, são as qualidades excepcionais que vos ornam a personalidade, das quais muito se orgulham os vossos companheiros da indústria, que se sentem também, por extensão, partícipes desses sucessos que são vossos.

Não digo que servi ai vosso governo porque mostrastes a todos, que ali estávamos a serviço do Ceará. Nem vos falo da CDI, da fundação NUTEC, das rodovias, das escolas, da urbanização, da eletrificação rural, porque o povo cearense tem-vos reiterado o mandato, que atesta melhor do que as palavras.

Basta que vos diga, que vossos companheiros da indústria cearense, que não sabem ser servis, sentem-se prazerosos em poder prestar-vos agora esta homenagem que guardamos com carinhoso zelo.

           

Dona Albanisa Sarasate,

A empresa que dirige se desdobra com produtiva eficiência sobre outros setores das comunicações, diretamente, ela cria empregos, gera riquezas, é útil ao nosso estado.

Mais diretamente, ainda, serve ao Ceará, quando mantém aquela bandeira de independência que informa o espírito dos seus fundadores.

Não há sociedade livre e progressista sem imprensa independente, pois eu vos digo que o jornal cujas tradições tendes sabido manter à altura daqueles que o fizeram, é o jornal de todos nós, os industriais, é o jornal do povo cearense, que não se dobra a ninguém.

Estou certo de que recebeis nossa medalha como a homenagem que a indústria cearense vos deve, como a deve a Demócrito Rocha, a Paulo Sarasate – esse raro exemplo de homem público que o Brasil teve, e assim como a deve ao jornal “O POVO”.

           

Professor Ariosto Holanda,

Vivemos difícil momento da nacionalidade. Que dizer do malsinado tecnocrata brasileiro que levou o país a tantos óbices?

A resposta está em nós.

Numa área problema, de uma região subdesenvolvida, fostes convocado, pelo governo Adauto Bezerra, para a difícil tarefa de implantar a matriz da tecnologia no estado, imprescindível aos esforços de desenvolvimento que a sociedade reclamava.

Aí está a Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial – NUTEC, prestando inestimáveis serviços à indústria cearense e modelo para toda a região nordestina.

Sem dúvida, vossa competência profissional, vossa dedicação, vossa isenção política, foram os vetores dessas realizações que nos identificaram com a racionalidade do processo científico-tecnológico e que a federação das Indústrias do Ceará agora publicamente apoia.

O NUTEC respondeu ao desafio, os benefícios são do Ceará, os aplausos são para todos os que o fazem.

Governador Adauto Bezerra, Dona Albanisa Sarasate, Prof. Ariosto Holanda, os parabéns da indústria cearense.

           

Meus senhores,

O momento brasileiro é essencialmente político, seria difícil fugir a tentação de analisá-lo, não tivéssemos a consciência de que a nação já se pronunciou e reclama instituições que conciliem a eficácia do estado com sua legitimidade, e sua autoridade com a liberdade dos cidadãos.

Preocupa verificar que o debate em que se exercitam os políticos pode caminhar no rumo de grotesco espetáculo, ao sabor dos mais indispensáveis interesses personalistas.

Enquanto isso, as lideranças capazes de traduzirem em ação a sensibilidade das massas são afastadas, de tal forma que sua união e sua permanência no centro das discussões exige verdadeiro ato de heroísmo.

Pari-passu, graves problemas econômicos e sociais se desdobram sobre todos, marcados pelos flagrantes equívocos da tecnoburocracia, que tem dominado os centros de decisão do país.

A insegurança que tem afligido a força de trabalho, pela mínima ou nenhuma participação nos resultados do crescimento econômico, já agora, vem agravar-se, pela própria falta de garantia do emprego, ao mesmo tempo, que atinge o empresário, cujo esforço produtivo se transfere para o setor financeiro.

O processo corrosivo dos juros altos, gerados pela inflação e pela especulação do mercado, destrói a empresa nacional e com isto solapa-se a base da livre economia.

O problema tem similitude no setor internacional, tanto que levou o presidente Figueiredo, juntamente com vários dirigentes de países da América Latina, a reclamar contra as altas taxas de juros que, nos descapitalizando em favor ilícito do credor estrangeiro, impedem a necessária ativação da economia nacional, comprometendo o nosso futuro.

É preciso não perder, entretanto, a perspectiva real, a nível dos problemas do nosso endividamento. Jean François Revel, em seu último livro – “Comment les Democraties Finissent” adverte para a insidiosa campanha dos seus inimigos que, através da “industrie  de la faute”, imputam ao ocidente desenvolvido, vale dizer, ao regime democrático livre e ao capitalismo, todos os problemas do terceiro mundo

Não se permitirá, assim, quando se condenam os processos espoliativos dos juros internacionais, esconder os desperdícios, a incompetência e a comprometedora licenciosidade com que nos lançamos ao endividamento em todos os escalões da administração pública, gerando-se, com a improdutividade, a inflação e a recessão.

Mesmo assim houve ganhos que respondem pela viabilidade do esforço racional que agora se nos impõe a todos, como política de salvação do país.

A crítica nos anima, apenas como processo de avaliação da realidade, para ensejar a correta discussão das soluções possíveis.

O presidente do Banco Mundial, analisando recentemente os problemas do terceiro mundo, embora reconhecendo as concausas que levaram à recessão global, conclui que o endividamento dos países subdesenvolvidos tem boa dose de imprudência do credor aliada à incompetência do devedor.

Conclui ainda, que o isolacionismo agora, para proteger interesses de curto prazo, é a melhor receita para o desastre.

Por isso, é oportuno o protesto aberto dos principais devedores da América Latina contra a alta dos juros, reclamando um esforço de cooperação entre as nações e as instituições, quer públicas, quer privadas, para a superação dos problemas comuns.

A conclusão é válida para o Brasil político de hoje. Nenhum partido político, nenhum homem público, nenhum cidadão, face a gravidade dos problemas, diante da crise de valores que aí está, pode isolar-se.

As artimanhas, o exercício de espertezas, o casuísmo, não podem prevalecer sobre a vontade nacional, que não pode ser lograda.

Ela impõe um entendimento amplo de todas as correntes.

Os industriais brasileiros, exatamente porque acreditam nas potencialidades nacionais, estão unidos em torno desta idéia força que, no dia da indústria, querem tornar pública, através dos seus sindicatos, das federações e da CNI.

Muito obrigado.