Senhores,
Em
todo o Brasil, os industriais estão hoje reunidos , reiterando sua
profissão de fé nas virtualidades da livre iniciativa, vale dizer,
no projeto nacional que se quer democrático e socialmente justo.
É
tradição nossa, neste dia, expressar nosso aplauso aos que tenham
dado valiosa contribuição para o progresso do setor, agraciando-lhes
com a medalha do Mérito Industrial.
Há,
em toda comunidade dinâmica, uma natural solidariedade para com
seus membros representativos, de tal forma que, os que hoje homenageados,
já aqui chegam com o apoio maior da sociedade cearense, pois, em
última análise, o progresso industrial do Ceará, por eles motivado,
se insere no seu projeto social.
De
fato, os nomes de Adauto Bezerra, Albanisa Sarasate e Ariosto Holanda,
a quem hoje entregamos nossa medalha, já mereceram antes, muito
antes, o aplauso da gente cearense.
Governador
Adauto Bezerra,
Tendes
dado o exemplo maior do cidadão que abraçou a vida pública sob as
inspirações do bem comum. A política, no vosso caso, tem sido uma
vocação cívica que somou com aquela outra do empresário. Desafiando
as naturais dificuldades da nossa região, mostrastes como homem
público e como capitão de indústria, que o trabalho produtivo resulta
sempre em benefício geral para todos.
O
Ceará, tanto quanto o Brasil, precisa de homens públicos e de empresários
competentes. O político, em vós, se integra no empresário que administra,
que dirige, que promove o progresso.
Espírito
público, honestidade pessoal, lealdade, sinceridade, solidariedade,
são as qualidades excepcionais que vos ornam a personalidade, das
quais muito se orgulham os vossos companheiros da indústria, que
se sentem também, por extensão, partícipes desses sucessos que são
vossos.
Não
digo que servi ai vosso governo porque mostrastes a todos, que ali
estávamos a serviço do Ceará. Nem vos falo da CDI, da fundação NUTEC,
das rodovias, das escolas, da urbanização, da eletrificação rural,
porque o povo cearense tem-vos reiterado o mandato, que atesta melhor
do que as palavras.
Basta
que vos diga, que vossos companheiros da indústria cearense, que
não sabem ser servis, sentem-se prazerosos em poder prestar-vos
agora esta homenagem que guardamos com carinhoso zelo.
Dona
Albanisa Sarasate,
A
empresa que dirige se desdobra com produtiva eficiência sobre outros
setores das comunicações, diretamente, ela cria empregos, gera riquezas,
é útil ao nosso estado.
Mais
diretamente, ainda, serve ao Ceará, quando mantém aquela bandeira
de independência que informa o espírito dos seus fundadores.
Não
há sociedade livre e progressista sem imprensa independente, pois
eu vos digo que o jornal cujas tradições tendes sabido manter à
altura daqueles que o fizeram, é o jornal de todos nós, os industriais,
é o jornal do povo cearense, que não se dobra a ninguém.
Estou
certo de que recebeis nossa medalha como a homenagem que a indústria
cearense vos deve, como a deve a Demócrito Rocha, a Paulo Sarasate
– esse raro exemplo de homem público que o Brasil teve, e assim
como a deve ao jornal “O POVO”.
Professor
Ariosto Holanda,
Vivemos
difícil momento da nacionalidade. Que dizer do malsinado tecnocrata
brasileiro que levou o país a tantos óbices?
A
resposta está em nós.
Numa
área problema, de uma região subdesenvolvida, fostes convocado,
pelo governo Adauto Bezerra, para a difícil tarefa de implantar
a matriz da tecnologia no estado, imprescindível aos esforços de
desenvolvimento que a sociedade reclamava.
Aí
está a Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial – NUTEC, prestando
inestimáveis serviços à indústria cearense e modelo para toda a
região nordestina.
Sem
dúvida, vossa competência profissional, vossa dedicação, vossa isenção
política, foram os vetores dessas realizações que nos identificaram
com a racionalidade do processo científico-tecnológico e que a federação
das Indústrias do Ceará agora publicamente apoia.
O
NUTEC respondeu ao desafio, os benefícios são do Ceará, os aplausos
são para todos os que o fazem.
Governador
Adauto Bezerra, Dona Albanisa Sarasate, Prof. Ariosto Holanda, os
parabéns da indústria cearense.
Meus
senhores,
O
momento brasileiro é essencialmente político, seria difícil fugir
a tentação de analisá-lo, não tivéssemos a consciência de que a
nação já se pronunciou e reclama instituições que conciliem a eficácia
do estado com sua legitimidade, e sua autoridade com a liberdade
dos cidadãos.
Preocupa
verificar que o debate em que se exercitam os políticos pode caminhar
no rumo de grotesco espetáculo, ao sabor dos mais indispensáveis
interesses personalistas.
Enquanto
isso, as lideranças capazes de traduzirem em ação a sensibilidade
das massas são afastadas, de tal forma que sua união e sua permanência
no centro das discussões exige verdadeiro ato de heroísmo.
Pari-passu,
graves problemas econômicos e sociais se desdobram sobre todos,
marcados pelos flagrantes equívocos da tecnoburocracia, que tem
dominado os centros de decisão do país.
A
insegurança que tem afligido a força de trabalho, pela mínima ou
nenhuma participação nos resultados do crescimento econômico, já
agora, vem agravar-se, pela própria falta de garantia do emprego,
ao mesmo tempo, que atinge o empresário, cujo esforço produtivo
se transfere para o setor financeiro.
O
processo corrosivo dos juros altos, gerados pela inflação e pela
especulação do mercado, destrói a empresa nacional e com isto solapa-se
a base da livre economia.
O
problema tem similitude no setor internacional, tanto que levou
o presidente Figueiredo, juntamente com vários dirigentes de países
da América Latina, a reclamar contra as altas taxas de juros que,
nos descapitalizando em favor ilícito do credor estrangeiro, impedem
a necessária ativação da economia nacional, comprometendo o nosso
futuro.
É preciso não perder,
entretanto, a perspectiva real, a nível dos problemas do nosso endividamento.
Jean François Revel, em seu último livro – “Comment les Democraties
Finissent” adverte para a insidiosa campanha dos seus inimigos que,
através da “industrie de la faute”, imputam ao ocidente desenvolvido,
vale dizer, ao regime democrático livre e ao capitalismo, todos os
problemas do terceiro mundo
Não
se permitirá, assim, quando se condenam os processos espoliativos
dos juros internacionais, esconder os desperdícios, a incompetência
e a comprometedora licenciosidade com que nos lançamos ao endividamento
em todos os escalões da administração pública, gerando-se, com a
improdutividade, a inflação e a recessão.
Mesmo
assim houve ganhos que respondem pela viabilidade do esforço racional
que agora se nos impõe a todos, como política de salvação do país.
A
crítica nos anima, apenas como processo de avaliação da realidade,
para ensejar a correta discussão das soluções possíveis.
O
presidente do Banco Mundial, analisando recentemente os problemas
do terceiro mundo, embora reconhecendo as concausas que levaram
à recessão global, conclui que o endividamento dos países subdesenvolvidos
tem boa dose de imprudência do credor aliada à incompetência do
devedor.
Conclui
ainda, que o isolacionismo agora, para proteger interesses de curto
prazo, é a melhor receita para o desastre.
Por
isso, é oportuno o protesto aberto dos principais devedores da América
Latina contra a alta dos juros, reclamando um esforço de cooperação
entre as nações e as instituições, quer públicas, quer privadas,
para a superação dos problemas comuns.
A
conclusão é válida para o Brasil político de hoje. Nenhum partido
político, nenhum homem público, nenhum cidadão, face a gravidade
dos problemas, diante da crise de valores que aí está, pode isolar-se.
As
artimanhas, o exercício de espertezas, o casuísmo, não podem prevalecer
sobre a vontade nacional, que não pode ser lograda.
Ela
impõe um entendimento amplo de todas as correntes.
Os
industriais brasileiros, exatamente porque acreditam nas potencialidades
nacionais, estão unidos em torno desta idéia força que, no dia da
indústria, querem tornar pública, através dos seus sindicatos, das
federações e da CNI.
Muito
obrigado.
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