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Pronunciamento do Presidente da FIEC, Dr. José Flávio Costa Lima, por ocasião do Dia da Indústria.
Fortaleza, 25 de maio de 1983


O Espírito que motiva a indústria nacional para as comemorações do seu dia, encontra, hoje, imperativos de ordem quase pública para transformá-las em reuniões de trabalho.

A dimensão dos problemas econômicos e sociais que aí estão não nos  deixa tempo para festividades. Não há tempo de lazer nem motivo de festas.

De fato, pela manhã, inaugurávamos em solenidade simples, a cozinha industrial do SESI, reunidos com as entidades sindicais dos trabalhadores.

Os objetivos da obra, a primeira do Ceará, têm as mais amplas finalidades sociais a nível do SESI que, assim, se aperfeiçoa nas metas a que se propôs, como resultado da exata compreensão da função do capital, num país em desenvolvimento.

Agora, o ato que aqui cumprimos, ao entregarmos o “MÉRITO INDUSTRIAL” a personalidades do governo e a um companheiro de empresa, tem exatamente aquele caráter imperativo há pouco referido.

Pois os agraciados, e as tarefas que têm realizado, alcançam as mais amplas repercussões no campo da produção e do desenvolvimento.

VALFRIDO SALMITO FILHO tem se credenciado ao aplauso de todos pela coragem de seu posicionamento diante da problemática dos meios à disposição da SUDENE, meios muitas vezes discriminados pela tecnoburocracia do planejamento nacional, que ainda mantêm a questão regional apenas em suas promessas retóricas. A homenagem que prestamos a VALFRIDO SALMITO FILHO, estende-se, sem dúvida, à SUDENE, sem a qual a região já estaria definitivamente inviabilizada.

FIRMO DE CASTRO – o ex-secretário da Indústria e Comércio, fiel ao aprendizado do seu currículo universitário, acreditou no desenvolvimento do Ceará.

Teria aprendido que havendo disponibilidade de recursos, apoio tecnológico e um plano sensato de aplicação desses fatores, haveria progresso.

Procura de recursos, aproveitamento de tecnologia, diálogo aberto com os empresários, foram as constantes do então secretário que o levaram ao crivo das nossas preferências.

JACKS RABINOVITCH – quando o Ceará ainda não definira suas opções e o seu programa de desenvolvimento ainda era uma ânsia, JR não acreditava em nós. Anos atrás, dando condições à FINOBRASA, em associação com grupo local. Agora, com a Vicunha do Nordeste.

Sua opção pelo Ceará, com a respeitabilidade e dimensões do nosso JAQUINHO a nível nacional, certamente, motivara novas opções de grupos do sul, estimulados pelo seu exemplo, com uma  melhor avaliação dos esforços, desafios e incentivos cearenses, na nossa batalha pelo progresso do Estado.

Dizíamos que a reunião era de trabalho. Aqui estão empresários e as mais altas autoridades do Estado, sinal de que reconhecem as responsabilidades públicas do empresariado, como parceiros que somos do processo. Aqui está, também, para maior prazer nosso, o presidente da Confederação Nacional da Indústria, que distinguiu o Ceará neste dia.

Como diretor do departamento Nacional do SESI, tudo lhe devemos, na obra que inauguramos hoje e no Centro e Atividades de Parangaba, a ser brevemente inaugurado. Ali, ampliaremos a Ação Social que o SESI-CEARÁ vem cumprindo: educação, saúde, lazer, creches, alimentação, tudo isto está contemplado no novo centro.

Foi ALBANO FRANCO, o presidente da CNI e diretor do departamento nacional do SESI, que respondeu ao nosso apelo, consignando-nos os necessários recursos para esses empreendimentos.

A ele, nosso agradecimento. ALBANO FRANCO, o líder empresarial confiável, sério e intimorato, é também Senador da República. Por isso entendo que maior autoridade lhe cabe para trazer-nos, neste dia, a mensagem do Industrial Brasileiro.

Antes de sua fala, uma homenagem e os cumprimentos da Indústria Cearense ao Governador Gonzaga Mota. Seu plano de governo obedece à realidade e encara sem personalismo o problema do Estado, tendo em vista o bem comum. Nem recua, como vimos na imprensa, Sábado passado, para advertir da gravidade dos problemas, enxergando, com acurada visão, a iminência da convulsão social que ameaça levar a nação para um sério impasse.

Há muito que nós, os industriais brasileiros,temos reclamado a urgente necessidade da mudança de métodos e processos na atividade política e pública, negando aplausos às promoções da demagogia.

É que não temos faltado com a nossa responsabilidade pública, procurando permanentemente um diálogo sobre os problemas que, coletivamente, enfrentamos.

“Num país onde se desencoraja a empresa privada ao mesmo tempo em que se deteriora a empresa pública, nem se está preparando para uma expansão capitalista, nem para uma socialização, mas se está simplesmente deixando-se ir ao impulso de uma corrente descendente, que pode ancorá-lo numa estagnação e a longo prazo precipitá-lo na desordem social”.

Foram palavras quase-proféticas de San Tiago Dantas, pronunciadas vinte anos atrás.

Enquanto isso, a tecnoburocracia prospera erigindo-se numa “NOMENKLATURA” cabocla que só considera a sua sobrevivência, em detrimento dos superiores interesses nacionais.

“Nem o empresário deve ser mudo, nem a autoridade deve ser surda”, dizia o Ministro Camilo Penna. Mas, a intencionalidade de ouvir, no diálogo que temos pedido à autoridade, é apenas aparente por parte do Governo que se pretende democrático.

Que País é este? A pergunta é antiga.

UBI SUMMUS! Indagava Cícero, contrapondo-se a Catilina, no Senado Romano. E o império romano sucumbiu!

“E VÊ DO MUNDO TODOS OS PRINCIPAIS
QUE NENHUM NO BEM PÚBLICO IMAGINA.
VÊ NELES QUE NÃO TEM AMOR A MAIS
QUE A SI SOMENTE, E A QUEM A FILÁUCIA ENSINA.
VÊ QUE ESSES QUE FREQUENTAM OS REAIS
PAÇOS, POR VERDADEIRA E SÃ DOUTRINA
VENDEM ADULAÇÃO, QUE MAL CONSENTE
MONDAR-SE O NOVO TRIGO FLORESCENTE”.

O poeta maior da lusitana gente referia-se a Dom Sebastião – o novo “trigo florescente”, que não podia governar por causa dos personalismos da Corte.

Parece que as virtualidades da miscigenação de que nos fala Gilberto Freire, não nos libertou daquelas mazelas ancestrais.

Vemo-las condenadas em Rui: “O Brasil não é isso”. “Não são os comensais do erário. Não são os compradores de jornais. Não são os oligarcas estaduais. Não são os estadistas de impostura. São as células ativas da vida nacional. É a multidão que não adula, não teme, não corre, não recua, não deserta, não se vende”.

Que País é este?

A pergunta ainda persiste. Ecoou recentemente nas dúvidas cívicas de Francelino Pereira, o então presidente da PDS.

Falando na sessão de encerramento do Fórum “Perspectivas da Economia Brasileira para 1977”, disse o ministro reis Velloso: “Se soubermos agir, poderemos, transformar o ano de 1977, para o Brasil, em ano de oportunidade. Oportunidades quanto à redução substancial da inflação, à evolução de balança do comércio, ao desenvolvimento de setores básicos, como bens de capital e insumos básicos e a capitalização da empresa privada nacional”. O resultado aí está!... o resto é silêncio...

Ficamos com Manuel Bandeira:
“Estou farto do lirismo comedido
do lirismo bem bem-procedido
Do lirismo funcionário público, com livro de ponto
Expediente protocolo e manifestações de apreço
Ao Sr. Diretor”.

Muito Obrigado.