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Pronunciamento do Presidente da FIEC, Dr. José Flávio Costa Lima, na transcorrência do Dia da Indústria.
Fortaleza, 25 de maio de 1982


O Mérito Industrial, que nossas entidades conferem, habitualmente, no Dia da Indústria, contém dual juízo de valor.

O primeiro é intrínseco e se relaciona com a própria valoração do setor no contexto sócio-econômico da comunidade.

Nós, os empresários industriais, sem dogmatismo, nem polêmica, cremos nas virtualidades do sistema da economia de mercado – que permite o crescimento da empresa e sua multiplicação no quadro de uma economia aberta, como a melhor forma de viabilizar o projeto brasileiro, fruto do entendimento entre os que trabalham e os que dirigem politicamente a Nação, no rumo do aperfeiçoamento democrático e da reforma estrutural da sociedade, que se quer solidária e justa.

Ao longo do nosso discurso, à frente da Federação das Indústrias, não temos perdido de vista o importante papel das entidades de classe, em face das questões cada vez mais complexas e das desconcertantes perspectivas econômico-sociais que vimos defrontando.

É verdade que o mundo vive, também, graves problemas que repercutem negativamente sobre nós. Entretanto, não aceitamos a postura escapista que, sob aquele pretexto, procura não ver ou minimizar os sérios óbices estruturais, próprios, que marcam nossos horizontes sociais.

Todos sentimos a iniquidade em que se encontra grande parte da nossa população. O campo se abre para pacíficas e justas reivindicações, mas pode descambar para esquemas que mal escondem ideologias alheias à nossa formação democrática.

Num país tão rico de recursos naturais como o nosso, o subdesenvolvimento econômico e social que nos domina, nesta era caracteristicamente tecnológica, atesta a indisponibilidade de espírito público no longo prazo de nossa formação.

O PROBLEMA É, ASSIM, ESSENCIALMENTE POLÍTICO.

Nosso vice-presidente – AURELIANO CHAVES – aponta, como “UM DOS ENTRAVES AO PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO DE DISTENÇÃO E PARTICIPAÇÃO, A AUSÊNCIA DE UMA ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DEFINIDA E A NÍVEL DE SE COMPATIBILIZAR COM AS NECESSIDADES DO PAÍS”.

De fato, no discurso político, inclusive da oposição, pouco sobra da gesticulação crítica e da luta pelo poder, pois não se conhecem suas propostas para os grandes problemas nacionais.

O presidente João Figueiredo, cujo programa apoiamos, em sua última viagem ao Mato Grosso do Sul, sem ressalvas ao próprio partido, traduz suas amarguras cívicas ao apontar que “O POVO ESTÁ CANSADO DE QUESTIÚNCULAS POLÍTICAS, DE RIVALIDADES QUE NADA TRAZEM PARA O FUTURO DA PÁTRIA E DE AMBIÇÕES DESTEMPERADAS DE QUEM NÃO TEM CONDIÇÕES DE SER GOVERNANTE; DE GENTE QUE ANTES DE PENSAR NA GRANDEZA DESTE PAÍS E NO BEM ESTAR DE SEU POVO, SÓ PENSA NOS INTERESSES POLÍTICOS”.

Esse vazio retrata o despreparo das classes dirigentes e dá origem às oligarquias que aí estão, alimentadas pelo bovarismo de seus líderes caricaturais.

Talvez nos faltem aqueles muitos homens comuns, conscientes de seus deveres de cidadania que, no dizer de Ortega Y Gasset, são mais necessários à grandeza das nações do que a disponibilidade de grandes homens.

Fala-se de mudança do perfil econômico, mas ela será inócua sem a primordial mudança do perfil ético e dos anacronismos administrativos, pois a teoria econômica não compatibiliza o progresso com o atraso gerencial, público ou privado.

A promoção publicitária, erigida como norma de governar, a ninguém convence. Aí estão os resultados: decresce o produto e cresce a fragilidade social.

A Federação das Indústrias tem consciência das responsabilidades do capital numa moderna economia de mercado.

Por isso, quer participar decisivamente do processo, com visão não meramente economicista.

Com esse fim, foi criado, ao nível do Instituto Euvaldo Lodi, e é, agora solenemente empossado, o CONSELHO DE POLÍTICA ECONÔMICA E SOCIAL DA INDÚSTRIA CEARENSE, conforme nominata a se seguir.

Ele se compõe dos reitores das nossas Universidades, de juristas, de economistas, de representantes da imprensa e de três (3) industriais, representando respectivamente a indústria da capital, do Cariri e da zona norte.

Agradecemo-lhes por terem patrioticamente aceito nossa convocação.

Com o respaldo do seu aconselhamento, estaremos capacitados a comparecer com maior autoridade na discussão dos grandes problemas do nosso Estado.

Louvamo-nos no ilustre amigo e companheiro Albano Franco, o capaz e incansável presidente da Confederação Nacional da Indústria, que dizia no seu discurso inaugural:

“ESTA CASA NÃO É NEM PODERÁ SER UMA ASSEMBLÉIA ELITISTA.

O MONÓLOGO NÃO A TORNARÁ UNIDA. A PRECIPITAÇÃO NÃO LHE DARÁ RESPEITABILIDADE. O SILÊNCIO NÃO A FARÁ FORTE”.

Resistimos à tentação de falar aqui sobre o endividamento da nação, os juros altos que inibem o investimento, e o estado da economia.

A posição da indústria é sobejamente conhecida e o presidente da CNI, melhor do que nós, poderá trazer-vos, logo mais, nossas propostas sobre esses problemas.

O segundo juízo de valor que se contém no Mérito Industrial é adjetivo e relaciona-se com os agraciados.

Eles hão de, necessariamente, se qualificar naquilo que a entidade tem como válido: o desenvolvimento pleno da comunidade a que está vinculada.

Singular coincidência marca a personalidade dos nossos homenageados cearenses.

Edson Queiroz, João Grangeiro e Danilo Pereira principiam suas atividades num contexto modesto e simples.

E eles receberam e têm em abundância!

Porque, segundo as escrituras,  A TODO O QUE TEM DAR-SE-LHE-Á E TERÁ EM ABUNDÂNCIA; MAS AO QUE NÃO TEM, TIRAR-SE-LHE-Á ATÉ O QUE PARECE TER (São Mateus, 25/29).

Que teríeis, Edson, João e Danilo, para receberdes o que tendes recebido?

Responde-nos o grande ensaísta americano, Waldo Emerson: Self reliance, Trust Thyself.

CONFIA EM TI MESMO. DEIXAI O HOMEM CONHECER SEU VALOR E O MUNDO EXISTIRÁ PARA ELE.

Eis-vos, agora, no usufruto do que vosso trabalho vos deu. E tudo que vem do trabalho, é justo e bom.

Basta que vos diga que a sociedade sabe o que deveis a ela, mas sabe, também, o muito que ela vos deve.

O êxito das vossas iniciativas são um eloqüente desmentido aos derrotistas que muito propositadamente desacreditam da viabilidade da região.

Vosso currículo será lido e será bastante...

The last, but not the least!

Chegamos a Albano Franco, também nosso agraciado.

Conhecendo-vos, aprendemos a admirar as qualidades do vosso caráter. Sobretudo, as ricas virtudes do líder empresarial, do trabalhador incansável, do homem público sério.

Tendes cumprido com fidelidade as promessas do manifesto que foi vosso discurso de posse à frente da CNI.

Sois um daqueles homens simples, necessários ao progresso das nações a que me referi, citando Ortega Y Gasset: tendes posto vossos deveres acima dos vossos direitos.

Por isso, nos orgulhamos de conceder-vos nossa Medalha do Mérito Industrial.

Ela significa o aplauso de toda a indústria cearense por vossa atuação à frente da Confederação.

Como representante maior do industrial nacional junto à autoridades, tendes dialogado com independência e dignidade, procurando as medidas necessárias ao bem da nossa região, ao bem nacional, em favor do homem brasileiro.

Recebei, com os demais homenageados, o preito de nossa admiração e amizade.

Muito obrigado!