O
Mérito Industrial, que nossas entidades conferem, habitualmente,
no Dia da Indústria, contém dual juízo de valor.
O
primeiro é intrínseco e se relaciona com a própria valoração do
setor no contexto sócio-econômico da comunidade.
Nós,
os empresários industriais, sem dogmatismo, nem polêmica, cremos
nas virtualidades do sistema da economia de mercado – que permite
o crescimento da empresa e sua multiplicação no quadro de uma economia
aberta, como a melhor forma de viabilizar o projeto brasileiro,
fruto do entendimento entre os que trabalham e os que dirigem politicamente
a Nação, no rumo do aperfeiçoamento democrático e da reforma estrutural
da sociedade, que se quer solidária e justa.
Ao
longo do nosso discurso, à frente da Federação das Indústrias, não
temos perdido de vista o importante papel das entidades de classe,
em face das questões cada vez mais complexas e das desconcertantes
perspectivas econômico-sociais que vimos defrontando.
É
verdade que o mundo vive, também, graves problemas que repercutem
negativamente sobre nós. Entretanto, não aceitamos a postura escapista
que, sob aquele pretexto, procura não ver ou minimizar os sérios
óbices estruturais, próprios, que marcam nossos horizontes sociais.
Todos
sentimos a iniquidade em que se encontra grande parte da nossa população.
O campo se abre para pacíficas e justas reivindicações, mas pode
descambar para esquemas que mal escondem ideologias alheias à nossa
formação democrática.
Num
país tão rico de recursos naturais como o nosso, o subdesenvolvimento
econômico e social que nos domina, nesta era caracteristicamente
tecnológica, atesta a indisponibilidade de espírito público no longo
prazo de nossa formação.
O PROBLEMA É, ASSIM,
ESSENCIALMENTE POLÍTICO.
Nosso
vice-presidente – AURELIANO CHAVES – aponta, como “UM DOS ENTRAVES
AO PROSSEGUIMENTO DO PROCESSO DE DISTENÇÃO E PARTICIPAÇÃO, A AUSÊNCIA
DE UMA ORGANIZAÇÃO POLÍTICA DEFINIDA E A NÍVEL DE SE COMPATIBILIZAR
COM AS NECESSIDADES DO PAÍS”.
De
fato, no discurso político, inclusive da oposição, pouco sobra da
gesticulação crítica e da luta pelo poder, pois não se conhecem
suas propostas para os grandes problemas nacionais.
O
presidente João Figueiredo, cujo programa apoiamos, em sua última
viagem ao Mato Grosso do Sul, sem ressalvas ao próprio partido,
traduz suas amarguras cívicas ao apontar que “O POVO ESTÁ CANSADO
DE QUESTIÚNCULAS POLÍTICAS, DE RIVALIDADES QUE NADA TRAZEM PARA
O FUTURO DA PÁTRIA E DE AMBIÇÕES DESTEMPERADAS DE QUEM NÃO TEM CONDIÇÕES
DE SER GOVERNANTE; DE GENTE QUE ANTES DE PENSAR NA GRANDEZA DESTE
PAÍS E NO BEM ESTAR DE SEU POVO, SÓ PENSA NOS INTERESSES POLÍTICOS”.
Esse
vazio retrata o despreparo das classes dirigentes e dá origem às
oligarquias que aí estão, alimentadas pelo bovarismo de seus líderes
caricaturais.
Talvez
nos faltem aqueles muitos homens comuns, conscientes de seus deveres
de cidadania que, no dizer de Ortega Y Gasset, são mais necessários
à grandeza das nações do que a disponibilidade de grandes homens.
Fala-se
de mudança do perfil econômico, mas ela será inócua sem a primordial
mudança do perfil ético e dos anacronismos administrativos, pois
a teoria econômica não compatibiliza o progresso com o atraso gerencial,
público ou privado.
A
promoção publicitária, erigida como norma de governar, a ninguém
convence. Aí estão os resultados: decresce o produto e cresce a
fragilidade social.
A
Federação das Indústrias tem consciência das responsabilidades do
capital numa moderna economia de mercado.
Por
isso, quer participar decisivamente do processo, com visão não meramente
economicista.
Com
esse fim, foi criado, ao nível do Instituto Euvaldo Lodi, e é, agora
solenemente empossado, o CONSELHO DE POLÍTICA ECONÔMICA E SOCIAL
DA INDÚSTRIA CEARENSE, conforme nominata a se seguir.
Ele
se compõe dos reitores das nossas Universidades, de juristas, de
economistas, de representantes da imprensa e de três (3) industriais,
representando respectivamente a indústria da capital, do Cariri
e da zona norte.
Agradecemo-lhes
por terem patrioticamente aceito nossa convocação.
Com
o respaldo do seu aconselhamento, estaremos capacitados a comparecer
com maior autoridade na discussão dos grandes problemas do nosso
Estado.
Louvamo-nos
no ilustre amigo e companheiro Albano Franco, o capaz e incansável
presidente da Confederação Nacional da Indústria, que dizia no seu
discurso inaugural:
“ESTA
CASA NÃO É NEM PODERÁ SER UMA ASSEMBLÉIA ELITISTA.
O
MONÓLOGO NÃO A TORNARÁ UNIDA. A PRECIPITAÇÃO NÃO LHE DARÁ RESPEITABILIDADE.
O SILÊNCIO NÃO A FARÁ FORTE”.
Resistimos
à tentação de falar aqui sobre o endividamento da nação, os juros
altos que inibem o investimento, e o estado da economia.
A
posição da indústria é sobejamente conhecida e o presidente da CNI,
melhor do que nós, poderá trazer-vos, logo mais, nossas propostas
sobre esses problemas.
O
segundo juízo de valor que se contém no Mérito Industrial é adjetivo
e relaciona-se com os agraciados.
Eles
hão de, necessariamente, se qualificar naquilo que a entidade tem
como válido: o desenvolvimento pleno da comunidade a que está vinculada.
Singular
coincidência marca a personalidade dos nossos homenageados cearenses.
Edson
Queiroz, João Grangeiro e Danilo Pereira principiam suas atividades
num contexto modesto e simples.
E
eles receberam e têm em abundância!
Porque, segundo
as escrituras, A TODO O QUE TEM DAR-SE-LHE-Á E TERÁ EM ABUNDÂNCIA;
MAS AO QUE NÃO TEM, TIRAR-SE-LHE-Á ATÉ O QUE PARECE TER (São Mateus,
25/29).
Que
teríeis, Edson, João e Danilo, para receberdes o que tendes recebido?
Responde-nos
o grande ensaísta americano, Waldo Emerson: Self reliance, Trust
Thyself.
CONFIA
EM TI MESMO. DEIXAI O HOMEM CONHECER SEU VALOR E O MUNDO EXISTIRÁ
PARA ELE.
Eis-vos,
agora, no usufruto do que vosso trabalho vos deu. E tudo que vem
do trabalho, é justo e bom.
Basta
que vos diga que a sociedade sabe o que deveis a ela, mas sabe,
também, o muito que ela vos deve.
O
êxito das vossas iniciativas são um eloqüente desmentido aos derrotistas
que muito propositadamente desacreditam da viabilidade da região.
Vosso
currículo será lido e será bastante...
The last, but not the least!
Chegamos
a Albano Franco, também nosso agraciado.
Conhecendo-vos,
aprendemos a admirar as qualidades do vosso caráter. Sobretudo,
as ricas virtudes do líder empresarial, do trabalhador incansável,
do homem público sério.
Tendes
cumprido com fidelidade as promessas do manifesto que foi vosso
discurso de posse à frente da CNI.
Sois
um daqueles homens simples, necessários ao progresso das nações
a que me referi, citando Ortega Y Gasset: tendes posto vossos deveres
acima dos vossos direitos.
Por
isso, nos orgulhamos de conceder-vos nossa Medalha do Mérito Industrial.
Ela
significa o aplauso de toda a indústria cearense por vossa atuação
à frente da Confederação.
Como
representante maior do industrial nacional junto à autoridades,
tendes dialogado com independência e dignidade, procurando as medidas
necessárias ao bem da nossa região, ao bem nacional, em favor do
homem brasileiro.
Recebei,
com os demais homenageados, o preito de nossa admiração e amizade.
Muito obrigado!
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