Senhoras
e Senhores,
De
início, permitam-me cumprimentar a UFC pelo enfoque adotado neste
curso, ao se propor analisar os problemas básicos do Brasil de hoje,
que são, em última instância, as dificuldades, inquietações e esperanças
da nossa sociedade, nesta fase crítica de sua história.
Assim
é que, não como especialista que nunca fui, mas como empresário
que sou, encontro-me aqui para, num diálogo franco e aberto, próprio
à nossa condição de cidadão, sugerir-lhes alguns elementos de reflexão
sobre o perfil do setor industrial no contexto da política econômica
e social vigente. Tal propósito tentarei cumpri-lo através de uma
dupla abordagem, muito mais simultânea que sequenciada.
De
forma sucinta começarei por fazer uma caracterização do setor em
si mesmo, através de indicadores disponíveis desprezando, entretanto,
a celeuma criada por conta de diferenças de unidades ou décimos
nos dados estatísticos, por ser estéril e sem importância para o
que me proponho.
Reconheço que,
apresentando a situação da indústria somente através de estatísticas,
a análise fica restrita a poucos fenômenos quantificáveis e marginaliza
muitos outros, principalmente as relações entre eles que, estas sim,
refletem com maior fidedignidade a realidade nacional complexa que
aí está a nos desafiar. Daí porque esta realidade, ainda que setorial,
não pode ser abordada do ponto de vista econômico isoladamente, pois,
em sua natureza, ela é essencialmente político-econômio-social.
Assim
pensando, é minha pretensão, fazendo uso da experiência refletida,
que o tempo não me dá o direito de reconhecer ser pequena, deter-me
em algumas avaliações, levantamento de questões e proposições que
desbordarão, não apenas o quantitativo, mas o estritamente econômico
e o estritamente industrial.
Para
esse nível de esforço de compreensão dos nossos graves problemas,
eu os convoco, pois se não foi a nossa participação responsável
que os gerou, foi pelo menos, a nossa omissão que os fez crescer.
Aceitando que “não
se pensa sobre o futuro sem julgar o presente”, acho imprescindível
direcionar toda a inteligência e o conhecimento disponíveis para compreendermos
a nós mesmos, como Nação em busca de sua própria identidade.
É
urgente procurar reduzir nossos erros de diagnóstico, que certamente
se somam a tantos outros cometidos aos níveis de projeções e medidas
adotadas. A minha insistência na necessidade de nos determos numa
leitura mais atenta de nossa própria realidade se fundamenta na
certeza de que muitas das políticas adotadas desprezaram parcela
substancial dessa realidade, não tanto por não tê-la contemplado,
como são exemplos os fenômenos das disparidades interregionais e
o desemprego e subemprego, mas por atingi-la negativamente e, neste
caso, lançar ao futuro a responsabilidade de revertê-la.
1-
A evolução do Produto Interno Bruto (PIB) do país, nestes últimos
34 anos, registra alguns pontos críticos, como os de 1953 e 1963,
que tiveram taxas positivas de apenas 2,5% e 1,5%, respectivamente.
Entretanto, foi no ano passado que essa taxa se tornou a mais baixa
de todo este período em que a Fundação Getúlio Vargas acompanha
as contas nacionais, chegando a se situar em torno de – 3,5% (ver
gráfico 1). Este índice, tão desfavorável, resultou do desempenho
dos setores econômicos que, em 1981, foi da seguinte ordem:
-
Agricultura – cresceu
6,8%;
-
Indústria – decresceu
8,4%;
-
Comércio – decresceu
6,0%;
-
Transportes e Comunicações
– cresceu 0,8%.
É
bom que se enfatize que a queda da produção industrial, em 1981,
decorreu da retratação do setor, que foi acentuada. Isto pode ser
mais bem evidenciado, se se proceder a uma comparação do último
triênio que registra as seguintes taxas:
-
1979 – crescimento
de 7,8%;
-
1980 – crescimento
de 7,1%;
-
1981 – decréscimo
de 9,6%.
Pela
significativa importância de São Paulo na economia nacional, conquistada
sobretudo pela aceleração do seu crescimento industrial nas três
últimas décadas, é de interesse verificar mais especificamente alguns
indicadores da indústria daquela região.
Antes,
porém, cumpre ressaltar que foi o crescimento de São Paulo que permitiu
que o Brasil se classificasse hoje como a 8ª potência industrial
do mundo. Este índice posicional, entretanto, não nos orgulha, porque
sabemos o que ele esconde e – quem sabe ? - se deveu a uma dinâmica
de crescimento nacional altamente desigual, concentradora de renda
e responsável pela atual condição de economia periférica das regiões
Norte e Nordeste do país.
Segundo
dados da FIESP, o nível de atividade industrial em São Paulo continua
em ritmo decrescente, chegando em janeiro deste ano a um decréscimo
de 9,7%, o que corresponde à maior queda dos últimos 50 anos. Este
índice de atividade é o resultado do cômputo das horas trabalhadas
em produção, da variação do pessoal empregado, do consumo de energia
e das vendas reais, refletindo, portanto, o desempenho do setor
industrial paulista (ver gráfico 2).
Examinando
com mais detalhe o perfil industrial brasileiro do ano passado,
verifica-se que, dos seus dois elementos componentes – a Indústria
Extrativa Mineral e a Indústria de Transformação – o último teve
uma variação negativa de 9,9%, contra um ligeiro aumento no primeiro,
que ficou em 2,2% (ver gráfico 3).
2-
O exame do setor por categoria de uso torna claro que a indústria
foi a mais atingida pelas decisões de política econômica do governo
federal e que, ao lhe serem tiradas as condições para crescer, só
lhe restou, sob protesto, adaptar-se à conjuntura adversa (ver gráfico
4). Senão vejamos as taxas dos seguintes itens:
|
1979
|
1979
|
1981
|
Bens
de capital
|
+ 5,6 %
|
+ 6,6 %
|
- 18,7 %
|
Bens
intermediários
|
+ 9,2 %
|
+ 8,3 %
|
- 10,5 %
|
Bens
de consumo
|
+ 5,8 %
|
+ 6,0 %
|
- 6,0 %
|
Torna-se
notório, pelas fortes variações nessas estatísticas, que a demanda
foi pressionada de forma deliberada; ou seja, a sua mudança brusca
de aumento para redução, decorreu das restrições de caráter monetário
e fiscal postas em prática pelo governo, cujos efeitos positivos
são ainda insignificantes face aos custos sociais requeridos.
Sob
o ângulo do sistema industrial vem-se ainda acrescentar a importação
compulsória e desnecessária de equipamentos atrelados à obtenção
de financiamentos externos. Tal diretriz, trazendo dificuldade complementar
à indústria nacional, se bem estudada, parece mostrar que o seu
impacto sobre o balanço de pagamentos não produz necessariamente
resultados favoráveis a médio e longo prazos.
Outro
tipo de efeito adverso sobre a indústria nacional já se faz sentir,
conforme se pode constatar pelo índice geral de nacionalização dos
equipamentos. Depois de ter atingido 70% em 1979, esse índice recuou
para 60% em 1980, ficando em torno de 55% em 1981, com previsão
de se fixar em 50% este ano.
3-
De modo mais geral, a partir do painel de informações obtidas pela
própria Fundação IBGE, por outras instituições públicas e entidades
de classe, podem-se identificar 4 fatores que refletem a marcante
desaceleração da atividade industrial do país, em 1981, quais sejam:
-
a profunda redução
do consumo industrial de energia elétrica;
-
a queda na produção
de alguns bens intermediários de amplo uso, como cimento e aço;
-
a menor utilização
da capacidade instalada na indústria de transformação;
-
o agravamento do
desemprego e subemprego.
Passemos
agora à análise de cada um destes fatores de per si.
a)
Consumo industrial de energia elétrica
Segundo
a ELETROBRAS, o consumo de energia elétrica na indústria de transformação
sofreu uma queda de 12,2%, sendo que, no setor industrial como um
todo, esta queda situou-se em 10,1 pontos.
Respondendo
por 70% da energia elétrica consumida no país o sudeste registrou
uma redução de 2% no seu consumo industrial, contra o incremento
de 6,3% ocorrido no setor residencial. Na área de São Paulo os ramos
industriais que mais contribuíram para a queda do consumo de energia
elétrica foram os de metalurgia, com menos de 4%, de material de
transporte, com menos de 11,9% e o têxtil, com menos de 11%.
Uma
certa evolução positiva (3.1%) no consumo global resultou do comportamento
dos setores residencial e comercial, que consumiram 7,5% e 4,5%,
respectivamente.
b)
Produção de alguns bens intermediários de consumo
Pelos
seus efeitos de propagação para frente e para trás, o desempenho
do setor siderúrgico reflete de forma significativa o arrefecimento
da atividade industrial. Com efeito, a produção acumulada de aço
bruto em 1981 totalizou 13.212 mil t., o que foi 13,9% abaixo do
verificado em 1980. Na produção de laminados atingiu-se um volume
de 11.037 mil t, inferior em 15,1% ao de 1980.
Esta
queda de produção da siderurgia nacional decorreu da redução de
encomendas dos principais ramos demandante de seus produtos, quais
sejam, indústrias automobilísticas, de construção civil, de construção
naval, de eletrodomésticos, etc.
No
caso específico de laminados planos, a queda na produção se deveu
também à parada de manutenção dos altos fornos das três grandes
usinas estatais – COSIPA, USIMINAS e CSC.
Para
compensar a retratação da demanda interna, o setor procurou colocar
parte dos seus produtos no mercado internacional, o que evitou uma
queda mais drástica de sua produção, ao mesmo tempo que conseguiu
um balanço comercial equilibrado no final do ano.
No
que concerne à indústria de cimento, obteve-se uma produção acumulada,
em 1981, da ordem de 26.051 mil t, ou seja, um decréscimo de 4,2%
em relação ao ano anterior.
O
volume de vendas até novembro de 1981 se situou em 23.900 mil t,
contra 24.900 mil t. vendidas no ano anterior. O sudeste, normalmente
consumidor de 60 % da oferta nacional de cimento, reduziu suas compras
de cerca de 5%.
Este
decréscimo desfavorável da indústria de cimento resultou da retratação
do mercado imobiliário, bem como da decisão governamental de conter
os investimentos públicos, o que afetou, inclusive, o ritmo de produção
das empreiteiras de vias de transporte e de obras hidráulicas.
c)
Utilização da capacidade instalada na indústria de transformação
As
margens elevadas de ociosidade registradas na indústria de transformação
evidenciam as dificuldades do setor na colocação dos seus produtos,
seja no mercado interno, seja no externo.
Em
janeiro do corrente ano, a indústria de transformação operava ainda
cm um elevado índice de ociosidade utilizando somente 74% de sua
capacidade instalada.
Entretanto,
parte substancial do parque industrial brasileiro situou-se abaixo
do nível de 70% de utilização da sua capacidade. Dentre os gêneros
industriais incluídos nesta faixa destacam-se:
-
óleos, gorduras e
ceras em bruto (30%);
-
eletrodomésticos
(36%);
-
beneficiamento de
fibras têxteis vegetais (47%);
-
tratores e máquinas
de terraplanagem (54%);
-
máquinas operatrizes
e aparelhos industriais (58%);
-
conservas alimentícias
(59%);
-
equipamentos para
indústrias rurais (60%);
-
adubos e fertilizantes
(60%);
-
material plástico
para uso industrial (61%);
-
embalagens de vidro
(62%);
-
material de transporte
(63%);
-
material plástico
para construção (63%);
-
produtos veterinários
(65%);
-
óleos e gorduras
vegetais para alimentação (65%).
Certamente,
em decorrência da persistência da retratação da demanda, alguns
gêneros industriais sofreram uma acentuada diminuição no nível de
utilização de sua capacidade instalada entre outubro/81 e janeiro/82.
Neste caso, encontram-se as indústrias de:
-
eletrodomésticos
– de 74% para 36%;
-
caminhões, ônibus
e semelhantes – de 53% para 48%;
-
óleos, gorduras e
ceras em bruto – de 65% para 30%.
d)
Desemprego e subemprego
A
disponibilidade de informações sobre o desemprego do país, ainda
que não muito desagregada, não deixa dúvidas quanto a evidência
deste problema nacional que não é de agora, mas que vem se tornando
mais grave, seja pela entrada de novos contingentes populacionais
na força de trabalho, seja pela aplicação das medidas recessivas
que causaram a retração da atividade econômica do país desencadeando
o desemprego, principalmente na área urbana.
A
taxa de desemprego, definida como a relação percentual entre o número
de pessoas desempregadas e a população economicamente ativa (pessoas
de 15 anos e mais) calculada pela Fundação IBGE para 6 regiões metropolitanas
do país, revela que o nível de desemprego elevou-se a partir de
janeiro de 1981, em todas as regiões. Esta elevação, ao Ter-se mantido
no decorrer de todo o ano e, o que é mais grave, persistindo ainda,
contraria alegações freqüentes de que o desemprego decorrente da
conjuntura recessiva ter-se-ia caracterizado como fenômeno circunscrito
à área de São Paulo e que a tendência de reabsorção da mão de obra
desempregada já estaria se efetivando.
A
taxa de subemprego no país, de 1969 até o início da atual década,
passou de 10,9% para 18%, sobre o total da população economicamente
ativa. O subemprego feminino no mesmo período apresentou taxas entre
23,6% e 33%. Este quadro é talvez mais grave que o do desemprego,
na medida em que é sintoma de problemas econômicos de natureza estrutural
não sendo normalmente afetado por medidas conjunturais.
Examinando o índice
de emprego em 1981, calculado, mês a mês, pelo Sistema Nacional de
Emprego (SINE) constata-se, ao longo do ano, uma queda acentuada da
oferta de emprego, nas 10 regiões metropolitanas do País.
Em
termos de setores da atividade econômica, a indústria foi o setor
que apresentou os maiores decréscimos no índice de emprego, destacando-se
o observado na região de São Paulo(-16,7%), Curitiba(-10,2%), Rio
de Janeiro(-9,9%), Porto Alegre(-9,9%) e Fortaleza(-9,4%).
Na
indústria de construção civil, o comportamento não se manteve uniforme,
tendo havido oscilações significativas, com destaque para Porto
Alegre(-12,2%), Rio de Janeiro(-11,2%) e Recife(+14%).
A
evolução dos indicadores de produção industrial e de pessoal ocupado
mostra que foi a partir de janeiro de 1981 que ambas as variáveis
entraram em ritmo decrescente, não tendo havido qualquer reversão
em todo o período(ver gráfico 5).
A
nível de gêneros da indústria de transformação, evidencia-se que
15 dos 16 gêneros agrupados pela Fundação IBGE registram queda no
indicador de pessoal ocupado, no ano de 1981. Os maiores decréscimos
ocorrem na indústria de material de transporte (-21,3%), material
elétrico e de comunicação(-19,3%) e produtos de matéria plástica
(-17,5%). No conjunto, 10 dos gêneros analisados assinalaram, no
período, taxa de decréscimo superior a 10%.
Finalmente o agravamento
do desemprego no ano passado que levou mais de 2 milhões de pessoas
e perderem o emprego já conseguido, não pode certamente ser suportado
pelo país. Não dispomos, a exemplo do que existe em países desenvolvidos,
de fundos sociais para garantir uma renda ao empregado ocioso e seus
dependentes. Como podemos, pois, aceitar a aplicação de medidas restritivas
que elevam o desemprego se as dificuldades financeiras da Previdência
Social não podem assegurar o salário-desemprego?
Questões
como esta nos fazem pensar na necessidade de se definir uma política
de emprego para o país, que se compatibilize com a programação econômica
e financeira e não seja por esta inviabilizada.
4- O perfil da
indústria brasileira aqui esboçado torna claro que a estratégia de
política de desenvolvimento nacional adotada foi de caráter nitidamente
recessionista, provocando efeitos maléficos sobre a produção e o emprego,
apesar de as autoridades econômicas terem assegurado, repetidas vezes,
que o crescimento econômico não seria sacrificado.
É
claro que o conjunto de medidas monetárias e fiscais implementadas
encontra suporte em correntes econômicas, ainda que críticas por
parte de outras. Tal polêmica também existe com relação ao acerto
das medidas tomadas para enfrentar a conjuntura internacional desfavorável
que, ninguém nega, deteriorou severamente os termos de troca que
declinaram 24% em 1970/80 e 8% em 1981. Ou seja, em apenas 3 anos,
para importar uma mesma unidade de mercadoria, tivemos que pagar
um terço a mais em termos de nosso esforço exportador.
Ainda
como dificuldade que afetou de fora para dentro a nossa economia,
assistimos a um considerável aumento das taxas de juros internacionais
que, combinado com a política de obtenção de dólares a qualquer
custo, está inviabilizando a retomada do crescimento industrial
do País. Por outro lado, segundo Bulhões, as altas taxas em vigor
no mercado financeiro constituem fatores de pressão sobre os preços
e contribuem para o desemprego. Assim, identificados como uma das
causas imediatas da inflação, os altos custos financeiros, passaram
a ser objeto de estudos por parte das entidades de classe que vem
procurando alertar o Governo para seus efeitos cumulativos prejudiciais
à economia brasileira.
Embora
não pretendendo entrar na discussão de especialistas em questões
econômicas, tive que fazer estas colocações porque as suas relações
com a indústria são muito estreitas.
Nessa
linha de abordagem devo agora deter-me, mais especificamente, nos
objetivos e instrumentos de política econômica adotados e em pleno
vigor, procurando examiná-los à luz dos interesses e necessidades
da Nação.
Com
efeito, não é possível admitir, em sã consciência, que os objetivos
de combate à inflação e ao déficit do balanço de pagamentos anulem
outros, fixados pelo próprio Presidente Figueiredo no início do
seu mandato. Naquele momento, era reconhecido que o programa de
desenvolvimento do país contemplaria a manutenção de um elevado
ritmo de crescimento, a diminuição das desigualdades sociais, o
controle do processo inflacionário e a atenuação do desequilíbrio
externo. Ora, o que se depreende das avaliações feitas aqui e alhures
é que os dois últimos objetivos vêm sendo perseguidos com firmeza,
mas o 1º - o crescimento econômico elevado – já está sacrificado
desde 1981.
Quanto
ao objetivo de redução das disparidades interpessoais e interregionais
de renda, reconhecidamente o mais prioritário hoje no país, a observação
atenta da realidade, apoiada nos fatos e no próprio Censo de 1980,
mostra um quadro lamentavelmente degradante. Esta questão, para
a qual não estamos suficientemente alertados, foi percebida por
visitantes, como o economista Leontieff (Prêmio Nobel de Economia)
para quem o problema da distribuição de renda no Brasil é mais grave
que o da própria inflação.
Tal
constatação não nega, entretanto, que alguns mecanismos, inclusive
a Lei Salarial, se acrescentaram a outros já implantados no governo
Geisel, visando melhorar o perfil social do país. Todavia, se os
resultados foram contrários, só nos resta concluir pela insuficiência
destes instrumentos ou que sua eficácia foi neutralizada por outros,
utilizados para fazer face à inflação e ao balanço de pagamentos.
No
conjunto, é impossível inferir que, a continuar com o leque de instrumentos
em vigor na intensidade com que vêm sendo aplicados, estaremos acentuados
as tensões sociais latentes pela nossa recusa de corrigir desde
já o perfil injusto de distribuição da renda que hoje exibimos.
O
exercício da cidadania nos impulsiona a uma ação transformadora
e responsável, que mobilize todos os recursos físicos, humanos e
financeiros existentes no país para o atendimento das necessidades
básicas e, por isso mesmo, prioritárias, dos brasileiros.
Nesta
perspectiva, deveremos escolher uma nova modalidade de distribuição
de renda que tenha efeito estimulador dos investimentos, de tal
sorte que, na medida em que se expanda o mercado interno, sejam
criadas condições para o aumento da produção. Supõe-se assim a necessidade
de se combinar formas de crescimento e de orientação da poupança
para atividades produtivas com geração de emprego e aumento de produtividade
nos setores público e privado.
Em
síntese, precisamos de uma reformulação da estratégia de desenvolvimento
nacional para minimizar as adversidades atuais à produção e ao emprego,
incentivar métodos de decisões econômicas que estimulem a participação
dos agentes produtivos envolvidos; enfim, buscar, firme e gradativamente,
superar as distorções profundas que marcam o Brasil de hoje.
|