Mais do
que uma homenagem à capacidade de dois homens vitoriosos, que comprovaram
a viabilidade econômica da região, há neste ato um simbolismo muito
significativo, como reconhecimento dos méritos de quantos, nesta
área do país, se dispõem a levar avante o processo de industrialização,
como alternativa para vencer o seu subdesenvolvimento.
A
esta altura, torna-se difícil a louvação, se a Edson Queiroz e Plínio
Osvaldo Assmann – o presente materializado em vários e importantes
empreendimentos industriais, ou se à figura fisicamente ausente,
mas dominando toda a nossa memória, de Ângelo Figueiredo, cujo nome
à comenda que o jornal “Tribuna do Ceará” institui, representa
realmente o símbolo do espírito criativo, da audácia, da vontade
indômita do homem nordestino, diante de tantas e tamanhas dificuldades
para plantar, no Nordeste, os caminhos opcionais da indústria metalúrgica,
como forma de produção de riqueza.
Se hoje uma iniciativa como esta se depara, até com certo embaraço,
na escolha dos homenageados, tantas são os que, como Edson Queiroz
e Plínio Osvaldo Assmann, possuem qualidades para merecer a honraria,
é porque existe uma realidade que alguém começou a construir. Esta
realidade é a indústria metalúrgica do norte/nordeste, ora reunida
em oportunos encontros em nossa cidade.
E numa ocasião assim, afloraria indiscutivelmente o nome de
Ângelo Figueiredo, mesmo não houvesse sido ele lembrado, como o
foi tão boa hora, pela “Tribuna do Ceará”. A “Medalha do Mérito
Ângelo Figueiredo”, como acentuei de início, é o reconhecimento
ao pioneirismo dos que um dia, já bem distante, acreditaram ser
possível criar, na antes e ainda esquecida região nordestina, um
processo industrial a partir da transformação de metais leves.
Nascido no Crato, Miguel Ângelo de Figueiredo, na sua juventude,
se fez ourives, e desde então, por certo, nasceu-lhe, a vocação
de trabalhar os metais, o que só muito mais à frente viria a tornar
realidade, antes, seu currículo apresenta muitas outras atividades,
evidenciando, acima de tudo, que ele foi primordialmente um homem
devotado ao trabalho, o casamento, em 1924, com Dona Gesumira Guedes
Figueiredo, deu-lhe à vida rumos que talvez não esperasse.
Tornou-se funcionário público, sendo coletor federal de Várzea
Alegre até o começo da década de 30. O sogro o convidou, então para
ser seu sócio numa firma comercial em Limoeiro do Norte, cidade
que adotaria como sua. Em Limoeiro, Ângelo Figueiredo, a princípio
associado ao sogro, depois sozinho e posteriormente em companhia
dos filhos, pode demonstrar a sua capacidade como negociante e empresário.
Logo sua empresa expandiu-se por todo o Vale do Jaguaribe, avançando
para o extremo sul do estado e pelo vizinho estado do Rio Grande
do Norte. Sucessivamente, por força da expansão, a firma foi ganhando
novas denominações, a partir de Raimundo Gurgel Guedes & Cia,
que se transformou em Armazém Santo Antônio, após o falecimento
do sogro; depois, Ângelo Figueiredo & Filho, já então na companhia
do filho Djanir e posteriormente Ângelo Figueiredo & Filhos.
Com o ingresso de dois outros filhos, Djalma e João Batista.
Sua visão empresarial, contudo, não poderia restringir sua
firma aos limites familiares. Assim, em 1956, convidava dois fiéis
colaboradores, Francisco Máximo Saraiva e Amadeu Cavalcante de Menezes,
para seus sócios, tornando-se então a firma Ângelo Figueiredo &
Cia.
Mas seria no ano seguinte, em 1957, que ele Ângelo Figueiredo,
apoiado pelos filhos concebeu e concretizou o seu ideal de fundar
uma indústria metalúrgica, surgindo assim a Fábrica de Móveis de
Aço Confiança, atualmente a próspera Móveis de Aço Ângelo Figueiredo
S/A Nesse mesmo ano, em razão do volume de negócios, transferiu
a sede das empresas e sua própria residência para Fortaleza.
Hoje, o Grupo Ângelo Figueiredo, na diversificação de suas
atividades, e, particularmente, na sua produção industrial, com
uma linha de artigos que conquistou todo o país e se lança vitoriosamente
no mercado externo, é o testemunho da força realizadora de seu fundador,
cujo nome neste instante recordamos na Medalha do Mérito conferida
a Edson Queiroz e Plínio Osvaldo Assmann.
Fortaleza está em vias de ser, de fato, um polo metal-mecânico,
induzido pela implantação de uma siderúrgica estatal para atender
ao mercado do Ceará e da Região.
Pois, essa decisão de ordem política obedeceu ao imperativos
racionais e objetivos da desconcentração siderúrgica, num país de
dimensões continentais como o nosso, cujo mercado específico se
espraia por suas diversas regiões.
A
opção por Fortaleza, dentro da racionalidade do processo, teria
de ser função, portanto, do nosso próprio mercado, condicionado
pela ação desses verdadeiros capitães de indústria, pioneiros e
seguidores – metalúrgicos, metalgráficos, fundidores, estruturas
e perfis, que assim se credenciam ao respeito e aplauso de todo
o Ceará.
Eis porque, ao ganharmos a sede de um polo metal-mecânico da
Nação, não podemos deixar de invocar o trabalho dos nossos pioneiros.
Este, portanto, em dentre muitos outros motivos da justeza deste
tributo prestado à memória de Ângelo Figueiredo, pela oportuna e
louvável iniciativa da Tribuna do Ceará, cujos primeiros homenageados
são, realmente, dois homens, altamente merecedores do nosso respeito
e reconhecimento por tudo o que estão realizando para fazer do Ceará
e do Nordeste uma região próspera.
Como
Presidente da Federação das Indústrias do Ceará, quero encerrar
estas palavras com um voto de fé nos destinos do Nordeste, que haverá
de superar o subdesenvolvimento e o pauperismo, pela valentia de
seus filhos e pela consciência de que deve ampliar sua luta em defesa
dos seus direitos.
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