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Pronunciamento do Presidente da FIEC, Dr. José Flávio Costa Lima, quando da visita do Ministro Delfim Netto.
Fortaleza, 20 de dezembro de 1980


“O rico, tendo sido abalado, é sustido pelos seus amigos; mas o pobre, quando cair, será empurrado até pelos seus conhecidos. Se o rico se engana, tem muitos defensores; falou com orgulho, justificam-no. Engana-se o pobre, é argüido. Falou avisadamente, não lhe dão ouvidos. Falou o rico, e todos se puseram em silêncio e exaltaram até as nuvens as suas palavras. Falou o pobre, e dizem: “Quem é este? E se puser um pé em falso, acaba-lo-ão de derrubar”.

Vemos que o Eclesiástico (13:25) explica, pois, a incômoda posição em que se encontra tradicionalmente o Nordeste pobre, frente ao sul rico e desenvolvido, que forma e informa o centro de decisão do País.

Mas é também nas Escrituras, Sr. Ministro, que aprendemos a libertar-nos dessa danação: “Ajuda-te e eu te ajudarei”, está escrito.

E o Nordeste compreendeu, de há muito, que só podia ajudar-se a partir do conhecimento crítico dos seus problemas, para poder superar com racionalidade, os déficits do colonialismo em que se encontra, face ao industrializado do sul.

Esse conhecimento mostra, à luz da teoria econômica, que à exceção dos casos patológicos de pobreza extrema (que não é o nosso), até e disponibilidade de recursos naturais (que não nos faltam) deixou de ser relevante para o desenvolvimento. Trabalho e tecnologia parecem capazes de superar dificuldades aparentemente intransponíveis.

           

Sabe, portanto, o Nordeste que pode desenvolver-se e o quer.

Esta postura de auto-confiança confere-nos o direito à necessária ajuda que temos reclamado e que, conquanto prometida e cuidadosamente planejada, tem sido, sob os mais variados pretextos, também cuidadosamente adiada.

Todos sabemos que, pior do que administrar sem planejamento, é sincopar sua execução.

Nem se diga que o combate à inflação impede os subsídios reclamados.

Correta avaliação evidenciaria que a solicitada ajuda ao Nordeste implicaria em insignificante parcela no conjunto das contas nacionais, como evidenciaria que não foi aqui gerada a inflação que aí está...

Pelo contrário, sendo a zona mais pobre, somos onerados por ela mais gravemente.

Nem se alegue sobre nossa baixa contribuição para as rendas nacionais. Pois os termos do intercâmbio interno, negativo para nós, escondem nas dobras da estatística, erros de avaliação ou de apuração sobre o contribuinte de fato.

Não é este o momento de insistirmos nessas teses, já levantadas, sem contestação válida, pelos técnicos regionais, que evidenciam nossa posição periférica, dependente, reflexa, quase colonial, com relação ao centro sul.

O empresariado nordestino tem aprazado com Vossa Excelência sr. Ministro, um encontro, com data aberta, no qual pretendemos aprofundar-nos nos problemas do nosso desenvolvimento, em toda sua amplitude econômica, social e política.

Aqui, compete-me saudá-lo em nome do empresário cearense, para ouvi-lo em seguida. Seria difícil, diante do quadro de restrições sobre a SUDENE e o BNDE sobre o crédito, diante de terapêutica contra  a “distensão” (válida talvez para o sul), quando o caso nordestino, é de “distrofia”, seria difícil dizer-lhe, como parceiros do programa, que estamos satisfeitos.

Consideramos que, entre as relevantes tarefas que V. Excia. Veio cumprir em nossa terra, esta reunião se destaca como a mais importante.

Vossa Excelência esteve no Lagamar, onde assinou diversos convênios para a modernização da área. Olhando com olhos de ver, terá visto que, fruto da inadimplente hipoteca social, o fundo dos quintais deixa transparecer gritante decadência biológica das nossas populações, como a terá visto ao adentrar-se pelos sertões mal roçados do Banabuiu. Pois aos problemas da moradia e da infra-estrutura do saneamento básico, sobressalta-se aquele maior do emprego, que numa economia de  mercado, pluralista como quer o projeto nacional, depende da necessária atuação da iniciativa privada, para que os esforços da área governamental e da área empresarial sejam conjugados, porque complementares.

Por isso, este diálogo do Ministro Chefe do Planejamento da Presidência da República com o empresariado torna-se obrigatório.

A ele comparecemos, para ouvir e para falar, com o respeito que nasce da crença na livre discussão das idéias e da dignidade de propósitos de quem fala e de quem ouve. Conscientes das nossas sérias responsabilidades sociais, consideramo-nos mobilizados.

Senhor Ministro Delfin Netto, receba as respeitosas e cordiais saudações do empresário cearense os agentes dinâmicos da relevante tarefa do nosso desenvolvimento econômico e social”