“O rico,
tendo sido abalado, é sustido pelos seus amigos; mas o pobre, quando
cair, será empurrado até pelos seus conhecidos. Se o rico se engana,
tem muitos defensores; falou com orgulho, justificam-no. Engana-se
o pobre, é argüido. Falou avisadamente, não lhe dão ouvidos. Falou
o rico, e todos se puseram em silêncio e exaltaram até as nuvens
as suas palavras. Falou o pobre, e dizem: “Quem é este? E se puser
um pé em falso, acaba-lo-ão de derrubar”.
Vemos que o Eclesiástico (13:25) explica, pois, a incômoda
posição em que se encontra tradicionalmente o Nordeste pobre, frente
ao sul rico e desenvolvido, que forma e informa o centro de decisão
do País.
Mas é também nas Escrituras, Sr. Ministro, que aprendemos a
libertar-nos dessa danação: “Ajuda-te e eu te ajudarei”, está escrito.
E o Nordeste compreendeu, de há muito, que só podia ajudar-se
a partir do conhecimento crítico dos seus problemas, para poder
superar com racionalidade, os déficits do colonialismo em que se
encontra, face ao industrializado do sul.
Esse conhecimento mostra, à luz da teoria econômica, que à
exceção dos casos patológicos de pobreza extrema (que não é o nosso),
até e disponibilidade de recursos naturais (que não nos faltam)
deixou de ser relevante para o desenvolvimento. Trabalho e tecnologia
parecem capazes de superar dificuldades aparentemente intransponíveis.
Sabe, portanto, o Nordeste que pode desenvolver-se e o quer.
Esta postura de auto-confiança confere-nos o direito à necessária
ajuda que temos reclamado e que, conquanto prometida e cuidadosamente
planejada, tem sido, sob os mais variados pretextos, também cuidadosamente
adiada.
Todos sabemos que, pior do que administrar sem planejamento,
é sincopar sua execução.
Nem se diga que o combate à inflação impede os subsídios reclamados.
Correta avaliação evidenciaria que a solicitada ajuda ao Nordeste
implicaria em insignificante parcela no conjunto das contas nacionais,
como evidenciaria que não foi aqui gerada a inflação que aí está...
Pelo contrário, sendo a zona mais pobre, somos onerados por
ela mais gravemente.
Nem se alegue sobre nossa baixa contribuição para as rendas
nacionais. Pois os termos do intercâmbio interno, negativo para
nós, escondem nas dobras da estatística, erros de avaliação ou de
apuração sobre o contribuinte de fato.
Não é este o momento de insistirmos nessas teses, já levantadas,
sem contestação válida, pelos técnicos regionais, que evidenciam
nossa posição periférica, dependente, reflexa, quase colonial, com
relação ao centro sul.
O empresariado nordestino tem aprazado com Vossa Excelência
sr. Ministro, um encontro, com data aberta, no qual pretendemos
aprofundar-nos nos problemas do nosso desenvolvimento, em toda sua
amplitude econômica, social e política.
Aqui,
compete-me saudá-lo em nome do empresário cearense, para ouvi-lo
em seguida. Seria difícil, diante do quadro de restrições sobre
a SUDENE e o BNDE sobre o crédito, diante de terapêutica contra
a “distensão” (válida talvez para o sul), quando o caso nordestino,
é de “distrofia”, seria difícil dizer-lhe, como parceiros do programa,
que estamos satisfeitos.
Consideramos que, entre as relevantes tarefas que V. Excia.
Veio cumprir em nossa terra, esta reunião se destaca como a mais
importante.
Vossa
Excelência esteve no Lagamar, onde assinou diversos convênios para
a modernização da área. Olhando com olhos de ver, terá visto que,
fruto da inadimplente hipoteca social, o fundo dos quintais deixa
transparecer gritante decadência biológica das nossas populações,
como a terá visto ao adentrar-se pelos sertões mal roçados do Banabuiu.
Pois aos problemas da moradia e da infra-estrutura do saneamento
básico, sobressalta-se aquele maior do emprego, que numa economia
de mercado, pluralista como quer o projeto nacional, depende da
necessária atuação da iniciativa privada, para que os esforços da
área governamental e da área empresarial sejam conjugados, porque
complementares.
Por isso, este diálogo do Ministro Chefe do Planejamento da
Presidência da República com o empresariado torna-se obrigatório.
A ele comparecemos, para ouvir e para falar, com o respeito
que nasce da crença na livre discussão das idéias e da dignidade
de propósitos de quem fala e de quem ouve. Conscientes das nossas
sérias responsabilidades sociais, consideramo-nos mobilizados.
Senhor
Ministro Delfin Netto, receba as respeitosas e cordiais saudações
do empresário cearense os agentes dinâmicos da relevante tarefa
do nosso desenvolvimento econômico e social”
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