“Observando
os movimentos de renovação da atividade sindical que se vem processando
nas diversas entidades representativas da indústria nacional, nós
nos orgulhamos, sem falsa modéstia, dos industriais brasileiros,
que, a exemplo da abertura que viria a impor-se no campo político-social,
assumiram no campo econômico, firme e inarredável posição de interlocutores
da autoridade, dentro da correta compreensão de nosso papel, num
regime que todos queremos democrático, pluralista e justo.
Convocado para novo período à frente da Federação das Indústrias
do Ceará, é natural volvermos os olhos para reavaliar as tarefas
a que nos propusemos há três anos, ajustando-as à realidade dos
dias atuais.
Sem dúvida, o agravamento da crise de proporções mundiais,
originada pelo problema do petróleo, prejudicou, dentro do quadro
de restrições externas, a trajetória do crescimento nacional, impondo-lhe
sérias deflexões, que a crescente inflação vem exacerbando extraordinariamente.
Não damos por conferido, entretanto, que os críticos problemas
do Brasil se situem, apenas, nessa conjuntura da crise energética,
como querem as autoridades econômicas, pois é forçoso reconhecer
que eles se radicam, profundamente, nos déficits estruturais da
nossa sociedade, somente superáveis mediante persistente e cuidadoso
trabalho de quantos, nela, tenham a mínima parcela de liderança.
Para
contestar o escapismo dos que debitam, apenas ao petróleo, as dificuldades
que se desdobram sobre a sociedade brasileira, basta perguntar
ou avaliar o perfil dessa sociedade nos anos 73/74, quando tínhamos
a energia praticamente de graça.
A hipoteca social do Estado para com a Nação, ontem como hoje,
demonstra claramente a falsidade do pretexto.
A fragilidade social, no quadro das populações faveladas, da
desigualdade de renda, da gritante desnutrição que explode demograficamente
em milhões de hebetados – futuros zumbis do sectarismo ideológico,
a fragilidade social no quadro do Nordeste, de 35 milhões de injustiçados
– o maior conglomerado de pobreza do ocidente, a fragilidade social
no quadro do endividamento interno e externo que compromete nossa
independência, esvazia de conteúdo humano as alegações de sucesso
que, a título de compensação, nos colocam nos 8º produto interno
bruto (PIB) do mundo.
É
que a noção de desenvolvimento econômico não se concilia apenas
com o crescimento mecanicista da economia. O desenvolvimento tem
de estar associado à fruição do bem estar pelas gerações contemporâneas.
Assim, dentro dessa dimensão, nossa responsabilidade aumenta
como classe, num regime de mercado, que se quer aberto, o qual deve
ensejar a cada cidadão o direito de participar social e culturalmente
dos bens comunitários, já no plano das decisões, já no acesso à
formas de melhor distribuição das riquezas.
Aqui, é bom que expressamos nossa manifesta solidariamente
ao Presidente João Batista Figueiredo que, mobilizando as forças
democráticas do País, procura solução construtiva para os conflitos,
pelo Estado de Direito que só o consenso induz.
Queremos deixar claro que esta solidariedade não será meramente
formal, nem será da indústria como classe; é a solidariedade do
cidadão empresário, que quer participar, pois compreendemos que
o industrial isolado morreu como liberalismo balofo do “laissez
faire”.
As dimensões sociais, éticas e econômicas da crise que aí está,
ameaçando, por seu desdobramento, as conquistas humanísticas das
liberdades civis, mais do que nunca, reclamam, de nossa parte, maior
ativismo político.
Necessariamente, ele não terá de passar pela militância partidária,
ainda comprometida (et pour cause) pela penosa tradição brasileira
de vazio político, preenchido pela ambição e pelo personalismo de
muitos. Prevalecem os interesses grupais pelo mando, em detrimento
de uma organização político-partidária definida, a nível de compatibilizar
com as necessidades do País, o que é, sentido, aliás, por quantos
tenham um mínimo de sensibilidade cívica.
É verdade que, na área da administração, até por força de dispositivo
constitucional, pretende-se que se governa obedecendo a um planejamento,
ou como plano. Mas, o problema é também de sua execução. Isto é,
da formação dos quadros executivos dos escalões inferiores, onde
entra a política... com “p” pequeno.
Myrdal registra, como conseqüência do próprio subdesenvolvimento,
a distorção a que estão sujeitos os projetos, pelo desengajamento
dos escalões de execução da administração. Ainda mais, diz o autorizado
economista sueco: “outros desvios surgem com a promoção pessoal,
que resulta em chocante desperdício com obras de fachada e em subsídios
a custosos investimentos improdutivos”.
E é o ministro Golbery do Couto e Silva, segundo se vê em reportagem
da revista VEJA, de 10 do corrente, que deixa bem claro esse tipo
de distorção, no bojo do famigerado milagre brasileiro: “Expandiu-se,
pujante, a burocracia, quase nunca bem orientada e esclarecida,
atuando em muitos casos em rebeldia disfarçada ou persistente resistência
passiva, para exclusivo benefício próprio. Essa lamentável realidade
(ainda o ministro) avulta sobretudo com a proliferação de fundações
evidentemente fictícias e, na administração, a de novas empresas
públicas ou de economia mista, tanto na União como nos Estados,
dotados todos de estatutos privilegiados e larga dose de autonomia,
não de todo visível, aliás, marchava-se, inconsciente, a par de
um mínimo de operância”.
A indagação subjacente é: até que ponto o maniqueismo político,
tão destrutivo e inibidor das novas lideranças, teria sido alimentado
nos escalões tecno-burocráticos, à revelia da autoridade maior,
em benefício do próprio proveito no poder, e ainda mais, servindo,
“CHI LO SA” a um plano de paciência oportunista, dentro da atual
filosofia pragmática, do materialismo dialético, que evoluiu do
modelo revolucionário da Rússia de 17, como bem o demonstra JEAN
FRANÇOIS REVEL, (La Tentation Totalitaire).
A quem serviu o regime que se encontra enfrentando tantas tensões
sociais?
O momento é de crítica e autocrítica. Governo e oposição, trabalhadores
e empresários, estudantes e professores, profissionais liberais
e confissões religiosas, ninguém pode omitir-se.
Compreendemos necessário um movimento de opinião pública, formado
por cidadãos conscientes de sua cidadania, que a exercitem com independência,
para ser o vetor de autênticas organizações político-partidárias,
representativas das diversas correntes de opinião, em benefício
do superior interesse do Brasil, tão dependente do espírito público
de seus filhos.
O regime quer ser pluralista, com base na economia de mercado.
A indústria reivindica um modelo no qual a empresa nacional
tenha um papel preponderante e não marginal das grandes empresas
estatais, ou de grupos internacionais.
Alardeia-se, agora, perigosamente para as instituições – numa
autêntica busca do bode expiatório – que os problemas inflacionários
e as gritantes desigualdades sociais são fruto dos lucros excessivos
ou da ganância do empresariado. Que o estado intervenha, então,
com medidas financeiras e fiscais corretivas dos eventuais abusos
porventura identificados, tendo sempre presente que a empresa nacional
carece de poupanças, e que é do seu crescimento e de sua multiplicação,
no quadro de uma economia aberta, que se amplia o mercado de trabalho
prioridade máxima do momento.
Não aceitam as entidades que o trato dos problemas nacionais
desbordem para tais colocações, principalmente quando partem das
autoridades. Pois só serviriam para desacreditar o sistema e a empresa,
em benefício das vocações totalitárias de sectários, cuja pregação
aproveita os conflitos sociais assim alimentados...
Nossa Comenda possui a grandeza da fibra e da independência
do industrial cearense, grandeza e fibra que são do nosso povo.
Por isso, guardamo-la com muito carinho e só a cedemos sob as inspirações
da amizade e do respeito que o merecimento induz.
As Federações de Indústria do Nordeste fizeram, recentemente,
com Memorial expositivo, convite ao Sr. Ministro Delfin Netto para
que debatêssemos, aqui, a adequação das políticas econômicas às
nossas carências e programas. Esperando próxima oportunidade para
realizar o encontro, nó nos permitimos Sr. Ministro Mário Andreazza,
reiterar igual convite que lhe fizemos por intermédio da Associação
Comercial do Ceará, que lidera valioso movimento de opinião junto
às suas co-irmãs da região.
Seria
de todo conveniente que essa reunião ministerial pudesse ser conjunta,
em proveito de uma solução definitiva para nossa problemática que
nada tem de conjuntural.
Sua presença neste ato de posse nos honra e sobremodo gratifica.
Ao Governador Virgílio Távora e ao Senador José Lins, o agradecimento
muito cordial, respeitoso e amigo da Federação das Indústrias do
Ceará.
Aos presidentes das Federações co-irmãs que muito cordialmente
vieram emprestar maior brilho a esta solenidade, o apreço e admiração
do companheiro de lutas no plano maior da Confederação que, capitaneada
por Albano Franco, saberá expressar o pensamento da indústria nacional
para a solução dos grandes problemas do Brasil.
Aos companheiros
que nos ajudaram no período e aos que foram agora convocados, trabalho
de industrial não termina nas fábricas, ele se prolonga até os sindicatos,
onde, por exigência dos tempos modernos, se discutem e programam
as funções sociais das empresas e dos lucros. Vamos trabalhar. Isto
nós sabemos fazer.
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