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Pronunciamento do Presidente da FIEC, Dr. José Flávio Costa Lima, pela transcorrência do dia da Indústria, no auditório da FIEC, tendo como conferencista o Prof. Paulo Bonavides.
Fortaleza, 10 de junho de 1980


Sem maiores comemorações, acreditamos que, nesta reunião íntima da Federação e do Centro Industrial do Ceará, damos à semana da indústria o relevo que ela merece.

A presença do Professor Paulo Bonavides marca, exatamente, a importância em que temos o evento, aproveitando-o para situar o industrial, como cidadão, no contexto mais amplo do plano sócio-político nacional.

Pela densidade dos problemas que envolvem a população brasileira como um todo, sentimo-nos tentados a procurar as lições daqueles que participam dos valores mais expressivos da cultura que compõem a comunidade a que pertencem.

Importa abandonar o tecnocrata, que nos levou, pelo primado do economicismo, ao quase impasse estrutural em que nos encontramos; tecnocrata alheio da compreensão global do homem na sua essência ôntica e deontológica e abstraído dos fundamentos da ciência jurídica, cujo objeto é a conduta humana na sua interferência intersubjetiva.

Não precisamos apresentar-vos o Professor Paulo Bonavides.

Seria considerar-vos ausentes ou omissos do nosso meio.

Seu nome brilha no cenário filosófico nacional, mais precisamente no da filosofia do direito, onde pontifica ao lado de Miguel Reale.

Antes de transitar aqui, seu nome já se alargara no campo do pensamento europeu, um scholar das universidades alemãs, como Gilberto Freire o é das americanas.

Abordando, agora, na imprensa, os mais variados problemas que se inserem no contexto sócio-econômico do momento nordestino e nacional, o Professor Paulo Bonavides traz-nos seu pensamento e seu norte no plano da “praxis”.

Acreditamos, também, Professor Paulo, que não precisamos de  apresentar-vos os industriais cearenses.

Temos consciência das nossas responsabilidades sociais e queremos cumprí-las, para o que temos comprometido todos os nossos esforços. Sabemos que estamos vivendo delicado momento de avaliações, de críticas, de incertezas e de esperanças.

Sabemos que o negativismo, a apatia, a transigência ou omissão das forças sociais representativas, vale dizer, das classes dominantes à altura de suas responsabilidades, não conduzem aos  caminhos da valorização do homem que a democracia cristã prega e defende. Cristã, porque quer ser justa, e democracia, porque quer ser representativa.

O problema é de cidadania.

Só pela ação corajosa de todos, se inibirá a demagogia daqueles que em todos os quadros da pública administração, tradicionalmente, comemoram sua existência e também sua ineficiência à custa do público. Sentimos que os problemas não são insuperáveis. Como homens públicos à altura dos desafios, seremos um país socialmente justo e economicamente desenvolvido.

Sabemos que a pedra basilar disto repousa na estrutura do direito  público, na constituição, mas, sobretudo, naquela revolução, que temos ainda de fazer, pelo cumprimento da lei em todos os quadrantes sociais, sem o qual se desacredita a sociedade e se anulam as expectativas.

Por isto, estamos aqui, hoje, convosco, este é o industrial cearense. A palavra é vossa, Professor Paulo Bonavides.

Muito obrigado.