Exposição
sobre o Pólo Metal-Mecânico do Ceará
1
- Introdução
Como
Presidente da Federação das Indústrias do Estados do Ceará, mas
principalmente, como empresário, quero aproveitar esta oportunidade
para manter um diálogo profícuo com professores e alunos que integram
este Departamento.
Este
diálogo se inscreve numa linha de ação que temos procurado desenvolver
em conjunto.
Já
quando Secretário de Indústria e Comércio impulsionei a criação
do NUTEC que utiliza e, ao mesmo tempo estimula constantamente,
trabalhos científicos desta Universidade.
Também
através do IEL, temos buscado intensificar o intercâmbio Universidade-Empresa
objetivando aumentar a eficácia do sistema universitário e elevar
o nível tecnológico e gerencial das empresas. Mais recentemente,
através do Grupo de Trabalho FIEC/Núcleo de Fontes Não Convencionais
de Energia debatemos o problema energético nacional e, reunindo
esforços, propomos a criação do Centro Nacional de Biomassas, no
Ceará.
Com
estes fatos quero evidenciar alguns dos serviços que as áreas empresarial
e universitária podem, quando articuladas, prestar na solidão dos
problemas comuns.
A
idéia dos senhores, de incluir o estudo do Polo Metal-Mecânico nesta
“Semana da Química” traduz a consciência, que têm, de que a Universidade
não pode estar dissociada dos problemas da comunidade e de suas
conseqüentes soluções.
O
interesse em conhecer e discutir aspectos essenciais da Política
Econômica, consubstanciada no III Polo Industrial do Nordeste, é
um atestado, que os senhores dão, de compromisso com a realidade.
Na
verdade, esta realidade percebida no seu conjunto, reclama mudanças.
Senão, vejamos:
2
- O Incipiente
Desenvolvimento Regional e Estadual
Com
uma renda per capita em torno de US$ 300, representando 29% da do
país e 83% da do NE, o Ceará à semelhança da Região,
vê acentuarem-se as disparidades interestaduais e interregionais
de níveis de desenvolvimento. Já no período 1948/56 registrava-se
que a renda per capita do nordestino, com relação ao habitante do
centro sul, desceu de 37% para 32%. Tomando um período mais longo
(1959/77), vê-se que este parâmetro, dimensionado para a Região,
declinou de 45% para 35% da média nacional.
Considerado
o 3º centro industrial do Nordeste, seu valor de transformação industrial
apresenta, no entanto, um percentual de participação de apenas 10,6%
com tendência declinante, visto que, em 1970, participava com 12,6%.
Esta perda de posição é também confirmada quando se analisa os recursos
financeiros oriundos dos incentivos fiscais; neste caso, constata-se
que o Ceará se coloca em 6º lugar no Nordeste, detendo apenas 9,9
% do valor global liberado.
Em
termos de ritmo de crescimento da economia como um todo, estima-se
que em 1978, comparativamente a 1977, a economia cearense cresceu
de 5,4%, contra as taxas de 6,9% para o Nordeste e de 6% para o
Brasil.
Sabemos
que, nos casos do Nordeste e do Ceará, muito contribuiu a política
de incentivos fiscais e financeiros dos artigos 34/18 e, posteriormente
do FINOR. Tal política vem se efetivando não somente através da
implantação de novas unidades fabris, mas de relativa mudança na
estrutura industrial.
Todavia,
a redução ocorrida a partir de 1970 à já limitada disponibilidade
de recursos para investimentos, aliada a existência de pontos de
estrangulamento na adoção dessa política, têm acarretado prejuízos
responsáveis, em parte, pela frágil expressão do parque industrial
regional e local.
A
ação combinada de outras políticas regionais e daquelas nacionais,
embora proporcione entrada visível de recursos na região, devido
ao vazamento de renda, têm provocado efeitos limitados. No período
de 60/75, a contabilização de fluxos de recursos, operados através
do setor público quanto ao Nordeste, revela que foi negativo o saldo
global líquido dos movimentos de capital operados com referência
às fronteiras nordestinas.
Por
outro lado, a urbanização no Ceará que, em 1960, correspondia a
33,7% da população total, evoluiu para 40% em 1970, estimando-se
que atinja 44,9% em 1980, e 52% no ano 2000.
Como
a base econômica urbana, já incipiente, não tem sido capaz de absorver
a oferta crescente de mão-de-obra, tem-se verificado um aumento
do subemprego e desemprego, da marginalidade social e da concentração
de renda.
Essas
estatísticas, somadas a outros indicadores sociais e econômicos,
atestam que os instrumentos utilizados na consecução do objetivo,
o nacional e, há muito perseguido, de criar condições para o desenvolvimento
auto-sustentado do Nordeste, foram insuficientes ou compensados
por outros mecanismos inibidores do processo.
Este
caráter insuficiente ou mesmo compensatório, próprio à política
econômica para o Nordeste, decorre da acentuada concentração econômica
e de poder no Centro-Sul.
Num
país de fortes disparidades interregionais de renda, a oportunidade
de desenvolvimento das regiões pobres não virá certamente do livre
jogo das forças de mercado, nem tão pouco do modelo econômico vigente.
Se
o subdesenvolvimento já é por si só um fenômeno social complexo,
o subdesenvolvimento regional o é mais ainda. Os efeitos profanadores
e espontâneos do desenvolvimento, sobre as áreas periféricas (neste
caso está o Nordeste, com relação ao Centro-Sul) emanados do centro
industrial, forte, não encontra respaldo na história, a não ser
em condições bem específicas.
Daí
porque está se criando um consenso de que o problema nordestino
é basicamente, um problema de decisão ao nível de política de governo,
pois achamos que temos toda nossa parcela de promessa e de palavra,
que creio contribuem, obviamente um substituto para a ação efetiva
a que temos direito.
3
- Perfil da Indústria Metal-Mecânica no Ceará
Para
melhor verificar a importância do Polo Metal-Mecânica incluído no
II PLAMEG, tentarei, de forma sumária, traçar o perfil industrial
destes setores, procurando comparar o Ceará com os dois Estados
mais industrializados do Nordeste – Bahia e Pernambuco.
No
período de 50/70, a indústria metalúrgica aumentou 8,5 vezes o número
de seus estabelecimentos, enquanto que Pernambuco teve um acréscimo
de 4,6 e a Bahia de 12,8 vezes.
A indústria mecânica no mesmo período cresceu 6 vezes no Ceará,
e 36,8 vezes em Pernambuco (a Bahia não dispunha de dados no início
da série).
Em 1970, o Ceará participava com 18% do total nordestino de
estabelecimentos metalúrgicos, contra 23% de Pernambuco e 19% da
Bahia.
Naquele mesmo ano estes percentuais para o setor mecânico eram,
respectivamente, 13,4%, 27,6% e 21,6% para o Ceará, Pernambuco e
Bahia.
Quanto ao valor da transformação industrial, no ano sob análise,
a participação do Ceará, Pernambuco e Bahia no total regional tendo
a seguinte composição: Setor Metalúrgico, 21%, 39% e 27% respectivamente;
setor mecânico, 8%, 34% e 48%.
Do ponto de vista de dimensão, verifica-se, que ambos os setores
industriais, a maior freqüência é de estabelecimentos que empregam
até 9 pessoas.
Com base no Cadastro Industrial do Ceará/1979, constata-se
que o Estado dispõe de 144 indústrias metalúrgicas das quais as
10 maiores ocupam, em conjunto, um volume de mão-de-obra da ordem
de 4.200 empregados.
O Cadastro também registra, a existência no Ceará de 34 indústrias
mecânicas, predominantemente de pequeno e médio porte destacando-se
10 empresas fabricantes de máquinas e equipamentos para o setor
agrícola e 9 para o setor industrial.
Computando-se o setor de material de transporte no gênero metal-mecânico,
destaca-se mais uma vez o Ceará, face a sua vocação para a construção
e reparo de embarcações e de caldeiras, máquinas, turbinas e motores
marítimos, ramos consumidor de chapas e demais produtos metalúrgicos.
O mesmo ocorre se incluir o ramo de material elétrico e de comunicações;
neste, o Ceará apresenta importantes empresas produtoras de rádio
receptores, subestações e quadros de comando, transformadores, medidores
e outros produtos.
4 - Concepção do Pólo Metal-Mecânico
O III Pólo Industrial do Nordeste reconhecido como política
do governo através da Exposição de Motivos 259/78 contempla como
prioritário o Pólo Meta-mecânico. Respondendo a uma vocação econômica
do Estado, este Pólo tem uma função de elo na cadeia de investimentos
do Nordeste, na medida em que se constitui num complexo de alto
poder germinativo, ao lado do Pólo Petroquímico de Camaçari, do
Complexo Cloroquímico de Alagoas, do Complexo Industrial Portuário
de Suape, do complexo Químico-Metal-Mecânico do Rio Grande do Norte
e de outros.
Concebido para se efetivar através de um esforço conjugado
dos setores público e privado ele conta com um impulso exógeno representado
pela participação significativa do Governo Federal.
Mais uma vez fica reconhecido, por parte da União que o take-off
do desenvolvimento regional via industrialização, não pode dispensar
de seu aposte substancial. É claro que tal iniciativa, embora fundamental
à economia do Nordeste e, principalmente do Ceará; não necessariamente
reduzirá os desequilíbrios regionais, porquanto distorções próprias
ao modelo econômico brasileiro podem, mais uma vez, frustrar a consecução
deste objetivo.
Entretanto, a consolidação do parque industrial cearense e
a expansão de novas atividades econômicas com geração de renda e
emprego e objetivos a serem certamente atingidos se a implementação
deste programa se verificar conforme planejado.
5 - Programação do Pólo Metal-Mecânico
A programação do Pólo Metal-Mecânico, elaborada a partir das
potencialidades que o Estado apresenta no Setor, parte da seleção
dos ramos metal-mecânicos considerados nos estudos ora em realização
pelo BNB e SUDENE, como compromissos do ponto de vista tecnológico
e de competitividade.
Assim é que a ampliação do parque metal-mecânico para atendimento,
de início, da demanda regional, ora abastecida, em parte no Centro-Sul,
contempla os seguintes ramos:
-
Fundição
de ferro
-
Forjaria
-
Trefilaria
-
Fundição
de não ferrosos
-
Parafusos
e porcas
-
Cutelaria
-
Ferramentas
agrícolas
-
Ferramentas
manuais
-
Máquinas
operatrizes – de cavaco
-
Máquinas
operatrizes – de deformação
-
Máquinas
têxteis
-
Bombas
e compressores
-
Redutores
e engrenagens
-
Rolamentos
equipamentos industriais de processo
-
Estruturas
metálicas
-
Máquinas
e implementos agrícolas
A implantação do Pólo Metal-Mecânico dar-se-á através da execução
dos projetos industriais a seguir especificados:
1 - USINA DE LAMINAÇÃO DE AÇOS PLANOS
Este empreendimento integra o Plano Mestre de Siderurgia e
seu início está previsto para 1984. A Companhia Siderúrgica do Ceará
(COSICE) se encarregará da implantação do projeto, contando para
tanto com a participação dos órgãos federais – SIDERBRÁS e CONSIDER.
a) Meta
Produção de 500.000 toneladas de bobinas e chapas finas a frio
e folhas de embalagem, com instalação prevista em 3 etapas.
b) Inversões
US$ 400 milhões. O financiamento será feito de acordo com os
esquemas financeiros adotados pelo governo federal na implantação
de empreendimentos siderúrgicos.
c) nº de empregos
Cerca de 1.300 pessoas das quais 30 % seriam especializadas.
d) Matéria-prima
Bobinas de aço laminadas a quente, trazidas de empresas siderúrgicas
do Centro-Sul.
e) Fontes de financiamento
Os recursos necessários à implantação e funcionamento do projeto
seriam carreados juntos às seguintes fontes: Governo Estadual, Empresário
Privado, EMBRAMEC, SIDERBRÁS, FINOR, Fornecedores e Bancos de Desenvolvimento.
Além da Usina de Laminação estão previstos outros projetos
industriais, destacando-se dentre estes os seguintes:
2 - FUNDIÇÃO DE FERRO CINZENTO, MALEÁVEL E/OU NODULAR
a) Meta
Produção de 6.000 t/ano, a partir de 1981, de produtos de ferro
fundido, cinzento, maleável e/ou nodular.
b) Inversões
O investimento unitário estimado é de US$ 6 milhões.
c) nº de empregos
Cerca de 388 pessoas
d) Matéria-prima
Uma das composições de matéria-prima poderá ser 6.317 t. de
aço e 1.117 t. de ferro gusa.
e) Fontes de financiamento
Recursos próprios do empresário, com participação do FINOR,
EMBRAMEC e Governo do Estado sob forma de capital social e com financiamento
de longo prazo dos bancos de desenvolvimento.
3 - PRODUÇÃO DE ARAMES
a) Meta
60.000 t. de arame em 1985
b) Inversões
CR$ 161 milhões.
c) nº de empregos
568 pessoas.
d) matéria-prima
O consumo de fio máquina seria da ordem de 60.653 t., enquanto
o de zinco seria de 1.470 t.
e) Fontes de financiamento
As mesmas do projeto anterior.
4 - FERRAMENTAS AGRÍCOLAS
a) Meta
3.500 t. de ferramentas agrícolas em 1981
b) Inversões
CR$ 40 milhões.
c) nº de empregos
90 pessoas
d) matéria-prima
O consumo de tarugo de aço 1045 é de 3850 t. por ano.
e) Fontes de financiamento
As mesmas do projeto anterior.
5 - FERRAMENTAS MANUAIS
a) Meta
1.200 t. de ferramentas manuais em 1981.
b) Inversões
CR$ 80 milhões
c) nº de empregos
379 pessoas
d) matéria-prima
O consumo de aço terá a seguinte composição:
Aço
carbono - BTC – 35 t/ano
Aço carbono – MTC – 870t/ano
Aço carbono – ATC – 265 t/ano
Aço carbono – B liga – 90 t/ano
e) Fontes de financiamento
As mesmas do projeto anterior
6 - MÁQUINAS OPERATRIZES (CAVACO)
a) Meta
1970 t. de máquinas operatrizes (arranco de cavaco) em 1982.
b) Inversões
CR$ 67,6 milhões
b) nº de empregos
358 pessoas
d) matéria-prima
fundidos de ferro e aço e peças prontas numa quantidade em
torno de 2.000 t/ano
e) fontes de financiamento
As mesmas do projeto anterior.
7- BOMBAS
a) Meta
1500 t. por ano de bombas de pequeno
e médio porte para uso agrícola e doméstico.
b) Inversões
CR$ 2,5 milhões.
c) nº de empregos
189 pessoas.
d) matéria-prima
O consumo de ferro gusa e coque previsto é de, respectivamente,
2.000 t e 1.800 t.
e) Fontes de financiamento
As mesmas do projeto anterior.
8 - FERRO GUSA
a) Meta
1.800 t/ano de ferro gusa para fundição.
b) Inversões
CR$ 50 milhões.
c) nº de empregos
68 pessoas.
d) matéria-prima
O minério necessário ao nível de produção programada é de
36.000 t/ano.
e) fontes de financiamento
As mesmas do projeto anterior.
Além destas oportunidades, os estudos estão indicando, em
caráter preliminar, novos empreendimentos industriais para produção
de estruturas metálicas, equipamento para produção de álcool e outros.
Dadas estas informações que espero, tenham contribuído para
um melhor conhecimento do setor metal-mecânico cearense, coloco-me
à disposição dos senhores para dirimir dúvidas ou analisar questões
que porventura possam existir
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Área de Recebimento e manuseio de bobinas
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Linha de Decapagem a Ácido Clorídrico
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Laminador de Tiras a Frio
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Recozimento (Fornos e Bases)
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Rebobi-namento
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Tesouras
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Estanhamento
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Bobinas a Frio
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Chapas
a Frio
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Rebobinamento
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Linha
de Corte
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Bobinas Estanhadas
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Folhas
de Flandres
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Fonte : III Pólo Industrial do Nordeste -
"Justificativa da Implantação de uma Usina de Laminação de
Aços Planos no Ceará", janeiro /79.
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