As organizações
militares têm, de um certo modo, uma maneira prática para as solenidades
desta natureza, na qual os que saem e os que entram limitam-se a
dizer: um transfiro o comando, o outro, recebo o comando da unidade
tal.
Conquanto isso resultasse numa vantagem para os atuais circunstantes,
penso que não me seria lícito sair assim, como se na realidade estivéssemos
presas do ordenamento preestabelecido nos regulamentos e nas funções
propriamente militares.
Vivemos momento de realidade democrática que, embora “relativa”,
deseja aperfeiçoar-se, em função dos anseios do povo brasileiro.
Assim, essa passagem de comando resulta do salutar princípio de
renovação implícito na democracia e em todo o Brasil ressoa o eco
daqueles que saem, proclamando sua “tranqüilidade de consciência
com o dever cumprido”, e daqueles que entram, proclamando a “consciência
das graves responsabilidades que recebem”.
Eis-nos
diante de proclamações contrastantes! Pois se todos os deveres vêm
sendo cumpridos neste país, desde que se transmitem cargos, as
responsabilidades daqueles que assumem, na realidade, não deveriam
ser assim tão graves como são...
De fato, estamos vivendo momentos de extrema fragilidade social,
resultante dos certamente sérios problemas políticos, econômicos
e sociais que envolvem a Nação brasileira como um todo, e, particularmente,
o Nordeste e o Ceará, onde os índices de miséria e pobreza são verdadeiramente
assombrosos. A promoção publicitária convidou-nos ao aplauso do
“soi dissant” milagre econômico do Brasil e da potência emergente...
De repente, enfrentamo-nos com um endividamento externo de
cerca de 40 bilhões de dólares, com um endividamento interno em
cruzeiros, correspondente àquela importância e com a inflação que
aí está.
Grande é a nossa pobreza tecnológica, grande é a carência dos
recursos humanos disponíveis para o trabalho e para o progresso.
Não falemos no baixo desfrute da nossa pecuária, na insignificante
produtividade da nossa agricultura, na penosa carência tecnológica
da nossa indústria, nem da sua inferior posição frente ao capital
estrangeiro que, às nossas custas, invade setores já ocupados por
empresas nacionais, incapazes de competirem com concorrentes privilegiados,
inclusive, pelo poder público. Daí a nossa perplexidade!
Por outro lado, o relatório recente do BNB aos governadores
que ora iniciam seus mandatos na região é muito preocupante, por
denunciar os tremendos déficits regionais e os sérios esforços que
devem ser feitos para superação desses problemas e para a introdução,
na região, do desenvolvimento auto sustentado. Onde estará o erro,
se cada um cumpriu o seu dever?
Longe do derrotismo da inelutabilidade da pobreza brasileira,
anima-me a certeza de que, se trabalharmos objetivamente, dentro
dos ensinamentos básicos da teoria econômica, aplicando tecnicamente
poupanças escassas, conseguiremos tirar proveito dos grandes recursos
naturais à nossa disposição, porém, à espera do homem que ainda
não temos e do cidadão consciente que não temos sabido ser.
Por isso, não me permito dizer que saio com a consciência tranquila
do dever cumprido, pois entendo que não deixo a liça e que meu dever
de cidadão e de líder não se esgotou nas tarefas certamente cumpridas
à frente da SIC, quando a aparelhamos efetivamente com instrumentos
capazes de acionar o programa de trabalho em prol do desenvolvimento
econômico planejado.
O PLAMEG II, na parte relativa ao setor secundário, dá-me a
certeza e a gratificação de que agi objetivamente à frente da Pasta,
instrumentando-a com organismos como o NUTEC e a CDI, que terão,
no plano do Governo Virgílio Távora, excepcional importância no
acionamento da nossa preparação para o progresso. Naturalmente que
a SIC se fortalecerá com as responsabilidades da coordenação do
III Polo de Industrialização, para o qual esperamos não faltem as
prometidas verbas, como é constante na resposta que a União tem
dado aos nossos tremendos problemas estruturais, sobejamente estudados,
amplamente conhecidos, devidamente diagnosticados e permanentemente
adiados.
Devo agradecer a valiosas colaboração de Ariosto Holanda e
seus companheiros do NUTEC, de Marinho de Andrade e Itamar e dos
que ajudaram na CDI. Sei que continuarão à frente desses organismos,
sinal de que fiz boa escolha. Não caberia, aqui, analisar os tropeços
financeiros impeditivos da pronta ação daqueles órgãos ao tempo
da sua criação. Basta agora, que se ressalte que o PLAMEG II os
tem como prioritários.
Estava eu certo, portanto. Os agradecimentos, também à Dra.
Amparo, que me permitiu uma melhor avaliação dos problemas econômicos
do Ceará; à Dra. Rosélia, dinâmica responsável pela Junta de Planejamento;
ao Dr. Odílio, que estudou e planejou os abrangentes problemas do
turismo e do artesanato; ao Dr. Eduardo, eficiente Chefe de Gabinete;
à Dra. Alzanita e à professora Laura, que no artesanato e na seção
de preparação de mão de obra desenvolveram magníficos trabalhos;
ao Dr. José de Freitas, que, no SINE, possibilitou o conhecimento
completo do problema do emprego no Ceará.
Enfim, do mais categorizado ao mais humilde funcionário, os
meus agradecimentos pela colaboração emprestada e pelo carinho que
me demonstraram na última sexta-feira.
Aos meus companheiros da empresa cearense que me estimularam
ao longo do período e em cujo nome exerci o cargo, a certeza de
que não os decepcionei.
Longe de sermos aqueles incompetentes que apenas querem privatizar
os lucros e socializar os prejuízos, como, pretendendo invalidar
o sistema da livre empresa, querem os burocratas sectários, temos,
os empresários, consciência dos nossos deveres econômicos, sociais
e políticos, nos quais se incluí a compreensão da função social
do capital.
Quando a burocracia erra, foi a conjuntura; quando o empresário,
em função dos erros do intervencionismo se atrasa, é a incompetência...
Se, ao transferir o cargo, considero que apenas muda minha
perspectiva como empresário e cidadão (ontem no Legislativo Federal
e sempre nas entidades de classe), acho que o secretário que hoje
assume – Dr. Firmo de Castro, também apenas muda de perspectiva
na sua permanente e dinâmica ação em benefício dos problemas econômicos
regionais e do Ceará, no BANDECE, no BNB, na CODEC, no magistério
e na Superintendência Adjunta da SUDENE, sinal de que é profundo
conhecedor da missão que terá a cumprir.
Diz-se que administrar é escolher.
Parabenizo o Governador Virgílio Távora pela escolha que fez
para a Secretaria da Indústria e Comércio.
Ontem, no seu discurso, sua Excelência proclamava que queria
o concurso de todos.
Posso garantir que o empresariado – consciente das suas próprias
responsabilidades, sabendo que há uma relação de mútua causalidade
entre a ação desenvolvimentista do Governo e a sua ação, sabendo
que é justamente na industrialização que se baseia a estratégia
do desenvolvimento, sabendo que é do crescimento e da multiplicação
da empresa que, numa economia aberta, se amplia a oferta de empregos,
com o que se assegura o futuro das novas gerações, posso garantir
que o Governo Virgílio Távora e o seu Secretário da Indústria e
do Comércio terão a mais ampla colaboração dos empresários, a cujo
serviços se encontram as entidades de classe que representamos.
Dr. FIRMO, por conhecê-lo, antecipo os meus parabéns pela obra
que, certamente realizará à frente desta Secretaria, hoje, um importante
órgão do programa de desenvolvimento econômico do Governo Virgílio
Távora, no qual todo o povo cearense deposita as maiores esperanças.
O empresariado
está mobilizado. É só comandar. Muito Obrigado.
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