Vário e
complexo é o panorama sócio-econômico brasileiro.
A
crise que vivemos não é apenas conjuntural, superável a curto prazo.
Ela tem uma profunda vinculação estrutural, a exigir longo e persistente
ordenamento.
Nós outros, que compomos o segmento dinâmico do corpo social,
protagonistas que somos do processo, precisamos de nos organizar,
para respondermos melhor a esses complexos desafios.
O problema desdobra-se com marcante gravidade sobre as lideranças
nordestinas, eis que são gritantes, aqui, os índices de pobreza.
Por isso mesmo, entendo que devemos avaliar e rever nossa posição
frente aos centros de decisão nacional, de tal forma que nos sejam
conferidas novas condições de representação e da participação regional
naquelas decisões.
Por
outro lado, as variações de cunho sócio-político que se registram
com larga abrangência, no momento, conduzem-nos ao diálogo aberto
com as classes trabalhadoras, em cujo movimento surgem, nacionalmente,
novas e esclarecidas lideranças.
É
verdade que essa posição tem sido corretamente assumida por empresários
do sul do país, porém no Nordeste, e especialmente no Ceará, há
como que uma concepção estacionária do processo. O palco natural
da discussão e equacionamento do problema seria a entidade de classe.
Mas, aqui, elas vivem pela ação quase apostolar de uma meia-dúzia,
ignoradas pelo excessivo individualismo da maioria, que “pretende
segurança, franquias e imunidades no seu; o conjunto, o social,
soa-lhe falso”.
Acredito que todos receberam cópia de editorial do Jornal do
Brasil, de 28 de maio de 76. Muito do que ali está dito já não espelha
o perfil do empresariado do sul, de onde nos chegam, cada dia, notícias
de intensa atividade participativa. Em Minas, S. Paulo, Rio Grande,
Paraná e Rio eles se fazem ouvir, reúnem-se, discutem, reclamam,
dialogam, exibindo um ativismo compatível com as sérias responsabilidades
sociais dos tempos novos.
No Ceará, ouso dizer, o editorial atinge o alvo. É difícil
a reunião. É incômodo vir à Federação, falta estacionamento, ninguém
quer sacrifícios...
Os individualistas – socialmente míopes, estão satisfeitos
ou não querem mudanças. Vêem apenas o crescimento material que o
regime centralizado propiciou. Não enxergam a fragilidade social,
a tensão latente nas fábricas, nos campos e na periferia, onde graçam
o subemprego e o desemprego e onde, sem dúvida, a renda (que nem
atinge 300 dólares per capita) ofende, humilha e avilta o
ser humano, poluindo-lhe o contrato social.
Ainda o Jornal do Brasil de 12 de janeiro passado, publica:
“Os
futuros governadores do Nordeste tomaram conhecimento em reunião
secreta com a SUDENE e o BNB, do que os aguarda a partir de março.
O diagnóstico que lhes foi apresentado é preocupante: a situação
da região é grave e, potencialmente, pode gerar maiores tensões
político-sociais do que as do período de 62/63. Os técnicos reunidos
com os governadores mostraram que a posição relativa da região
não melhorou face ao Brasil desenvolvido”.
O assunto morreu, pouca ou nenhuma repercussão teve na imprensa
local, que aceitou o esoterismo da reunião...
A verdade – no fundo do poço, seria proibida aos empresários
e povo, como se não fossemos protagonistas dessa ópera do desenvolvimento
regional, cuja partitura, ninguém sabe tocar. OU SEREMOS APENAS
FIGURANTES EXTRAS, AOS QUAIS SOMENTE COMPETE O APLAUSO?
Não! Vivemos nossa hora de verdade! Já tivemos nossa parcela
de promessas... Queremos ação efetiva com compromisso. Podemos,
queremos e devemos participar ! E a entidade de classe é a via.
Fiz mostrar o sistema FIEC: SESI, SENAI, IEL, CAMPI.
Sabemos que o desenvolvimento na sua concepção moderna é, essencialmente,
um processo de ganhos de produtividade. Para suprir a deficiência
de acumulação de capital convencional, devemos contar com investimentos
capazes de provocar modificações qualitativas nos fatores: recursos
humanos e tecnologia. Daí o SENAI, o IEL, o CAMPI.
Há transferências indiretas que permitem melhora nos padrões
de vida dos trabalhadores – temos o SESI.
Mas a Federação não pode ser só isto. Qualquer que seja a filosofia
adotada, a industrialização continua a ser o setor estratégico principal
no programa de desenvolvimento. Daí a responsabilidade que reconheço
pesar sobre nossos ombros.
Por isso eu vos convoco.
Trouxe-vos um retrato de corpo inteiro, expresso numa entrevista
concedida ao jornalista Edmundo Vitoriano.
Esta postura de hoje, aqui reiteradamente assumida, não é,
portanto, a de um diletante que, por modismo, exibe as idéias do
seu tempo.
O que está falindo não é a economia de mercado. O que está
falindo são os mecanismos políticos, são as elites. Pois nossa pobreza
nada tem de inelutável.
Assim, nossa participação deixa de ser meramente reivindicatória,
para transformar-se num dever inerente à função do empresário, na
sua mais ampla forma de participação: econômica, social, política.
Sabemos que o desenvolvimento não se faz sem sacrifícios e
que só será atingido com o respeito das prioridades identificadas
por um planejamento realista e objetivo.
É inútil ou infrutífero esperar bons resultados, se os esforços
da área governamental e da área empresarial, porque complementares,
não forem harmonicamente conjugados.
Vale
dizer, precisamos, no contexto, de ESTADISTAS E EMPRESÁRIOS.
|