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Pronunciamento do Patrono da Turma de 1978 da Escola Técnica Federal do Ceará, Dr. José Flávio Costa Lima, no Auditório da Escola.
Fortaleza, 30 de junho de 1978


Meus jovens concluintes:

Honrosa e grata esta oportunidade que nos é oferecida de falar a um auditório de jovens. Honra-nos, real e profundamente, a lembrança da escolha de nosso nome para patrono de sua turma. É confortador sentir que as gerações emergentes nos conhecem e se identificam com nossas idéias e propósitos, a ponto de preferir-nos para uma homenagem tão expressiva quanto sensibilizante. Feliz daquele a quem os moços lançam as atenções.

A par da satisfação de falar-lhes, meus caros amigos, há igualmente a grande responsabilidade quanto ao que dizer-lhes, sem aquele tom conselheiral que enfastia, porém com a segurança nascida da experiência e dos conhecimentos adquiridos no contato benfazejo com os livros ao longo de muitos anos.

Falar aos moços é falar simples, a linguagem sincera que brota do coração. Por isso, não queremos saturar-lhes com doutos pareceres nem substanciosos ensinamentos. Pretendemos apenas dar-lhes uma pequena parcela de nossa vivência, o que lhes poderá ser útil na caminhada que encetarão a partir de agora quando, munidos de um diploma de técnico de nível médio, deixam esta conceituada Escola Técnica Federal do Ceará.

São vocês, estimados concluintes, integrantes de um ainda bem reduzido “clube de privilegiados” desta País. Privilegiados por lograrem alcançar o final de um curso técnico, eficiente e objetivo, que lhes abre as portas de um ávido mercado de trabalho. Muitos, milhões por certo, anseiam por igual sorte sem contudo atingi-la por falta absoluta de condições. Afinal, só de há pouco tempo para cá, o Brasil principiou a reunir recursos capazes de permitir-lhe a ampliação de sua rede de ensino em todos os níveis. Não esqueçamos, porém, que ainda são alarmantes os índices de analfabetismo no País.

Se pouco e deficiente é o ensino comum, rareando as chances para amplas camadas em idade escolar, quase nenhum era, até bem pouco, o ensino técnico-profissionalizante.

O processo de transformação da sociedade brasileira, que deixa, até mesmo açodadamente, o seu leito agro-pastoril para vir assentar-se no ritmo trepidante dos grandes centros industriais, essa realidade nova reclama impacientemente uma indispensável mão-de-obra qualificada.

Sacrificando outros setores, diminuindo ou mesmo negando verbas para hospitais, para estradas, para pesquisas e tantos outros pontos fundamentais ao desenvolvimento, o Governo, por outro lado, tem procurado atender ao apelo angustiante oriundo do setor industrial.

Portanto, caros amigos, vocês são parte dessa resposta, são pois, aqueles privilegiados a quem o Estado enseja meios para a formação técnico-profissional, capacitando-os ao exercício de importantes funções qualificadas no processo de industrialização nacional.

Não se pode, com efeito e de nenhum modo, excluir o seu próprio empenho pessoal, o seu esforço, a sua responsabilidade de estudantes, correspondendo aos elevados gastos que a Nação desenvolveu para ofertar-lhes esse nível de escolarização.

O Governo fez, evidentemente, um investimento. E espera, é claro, o retorno. Não há dúvidas de que este virá, através de seu trabalho consciente, honesto e aprimorado, nos diferentes setores em que logo mais estarão atuando.

Há um dever cívico de parte daqueles a quem a Nação obsequiou – o da retribuição. Conscientizados deste dever, os jovens técnicos que recebem neste momento o seu diploma, irão, por certo, dedicar o máximo de sua capacidade, procurando sempre melhorar os seus conhecimentos, de modo a trazer uma contribuição valiosa ao gigantesco esforço realizado pelo País para superar o subdesenvolvimento e a pobreza que ainda amesquinham a nossa dignidade de povo independente.

Vocês, nós todo o povo brasileiro só seremos realmente livres na medida em que nos capacitarmos para dinamizar a exploração de nossa potencialidades, arrancando das mãos de estranhos os instrumentos básicos da sistemática do desenvolvimento.

Não podemos almejar a liberdade se não possuímos a devida capacitação para conquista-la. E somente chegaremos a essa capacitação através do estudo, da responsabilidade, do amor ao trabalho, na incessante procura das melhores opções para os múltiplos e sérios problemas que ainda assoberbam a sociedade brasileira.

Dissemos ainda há pouco que aos moços se fala a linguagem do coração.

Pois de coração lhes dizemos, amigos, que confiamos em vocês, esperando encontrá-los logo mais na indústria da construção civil, erguendo moradias para o povo ou abrindo estradas para a circulação da riqueza; nos laboratórios ajudando a pesquisar e a analisar os enrustidos elementos químicos que a natureza do Brasil ainda guarda avaramente; nas fábricas assistindo e garantindo o funcionamento das complexas engrenagens das máquinas mais sofisticadas e em muitos outros ramos industriais de que se vêm de tornar técnicos após alguns anos de curso nesta Escola.

Mas a medida do conhecimento é infinita. Perdoem-nos, assim, este conselho derradeiro: estudem, prossigam estudando sempre e cada vez mais, atualizando-se com as mais novas conquistas da mais alta tecnologia humana universal. Este é o único caminho para se alcançar a plenitude da grandeza do Brasil.

Muito obrigado, jovens, e que Deus ilumine a sua nova etapa de vida.