Meus caros
empresários,
Se me fosse permitido fugir das normas protocolares de saudação
aos mandatos que ora se inauguram com a renovação do Centro Industrial
do Ceará, eu me permitiria ceder à tentação de falar-vos sobre o
papel do empresário na moderna sociedade brasileira e no regime
de mercado, dentro do modelo neo-capitalista que pretendemos vestir.
Qual a prioridade que enfrentamos neste contexto subdesenvolvido,
inflacionário, no qual os grandes problemas estruturais da estatização,
da dependência tecnológica, da desnacionalização da nossa economia
estão reclamando urgente revisão?
Temas políticos marcam, pari-passu, os horizontes das
nossas responsabilidades, recaindo sobre nós outros, do Nordeste,
com remarcado imperativo, pois a região reclama maior ativismo para
frear os recuos no plano de ação governamental, que visa a corrigir
as desigualdades regionais.
Tão
íntimos são os laços filosóficos e históricos que ligam a economia
de mercado e o pensamento político, a livre iniciativa e a participação,
que, para nenhum de nós, conscientemente, seria lícita a omissão.
Os tempos modernos são tempos complexos!
Estão a democracia e o capitalismo inexoravelmente condenados,
como solenemente declarou Schumpeter, na primeira metade do século?
Os fatos negam o vaticínio.
O que vemos é o capitalismo vigorosamente cortejado no plano
prático, apesar de atacado frontalmente todos os dias, no plano
ideológico.
Aí estão todos os países socialistas a apelar para a ajuda
tecnológica e para os investimentos dos “agonizantes” países ocidentais.
E
se aplicarmos às economias socialistas, ou apenas às meras intervenções
do Estado nas economias liberais, a mesma severidade crítica com
que são apreciados os resultados da livre empresa pelos seus opositores,
constataremos que é, exatamente, o regime fechado, o sistema centralizador
que está passando por maiores dificuldades.
Jean François Revel coloca o problema muito bem quando, apoiado
naqueles que chama de “novos economistas” da França e dos Estados
Unidos, conclui que “as iniqüidades da sociedade contemporânea são
a conseqüência não do funcionamento do mercado, mas do seu não funcionamento.
“A sociedade sofre não de mercado excessivo, mas de Estado
em excesso”. Segundo Henry Lepage (citado por Revel), as dificuldades
das sociedades ocidentais revelam menos a falência da economia de
mercado que a falência dos mecanismos políticos. Não se diga desnecessário
limitar os inconvenientes do mercado; o que importa é procurar corrigi-lo
pela análise das opções coletivas, do capital humano, cuja moldura
é o neo-capitalismo. Pois acreditamos que o aperfeiçoamento constante
do homem só encontrou uma forma clara de institucionalizar-se –
o sistema democrático.
Como empresários, representamos uma comunidade da qual participam
trabalho, técnica e capital.
Nas entidades, nosso papel, pois, é o de representar a soma
desses interesses, transmitindo, no contexto socio-econômico, suas
reivindicações legítimas.
Por isto fostes convocados meus caros empresários, que hoje
tomais posse do Centro Industrial do Ceará.
O processo de transformação das empresas em modernas sociedades
anônimas, onde os problemas do DEVE e HAVER se desdobram numa complexidade
abrangente, que vão da mercadização à administração por objetivos,
das opções que os incentivos induzem à abertura dos capitais, das
relações humanas, às finalidades sociais do capital, impôs essa
moderna geração de executivos em que vos integrais.
Por isso mesmo vossa presença era reclamada. Estou certo de
que vindes com ânimo forte e espírito aberto para o palco das entidades
cearenses, trazendo para o Centro Industrial do Ceará o valor das
vossas crenças, a força da vossa confiança no trabalho, para que
possamos, construindo a sociedade solidária e justa que o Brasil
quer ser, responder ao desafio das desigualdades impossíveis. Os
tempos modernos são tempos complexos. Suas soluções não serão encontradas
nem no escapismo, nem no simplismo dos que apenas reclamam.
Vamos participar.
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