FUNÇÃO CONSTRUTIVA
Aqui estamos reunidos para um ato comemorativo da eleição dos novos dirigentes da Federação das Indústrias no Estado do Ceará, democraticamente eleitos pelo poder soberano desta entidade. A investidura em cargos sindicais nos órgãos de grau superior, dentro da sistemática da organização sindical brasileira, constitui um evento promissor na vida associativa de nossas categorias econômicas e profissionais, porque evidência o funcionamento normal da estrutura sindical brasileira, no cumprimento de seus elevados fins constitucionais.
O sindicalismo brasileiro surgiu numa época recente, quando a sindicato, emigrado do continente europeu, com uma tradição de Iuta contra o Estado e de agitação contra o patronato, não era acolhido com simpatia pelas nossas classes conservadoras nem pelos governos filiados ao liberalismo político e econômico do início deste século.
Mas a revolução de 1930 e a Constituição democrática de 1934, fazendo vitoriosos os ideais de uma nova ordem econômica, alicerçada nos princípios da justiça social e da liberdade econômica, tendo por base a livre empresa, consagraram na Lei Maior a regulamentação obrigatória de todas as profissões, a reconhecimento do sindicato, das convenções coletivas de trabalho e a instituição da Justiça do Trabalho, com tribunais partidários, nos quais tomam parte Juizes representantes de empregadores e de empregados.
Assim, pacificamente, os estadistas brasileiros e os representantes do povo, na, Constituinte de 1934, transformaram o sindicato em órgão de natureza democrática, chamado a exercer uma função de ordem moderadora e construtiva conjugando o capital e o trabalho para edificar uma ordem nova, consoante as tradições liberais e cristãs de nossa gente, a exemplo o que os nossos fizeram com a libertação dos escravos e a proclamação da República.
A lei ordinária, com base na Constituição, fez dos órgãos sindicais poderosos agentes da Paz Social e da integração de todas as profissões e atividades econômicas, no processo do desenvolvimento nacional, fazendo-as participar, diretamente das responsabilidades inerentes ao Poder Público Executivo e ao Judiciário.
Hoje, essa participação do patronato brasileiro no encaminhamento, estudo e solução dos problemas que lhe são afetos se fazem através das Confederações Nacionais da Indústria, do Comércio, dos transportes marítimos, terrestres, fluviais e aéreos, das Comunicações e Publicidade, das Empresas de Crédito, da Educação e Cultura e das Profissões Liberais. É por intermédio desses organismos sindicais que o Estado ausculta os anseios da empresa privada nacional e por via deles, é que esta deverá se fazer atuante e cada vez mais presente no diálogo a ser mantido com os Poderes Públicos. Daí, sem dúvida, a necessidade do seu fortalecimento. Este fato não passou despercebido ao espírito arguto do Prof. CELESTINO RODRIGUES, festejado autor do livro “BRASIL 74” que além de assinalar ser, deficiente o diálogo em apreço, afirma que pela sua deficiência responde, também, o despreparo técnico de nossas entidades de classe, sugerindo assessorias mais adequadas para que possa haver melhor discussão ou contestação. Acreditamos ser possível, realmente essa melhoria, e pretendemos fazer dela uma das metas de nossa gestão. Todavia, não podemos deixar de proclamar que, em nosso Estado, a Federação das Indústrias sempre recebeu, da parte do Governo do Estado, bem assim dos organismos oficiais, o melhor atendimento, num diálogo sempre franco e positivo. E, por isto mesmo nos parece oportuno, nesta solenidade, que marca o início do nosso mandato, ressaltar o patriótico esforço do Governador César Cals, próximo a deixar a direção do Estado, na sua ingente batalha pelo desenvolvimento do Ceará. Assim não podemos fugir ao dever cívico de aplaudir o “Modelo de Desenvolvimento do Ceará”, obra através da qual o nosso Governante apresentou aos seus coestadanos e aos pósteros a síntese de seus trabalhos, a imagem do seu idealismo construtivo, submetendo-se a crítica sadia de todo o povo cearense. Não olvidaremos os seus apelo. E diremos que o diagnóstico ali apresentado, face à configuração atual de nossa geografia econômica, levando em conta, em primeira linha, a nossa histórica vocação agropecuária a cujas estruturas se vinculam mais de 60% de nossa população, produzindo mais de 40% de nossa renda global, correspondeu perfeitamente não só aos superiores interesses do Estado, como um todo político, assim também aos fins últimos de sua industrialização, que não poderia pelo menos nos tempos atuais, fugir à vinculação às matérias-primas produzidas no setor primário.
ParaIelamente, Governo e classes empresariais estiveram atentos ao fortalecimento do nosso parque industrial. Dos trabalhos de infra-estrutura do Distrito Industrial de Fortaleza e a cooperação do Poder Executivo no sentido de dar condições para a implantação dos projetos aprovados pela SUDENE, triênio de 1971/73, a criação do Pólo Têxtil, o desenvolvimento da indústria da castanha, com 16 projetos aprovados, a indústria de couros e peles, entre outras iniciativas valiosas e pioneiras do empresário cearense, – são fatos que atestam a comunhão de esforços para o desdobramento de nossas indústrias. Há que lembrar, nesta oportunidade, o prometido Instituto Tecnológico e, o Centro de Habilitação Profissional, órgãos que, em pleno funcionamento, proporcionarão os melhores recursos à empresa privada cearense.
O otimismo e o reconhecimento pelo trabalho realizado não nos deve, porém, obumbrar a visão racional. O Ceará se coloca, em números absolutos no 10º lugar entre os demais Estados da Federação, precedido de Santa Catarina e seguido de Goiás, mas nossa renda per capita de Cr$ 306,00 se enquadra 17° lugar seguindo-se-lhe a Paraíba, Alagoas, Maranhão, e Piauí. Estamos na zona do Brasil subdesenvolvido, bem distante da média máxima de Cr$ 1.730,00 e próxima da média mínima de Cr$ 198,00 do nosso heróico Piauí.
Os projetos já aprovados pela Sudene, no período de 1963/72, geraram apenas 25 mil empregos para toda a região nordestina, o que é uma gota d'água no oceano de nossas necessidades.
Diante dessa realidade contundente, há que se reconhecer o muito que nos cabe fazer. No limiar, pois, de nossa nova gestão, manifestamos as justas esperanças de todos os empresários cearenses no trabalho árduo e patriótico dos nossos Governantes, tanto na área federal como no Estado, no sentido de consolidar as posições já alcançadas, e ultrapassá-las o mais rapidamente possível, a fim de que o Ceará possa assumir, entre os Estados da Federação, a posição de relevo que a sua gente está a merecer.
Não regatearemos esforços nesse sentido. E roguemos a Deus, que, apesar das imensas dificuldades que a situação internacional acena, em decorrência da conjuntura da inflação que ameaça a estabilidade dos preços e a· produção agrícola, em todos os países, possa o Brasil, num regime de paz e de estabilidade política, vencer mais essa etapa de sua história, como há feito nestes últimos dez anos, para a felicidade de nossa Pátria.
Meus senhores e minhas senhoras:
A Federação das Indústrias, no Estado do Ceará, sentindo-se imensamente honrada com a presença de todas as autoridades e convidados especiais, agradece a contribuição que trouxeram para o maior brilhantismo desta solenidade, e lhe diz, penhoradamente OBRIGADO
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