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DISCURSO PROFERIDO PELO PRESIDENTE DA FIEC, FRANCISCO JOSÉ ANDRADE SILVEIRA, POR OCASIÃO DA OUTORGA DA MEDALHA DO MÉRITO INDUSTRIAL, AO EXMO. SR. MINISTRO MÁRIO HENRIQUE SIMONSEN
Fortaleza, 16 de julho de 1976



AO MINlSTRO

MÁRlO HENRlQUE SIMONSEN (II)

Meus Senhores:

A classe industrial cearense, que acaba de apresentar a Vossa Excelência, Senhor Ministro, as reivindicações mínimas que julga oportunas à dinamização do desenvolvimento do Estado, presta agora, uma homenagem ao eminente professor e seu ilustre amigo. É um preito de reconhecimento a uma inteligência jovem, robusta e profundamente identificada com os problemas e a realidade nacional. Um Ministro cuja capacidade de trabalho só se equipara ao extraordinário sentimento de brasilidade que o identifica e o incentiva na hora difícil por que estamos passando.

Ainda está bem viva dentro de nós a singular receptividade que sempre merecem de Vossa Excelência os pleitos do interesse do Ceará e do Nordeste. Há bem pouco tempo, assistimos a mais uma prova de sua sensibilidade para os problemas da economia nordestina, expressa objetivamente pela linha especial de crédito deferida a vários Estados da Região e com a qual puderam as indústrias melhormente suportar a crise ainda mais acentuada em 1975, conseqüência da recessão que se abateu sobre o mundo ocidental no ano anterior.

Se, em condições normais, grandes são os percalços com que se defrontam indústrias nordestinas, particularmente no Ceará, a importação de conjunturas desfavoráveis torna nossa incipiente economia ainda mais vulnerável e merecedora de atenções especialíssimas. Vossa Excelência soube adotá-las na hora certa, evitando um colapso sem precedente nas economias pública e privada do Ceará. E nós aqui estamos para reconhecer seu trabalho e sua compreensão.

Mostrou Vossa Excelência, além dos méritos reais que o distinguem, naquele episódio, o valor de um trabalho consciente e bem dirigido de mobilização de nossas verdadeiras lideranças, a outorga da medalha do mérito industrial que Vossa Excelência irá receber, representa a vontade unânime de toda classe empresarial do Ceará e das suas lideranças.


Senhor Ministro:

Não é sempre que recebemos a visita de Ministros da República. Essas ocasiões devem, portanto, ser aproveitadas para o diálogo franco e produtivo entre Governo e Iniciativa Privada.

Com quanto muito se tenha falado sobre as gritantes desigualdades entre as diversas regiões do País, nunca é demais que a elas se retorne. Silenciar poderia parecer desconhecê-las, admiti-las ou tê-las como desaparecidas, quando, em verdade assistimos ao seu contínuo agravamento.

São oportunas e louváveis – como o foi a intervenção de Vossa Excelência – as medidas emergenciais para o equacionamento de determinada situação: porém, paralelamente ao tratamento terapêutico de choque, nossos problemas, que são crônicos, exigem profilaxia de longo prazo, de mudança de comportamento do poder público, de reformulação na ótica com que é olhado o Nordeste como um todo, e, mais particularmente, o Ceará.

O Banco do Nordeste e a SUDENE ainda hoje, passados vinte e quinze anos, respectivamente, de sua criação, continuam sendo nossas grandes conquistas, em termos de tratamento a que antes me referi. Ali permanece o Nordeste, só que progressivamente vendo enfraquecerem os únicos instru­mentos de que dispõem, eles que foram e são os responsáveis pelo alento que nos anima e nos animará sempre a trabalhar pelo desenvolvimento do Nordeste do Brasil.

A criação do FINOR, em verdade, veio agilizar de maneira notável os mecanismos da SUDENE. Porém o FINOR – não obstante o barateamento que causou nos custos de implantação dos projetos – representa inovação de natureza adjetiva, sendo que substantivamente os seus recursos continuam escassos para o acompanhamento de ”demarrage". Pulverizados os recursos que originalmente Ihe pertenciam e dilatados os raios de sua abrangência, para a SUDENE, mister se faz que vultosas verbas orçamentárias, lhe sejam efetivamente destinadas.

Dá mesma forma, ao BNB devem ser proporcionadas novas fontes de recursos para o atendimento dos reclamos de créditos da Região, a juros compatíveis com nossa capacidade de pagamento.

Fortalecer a SUDENE e o BNB é questão de patriotismo que se impõe.

Diagnosticado está o Nordeste de há muito. A regras do desenvolvimento econômico devem se adequar às peculiaridades das várias regiões – em um País continental e diversificado como o nosso. Embora os parâmetros que informam a decisão econômica possam ser os mesmos, os destinatários dessas decisões são os mais diferentes, merecendo, por isso, cada qual, diferenciação de enfoque, e de tratamento, compatíveis com as suas realidades econômicas sociais.

Sabemos das necessidades de todos os brasileiros que também somos. Jamais o Nordeste verberou contra as grandes obras públicas com que foram premiadas outras regiões. Nem com os incentivos e barreiras alfandegárias, pelos quais todos pagamos, concedidos com a forma de viabilizar a industrialização brasileira. Apenas não podemos esquecer que mais que ninguém também necessitamos de tratamentos diferenciados.

Muito se falou - e pouco se ouviu – a respeito da sistemática do imposto de circulação de mercadorias, sugadouro das parcas poupanças regionais - Estados consumidores que somos. A sua manutenção é responsável pela continuada transferência de recursos, inibindo os Governos Estaduais do Nordeste a se arrojarem em empreendimentos de maior envergadura. Não se justifica a desigualdade de tratamento entre Estado consumidor, quando se sente, no caso concreto brasileiro, que o consumidor é que deve ser subsidiado pelo produtor, e nunca o inverso de posições que vimos assistido.

Ao brasileiro nunca faltou a criatividade suficiente no encontrar modelos e mecanismos para o rompimento de seus entraves, inclusive dos de natureza econômica. Que essa mesma capacidade de imaginação criadora possa apontar novos caminhos ao Nordeste e ao Ceará, fazendo com que possamos acompa­nhar o progresso de nossos irmãos do sul.

Senhor Ministro:

Há pouco a classe empresarial do Ceará encaminhou a Vossa Excelência memorial onde alguns pleitos, fruto de tentativa de também sermos criativos, lhe são apresentados por conhecê-lo tão bem e por isso mesmo admirá-lo, esperamos possam eles ser atendidos, independentemente de outras medidas que seu largo tirocínio achar por bem adotar.

O que queremos, Senhor Ministro, com sinceridade, é ver atingido o desiderato maior almejado por toda a nacionalidade: o progresso do Brasil e a felicidade de seu povo