Núcleo de Economia

Informativo da Federação das Indústrias do Estado do Ceará • 23 de setembro de 2016 • www.sfiec.org.br

Avanços e riscos de um novo
modelo de ensino médio

No Brasil, metade daqueles que começam a estudar, não concluem o ensino médio, e a evasão é expressivamente maior exatamente nesse nível. Para agravar o quadro, há uma nítida falta de qualidade – os exames comprovam a reduzida aprendizagem, especialmente em matemática e ciências – e um claro distanciamento entre os conhecimentos exigidos pelo mercado de trabalho e boa parte dos conteúdos vistos em sala de aula. Nessa direção, reside exatamente na menor oferta de ensino que promova conhecimento mais específico, diretamente aplicável à realidade empresarial, uma das razões do baixo desempenho da indústria brasileira, uma vez que limita a capacidade de inovar das empresas e a produtividade, com grandes impactos sobre a competitividade das empresas.
Procurando soluções para superação dessa realidade, o governo federal apresentou nesta semana um plano para o ensino médio, buscando torná-lo mais atraente para os estudantes. Para tanto, a aposta se baseia na ampliação da carga horária (turno integral) e em alterações na estrutura curricular – definições de áreas comuns e áreas vocacionais -, à exemplo do que já ocorre em diversos países desenvolvidos.
Uma novidade adicional é a possibilidade de atuação como professores de profissionais “com notório saber reconhecido pelos respectivos sistemas de ensino”. A intenção é enfrentar a dificuldade de se encontrar professores qualificados em determinadas regiões. Entretanto, não está claro, ainda, como será determinado se um professor tem notório saber em uma área ou não. Em alguns estados americanos, isso é feito por meio de um teste simples, com determinada nota de corte.

Naturalmente, a simples flexibilização e a ampliação do tempo do aluno na escola não irão resolver problemas estruturais do ensino médio, como, entre outros, infraestrutura das escolas, lotação de salas, professores desestimulados e disciplinas separadas da realidade do aluno. Porém, a reforma encaminhada pelo governo federal é necessária e o seu desenho abre possibilidades para uma melhor discussão sobre os grandes entraves desse nível de ensino.

Avanços

  • A proposição de uma área comum e de áreas vocacionais está em sintonia com o que é praticado em diversos países desenvolvidos.
  • Aumento de carga horária: de 800 para 1.400 horas anuais. Há evidências empíricas de que maior carga horária melhora desempenho dos alunos.
  • A flexibilização de disciplinas será atraente e dará autonomia aos estudantes.
  • Por não existir um modelo único, é permitido, a cada rede de ensino, uma adequação às suas particularidades

Preocupações

  • A escolha do aluno pode se limitar às disciplinas em que ele tem alguma afinidade. Logicamente, seu aprendizado pode ficar prejudicado nas outras áreas, e isso pode ser um diferencial negativo na disputa por uma vaga no ensino superior.
  • Além do aumento do custo para se ter o turno integral, outras preocupações são o tempo e a qualidade das atividades de instrução – se o ensino continuar com baixa qualidade, não adiantará aumentar o tempo de permanência do aluno na escola.
  • Uma maior atenção terá que ser dada à formação de professores, uma vez que isso é imprescindível para avanços no ensino médio, especialmente neste formato, mais flexível.
  • Possibilidade de se abrir mão da Educação Física: esporte é importante para melhorar a autoestima e ampliar a concentração e a memorização. Países como a Finlândia – referência mundial em educação – transferem horas de estudo para horas de práticas esportivas.